Por ZÉ
MARIA Via Congresso em Foco -
Presidente
do PSTU questiona decisão do Psol e do MTST de convocarem para manifestações contra a “direita” e o “ajuste fiscal” em
contraponto aos protestos de domingo. Para ele, isso é fazer o jogo do governo,
que o partido e o movimento tanto criticam.
Em
política, como na vida, há uma regra básica: não se pode tomar as pessoas e
instituições pelo que elas dizem de si mesmas, e sim pelo que realmente são. E
o que define o que realmente são – pessoas e instituições – é a sua prática, e
não a propaganda que fazem de si.
Começo
essa nota com essa reflexão porque me parece necessária no momento. Passadas as
manifestações de 16 de agosto, convocadas e voltadas para fortalecer a oposição
burguesa encabeçada pelo PSDB, instala-se na esquerda uma polêmica sobre os
atos convocados para 20 de agosto.
As
direções do Psol e do MTST, que participam da convocação destes atos, reclamam
dos setores “governistas” que teimam em dar um caráter de defesa do governo a
esta atividade. A direção do MTST vai mais longe e critica os “sectários” que
estariam usando a situação para fazer confusão e caracterizar estes atos como
governistas.
Não
se justifica a reclamação. A decisão de organizar atos “por direitos, liberdade
e democracia” e “contra a ‘direita’ e o ajuste fiscal”, em contraponto às
manifestações convocadas pelo PSDB (16/8), junto com o PT, CUT, MST, CTB, UNE,
não poderia dar outro resultado. Não se trata de uma manifestação como a que
fizemos junto com estas entidades em 29 de maio, que foi contra o ajuste fiscal
e, por esta via, contra o governo. O que está sendo convocado agora é um ato
contra a “direita” que, por esta via, ainda que critique o governo é um ato
para defendê-lo.
Neste
contexto, nada mais normal do que dizerem que os atos são para defender o
governo. É esta a posição destas organizações. E é este o caráter destes atos
desde o início.
Mesmo
que houvesse ingenuidade em política, seria subestimar a inteligência dos
dirigentes do Psol ou do MTST afirmar que teriam sido enganados no processo. O
que houve foi uma escolha política destas direções – de construir um ato com o
governismo que tivesse como objetivo central enfrentar o tal “golpe da
direita”. E isto colocou, sim, suas organizações no campo da defesa do governo
Dilma.
Se
em nenhum momento esta história do “golpe da direita” teve algum sentido, menos
ainda tem agora, quando o grande empresariado, representados pela Fiesp e pela
Firjan, o sistema financeiro, representado pelo presidente do Bradesco e a
própria mídia, representada pela Rede Globo, fazem questão de vir a público
defender a “governabilidade”.
Ao
ser colocada em prática, a escolha política dos companheiros dá nisso aí que
todos estão vendo: um ato para defender o governo, o mesmo governo que ataca os
direitos dos trabalhadores para atender os interesses dos bancos, das
multinacionais e grandes empresas. Um escândalo para qualquer ativista que
esteja minimamente sintonizado com a luta dos trabalhadores deste país. Por
isso a crise.
E
é preciso tirar as conclusões corretas de tudo isso. É preciso romper com os
atos do dia 20 para construir a luta contra o governo e contra a oposição
burguesa.
A
CSP-Conlutas e as organizações do Espaço de Unidade de Ação, onde se inclui o
PSTU, acreditam que na polarização governo Dilma de um lado e oposição burguesa
de outro é preciso lutar contra os dois, e construir uma alternativa de classe
para a crise que vive o país. Com esse entendimento, chamamos a não ir nem ao
ato convocado para fortalecer a oposição burguesa (16/8), e nem ao que está
sendo convocado para defender o governo Dilma (20/8).
Os
trabalhadores, a classe operária em especial, estão indignados com o governo
Dilma e com toda essa corja que, no Congresso Nacional, ajuda o governo a
atacar os seus direitos. Precisamos oferecer a eles uma alternativa de classe,
de luta contra o governo e contra a oposição burguesa. É isso que estamos
construindo e que deve promover uma primeira manifestação nacional em setembro.
Diferente do que diz a liderança do MTST, isso não é “sectarismo”. É coerência.
Se trata de levar à prática aquilo que se diz defender.
O
dilema que vive a direção do MTST e do Psol não é com os “governistas” ou
“sectários”. É um dilema consigo mesmo, e que se resolve com coerência. Se, de
verdade, os companheiros não querem fortalecer um ato que é para defender o
governo, então devem romper com a manifestação de 20 de agosto. Não adianta
meias medidas – fazer um ato dia 20 em outro horário e local como se pretende
em alguns lugares. A simbologia do dia 20 já está definida, e é de defesa do
governo. É preciso romper com essa localização política.
Chamamos
mais uma vez ao Psol e ao MTST: venham construir, junto com a CSP-Conlutas e as
entidades do Espaço de Unidade de Ação, um processo de mobilização nacional
contra o governo e contra a oposição burguesa. Esse é o caminho por onde, de
verdade, podemos derrotar este governo e seu ajuste fiscal, e também a oposição
burguesa. Nossa unidade permitirá fortalecer ainda mais esta luta.
O
PSTU defende esta alternativa porque acredita que é nesse caminho que
construiremos uma saída para a crise na perspectiva da classe trabalhadora que,
portanto, precisa ser contra o governo Dilma e o PT e também contra a oposição
burguesa de Aécio Neves do PSDB, Eduardo Cunha e Temer, do PMDB. Nossa classe
precisa lutar para livrar o país de todos eles o quanto antes. Precisa de um
governo dos trabalhadores, sem patrões, que mude o Brasil, acabando com o reino
das multinacionais, dos bancos e das grandes empresas.
Se
as direções do Psol e do MTST decidem permanecer no campo da manifestação do
dia 20, não há como fugir do raciocínio que está no início desta nota. O que os
companheiros fazem, do ponto de vista prático, é muito mais importante que
aquilo que dizem de si mesmo ou de suas intenções. Neste nível da política não
existe ingenuidade e tampouco vale o que se tem a “intenção” de fazer. Valem os
gestos políticos concretos, e a que alternativa eles fortalecem.