Por JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
A cúpula da Câmara
dos Deputados está irremediavelmente podre. Aqueles parlamentares de destaque
que, por artimanhas diversas, haviam assumido no passado posições decisivas nas
mesas e nas lideranças deixaram-se chafurdar na lama de Eduardo Cunha e vão para
o esgoto com ele.
Para resgatar a honra do Legislativo será necessário que
deputados de perfil mais modesto, porém operativos, geralmente alijados de
posições de liderança, assumam agora um papel decisivo na reestruturação do
Parlamento.
O que se vislumbra
à frente é uma rebelião do Baixo Clero na Câmara. Isso significa que centenas
de parlamentares que não se confundem com a corrupção reinante na cúpula do
sistema terão de se preparar para assumir o comando da Casa, caso não queiram
se deixar confundir com os corruptos. Na verdade, seja por convicção moral,
seja porque o sistema não lhes permitia acesso ao comando da roubalheira,
dezenas, centenas de deputados estão levando a fama da corrupção sem tê-la
cometido.
É a partir da
própria ação parlamentar regeneradora que o país superará o estigma disseminado
pela sociedade segundo o qual todo político é ladrão. O Supremo Tribunal
Federal contribuiu decisivamente para essa generalização absurda ao fazer o
julgamento-espetáculo do mensalão, no qual meras irregularidades de campanha
política, o chamado caixa 2, foram tratadas como crime, e altas personalidades
do governo anterior receberam penas desproporcionais de prisão. A propósito:
com todo o show, nunca disseram quanto foi a corrupção do mensalão!
Dado que nenhum
país democrático pode viver sem um sistema político-parlamentar, aposto na
regeneração a despeito das investidas do Judiciário em criminalizar até mesmo a
nomeação de dirigentes de estatais antes da comprovação de seus desvios de
conduta, como ocorre no escândalo da Petrobrás. Ou será isso ou um aventureiro
qualquer, ao estilo de Mussolini, Hitler, Franco ou Salazar se apropriará das
rédeas do poder a fim de instituir um regime “limpo” segundo a cartilha do juiz
paranaense Sérgio Moro.
Espero que a
rebelião do Baixo Clero nos leve a um novo tempo. São parlamentares mais
jovens, idealistas, honestos, menos viciados nas artimanhas do poder. Com eles
talvez possamos construir e reforçar a Aliança pelo Brasil, movimento que se
destina justamente a usar a política como um instrumento de transformação da
política econômica, promovendo uma verdadeira ruptura com o neoliberalismo
imperante. Este último, como se sabe, não mudou nada a despeito da substituição
de Joaquim Levy por Nélson Barbosa.
O sentido antes
pejorativo da expressão Baixo Clero tornou-se um sinal de esperança. Não há o
que se esperar das cúpulas partidárias e das cúpulas legislativas. Entretanto,
é importante assinalar que nenhum processo de transformação verdadeira dispensa
algum grau de liderança. É preciso que, no Baixo Clero, surjam condutores
confiáveis da regeneração do Legislativo a partir de um reconhecimento
recíproco de novas lideranças. Por aí passa a salvação política do país. Por aí
passa a salvação do próprio Congresso.
*Economista, doutor pela
Coppe/UFRJ, autor de “Os sete mandamentos do jornalismo investigativo”, Ed.
Textonovo, SP, 2015.



