MIRANDA SÁ -
“Vale, vale tudo/ Vale, vale
tudo/ Vale o que vier/ Vale o que quiser”
(Tim Maia)
Na minha adolescência havia
lá na Avenida Passos, no Centro do Rio, um enorme toldo, tipo circo, exibindo
enormes painéis com musculosos lutadores se enfrentando. Dentro uma
arquibancada de madeira cercava o ringue onde se ocorriam as lutas do “Vale
Tudo”. As torcidas se dividiam entre os atletas, pouco ligando se as disputas
fossem ‘marmeladas’ ou não.
Assistia-se uma mistura de
boxe, capoeira, jiu-jítsu, e may-tai A meninada sabia de cor o nome dos golpes
de que se valiam os lutadores para derrotar os adversários, armeloque, chutes
frontais e circulares, estrangulamento, jabs, ‘pegada pelas costas’ e o
triângulo, que envolvia as pernas no pescoço do outro, imobilizando-o com o
próprio braço.
Apresentavam-se o Homem
Montanha, um cara barbudo, enorme, cuja atuação era violenta; o Senegalês, um
negão magro e alto, especialista em derrubar o adversário com rasteiras, o
Índio Moicano, que só lutava agarrado no chão com o contendor, e entre muito
outros, tinha um francês, o Chevalier, cheio de ademanes, que subia ao ring com
um roupão de cetim dourado jogando rosas para as mulheres presentes… Era um
show.
O “Vale Tudo” daquele tempo
foi sucedido pelas lutas de UFC e MMA que estão na moda, levando milhares às
arenas e milhões à televisão. Embora procurando viver sempre a realidade, ainda
não me dispus a assisti-los, mas os seus aficcionados garantem ser uma disputa
‘prá valer’.
Não sei qual das modalidades
Dilma Rousseff se referiu como ‘vale tudo’; o espetáculo das lutas
sincronizadas com um final combinado, ou está sugerindo o confronto político
dos 91% que condenam o PT-governo contra os 9% de seus seguidores fanáticos,
cegos para a incompetência e a corrupção.
Foi com seu conhecido
despreparo e engasgos, que discursando no Maranhão, Dilma falou “Vamos repudiar
sistematicamente o ‘vale-tudo’ para atingir qualquer governo, seja o governo
federal, seja o governo dos estados, dos municípios”.
Isolada, sem rumo, biruta de
aeroporto, a Presidente é puxada pelo marketing. Como seu marqueteiro esgotou o
arsenal de engôdos, restou-lhe apenas uma exibição semântica. Criações do tipo
da novilíngua que Orwell registrou no sistema ditatorial de ‘1984’. Para ela,
‘Erros’ são as ilegalidades cometidas pelos companheiros; ‘Concessão’ é a
privataria petista; ‘Oscilação’ é o déficit na balança comercial.
Ultimamente, a palavra mais
repetida é ‘Travessia’ apelo para dar esperança ao povo de que é passageira a
crise criada pela incompetência e a corrupção lulo-petistas. Agora veio com a
sua arrogância resmungona, o ‘vale tudo’, pura jogada de marketing.
Dilma acusa a oposição de
ameaçar a governabilidade que já não existe, e tenta estender o repúdio que
recebe do povo brasileiro aos governadores e prefeitos, que não têm qualquer
responsabilidade sobre a desastrada política econômica que mergulhou o País na
inflação e esvaziou os bolsos do trabalhador.
Este blá-blá-blá demagógico
é uma nova roupagem das fantasias cacarejadas na campanha eleitoral e enganou
um caminhão de idiotas, incapazes de enxergar a realidade. O discurso
destrambelhado é uma palha de salvação, a última esperança do afogado.
O ‘Vale Tudo’ é uma tática
também para fugir à realidade e escapar das manifestações de protesto; é o mote
das reuniões com os movimentos sociais aparelhados, da UNE ao MST, e é quase
certo que por debaixo do pano com os subversivos ‘exército de Stédile’, os
Black-blocs e aquela brigada de refugiados provocadores que a CUT usou nas
agressões da calçada da ABI.
O ‘Vale Tudo’ de Dilma é uma
conversa de vigarista para seduzir as massas ignaras através de fraudes, uma
marca registrada do narco-populismo. Enganou os idiotas por muito tempo, mas,
felizmente, não é para sempre.



