MARCELO MÁRIO MELO -
CALENDÁRIO DA MENTE
(À minha filha Lara)
Relógio é tique-taque
pontuando sempre em frente
trilho trem escadaria
passos em trilha ascendente
agenda hora minuto
noite/ dia renitente
No desrelógio da mente
os ponteiros alterados
dão meia volta vacilam
taque-ticam magoados
tateiam horas instantes
em novelos congelados.
Assim o tempo da mente
tem seu proprio fuso-horário
feito com agenda de névoa
ponteiros do imaginário
quadrantes de sentimento transgredindo o calendário.
***
O PRESO E O ESPAÇO
O preso aprende
a ponderar o espaço
em compassos
de pulso encarcerado.
Espaço
de um vão
para dormir e respirar
em compulsória companhia
Espaço
que abrevia o calendário
em vias de visita semanal
contando um mês
de quatro dias.
Espaço do abc do não
do sub
do tentáculo.
Espaço
que veste em cinza
o arco-íris.
Espaço
que resseca
gota a gota
e empedra o pranto.
Espaço
em que latejam
na fronteira
a morte
em tela cheia
e o bicho da seda
clandestino.
Espaço
de gongorra
entre o mito
e a soma algébrica.
Espaço
de escalar avesso
abismo
ou soterrar.
Espaço
de canto em sussurro
luz de lanterna
sonho cifrado
flor na estufa.
Espaço que ensina
a guardar no porta-joia
identidade
vaga-lume
fio de sol
e sal de liberdade.