Por
LÚCIO FLÁVIO PINTO -Via blog do autor -
O grupo JBS, dono da marca Friboi, veiculou três
páginas de anúncio na edição da revista Veja desta semana. Prossegue na busca pela
credibilidade, iniciada – e mal iniciada – com a contratação de Roberto Carlos
para garoto-propaganda dos seus comerciais na televisão. Justamente um
vegetariano devia fazer a propaganda do consumo de carne. O golpe de marketing
deu efeito contrário.
A empresa recorreu então ao ator Tony Ramos, que
tem imagem positiva junto ao público. O desempenho foi melhor do que o do
censor de biografias não autorizadas, antigo “rei da Jovem Guarda”.
Mas aí surgiu a notícia de que o verdadeiro dono
da corporação era Lulinha, o filho mais velho do ex-presidente. A história não
tem base factual e, ao menos por enquanto, não passa de boato. Mas os
executivos da Friboi tiveram que vir a público para desfazer a onda.
No site da empresa pode-se acompanhar sua
impressionante trajetória, que a colocou como o maior grupo privado brasileiro
em faturamento e a maior processadora de carnes do mundo. A história começou em
1953, quando seu fundador, José Batista Sobrinho, “iniciou as operações de uma
pequena planta com capacidade de processamento de cinco cabeças de gado por
dia, na cidade de Anápolis, em Goiás, na região Centro-Oeste do Brasil”.
De 1970 a 2001 (antes, portanto, de Lula assumir
o governo), a JBS “expande significativamente as operações no setor de carne
bovina no Brasil. Por aquisições e investimento nas unidades já existentes, a
companhia alcançou a capacidade de abate diária de 5,8 mil cabeças”, diz o
site.
Entre 2001 e 2006, já com Lula no poder, o grupo
aumenta mais de três vezes a sua capacidade de abate, para 20 mil cabeças por
dia. Em 2005, inicia seu processo de internacionalização e adquire 100% do
capital social da Swift-Armour, maior produtora e exportadora de carne bovina
na Argentina.
Em 2007 a JBS se tornou “a primeira empresa no
setor frigorífico a abrir seu capital na bolsa de valores no Brasil”. Nesse
mesmo ano, expandiu suas operações ao adquirir o frigorífico americano Swift
Company. Conseguiu assim penetrar nos mercados de bovinos e suínos nos Estados
Unidos e na Austrália.
Em 2008 prosseguiu a sua prodigiosa expansão:
comprou a Tasman Group, na Austrália, a Smithfield Beef, divisão de bovinos da
Smithfield Foods, nos Estados Unidos, e os confinamentos da Five Rivers, com
capacidade para engordar 2 milhões de animais por ano.
Em 2009, incorporou o frigorífico Bertin, até
então segundo maior no Brasil, e assumiu o controle acionário da Pilgrim’s
Pride, ingressando no mercado norte-americano de aves. Além disso, ampliou sua
capacidade diária de abate no Brasil em 5.150 bovinos, com a aquisição de 5
novas unidades.
O rosário de incorporações teve continuidade em
todos os anos seguintes, até que a sua capacidade anual de processamento de
bovinos no Brasil chegou a dois milhões de cabeças e se transformou na segunda
maior plataforma brasileira de produção e distribuição de produtos de valor
agregado.
Mas ela também é a líder nacional em acidentes de
trabalho em frigoríficos. Dados inéditos obtidos pela revista eletrônica Pública junto ao Ministério da Previdência Social,
por meio da Lei de Acesso à Informação, mostram que a JBS “foi a campeã em
comunicados de acidentes de trabalho, de 2011 a 2014, somando-se os setores de
abate de gado e de fabricação de produtos de carne. No setor de abate de aves –
em que começou a se expandir nos últimos dois anos, com a compra da Seara e de
outros frigoríficos –, a empresa já subiu para o segundo lugar em 2014 e ficou
quase empatada com a BRF (antiga Brasil Foods)”.
O lucro líquido do grupo no ano passado foi de
pouco mais de dois bilhões de dólares, com vendas somando 120 bilhões de reais.
Certamente esses resultados não seriam tão estupendos se não houvesse o suporte
que lhe deu o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. O BNDES
concedeu R$ 8,1 bilhões para que o grupo pudesse fazer as aquisições que
realizou no mercado internacional. Em retribuição, a JBS foi quem mais fez
doações na campanha eleitoral do ano passado: R$ 366,8 milhões foram
transferidos do seu caixa para candidatos e partidos políticos.
Agora, também para a imprensa. Talvez para
anestesiar quem se puder se interessar por saber não se Lulinha é o dono do
grupo, mas apurar se foi boa, legal e salutar a aplicação de tanto dinheiro
público na empresa, feito pelo bem da nação e não numa troca de favores,
gentilezas e outras coisas mais ao poder concedente. Isso, nem Roberto Carlos
nem Tony Ramos podem fazer. A tarefa é da opinião pública.



