Via Pílulas Diárias -
Em 1963, uma bomba explodiu
dentro de uma igreja batista no Alabama, Estados Unidos. Quatro meninas negras
morreram.
Furiosa, Nina Simone compôs “Mississippi Goddam”, referindo-se a um dos estados
americanos mais racistas. Nascia a guerreira. Explodia a raiva que ela
acumulava desde que foi rejeitada como pianista clássica por ser negra.
A partir daí, Nina engajou-se firmemente na campanha pelos direitos civis e
contra o racismo. Passou a compor canções de denúncia e protesto. Citava Luther
King, Malcolm X e buscava inspiração em organizações como a dos Panteras
Negras.
Foi o bastante para que a indústria cultural começasse a fechar-lhe as portas.
O sucesso estrondoso da musicista de jazz não resistiu a seu engajamento
político. Mas não teve arrego. “Como você pode ser um artista e não refletir os
tempos? Para mim, essa é a definição de um artista”, afirmou certa vez.
Antes do Alabama, as ações da Ku-Klux-Klan e os corpos negros pendurados em
árvores. Depois, o assassinato de King e Malcolm X. Em 1992, Las Vegas
literalmente pegou fogo porque sua população negra não aguentava mais o racismo
policial.
Nina não chegou a ver as recentes revoltas contra o ódio racial em Fergurson.
Não cantou com raiva pelos corpos negros que tombaram novamente em uma igreja,
em Charleston. Morreu em 2003, longe do sucesso, cheia de dignidade e na
memória de todos os que se levantam contra o racismo.
A palavra “goddam” costuma receber traduções suaves como “droga” ou “maldição”.
Mas a expressão mais adequada e que traduz toda a indignação e fúria que o
racismo merece, sem dúvida, é “puta que o pariu!”
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