Por FÁTIMA LACERDA - Via Agência Petroleira de Notícias -
O Ministro do Trabalho, Manoel Dias, comparou o atual
momento político com o período que antecedeu o suicídio de Getúlio Vargas, em
1954, e o Golpe de 1964. Ele afirmou que os governos populares de Getúlio
Vargas, João Goulart, Lula-Dilma, empenhados em reformas sociais, incomodam
muito às elites conservadoras que não hesitam em recorrer ao golpismo. Manoel
Dias disse que, como no passado, a principal disputa envolve o petróleo e a
Petrobras.
O ministro teceu comentários sobre a conjuntura
nacional durante audiência realizada no último dia 5, quando recebeu em seu
gabinete, em Brasília, a Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), o Clube de
Engenharia e a Associação de Engenheiros da Petrobrás (Aepet). O encontro foi
para buscar canais de diálogo com o governo federal, objetivando a defesa do
caráter estatal da empresa e a manutenção dos empregos.
Os representantes das entidades de petroleiros e
engenheiros questionaram a venda de ativos lucrativos, como a BR Distribuidora,
criticaram o PLS 131, do senador José Serra (PSDB-SP), que retira a Petrobras
da condição de operadora única do pré-sal, e enfatizaram a retomada das obras
do Comperj e refinarias, para que o país retome o crescimento e evite o
desemprego em massa.
Francisco Soriano, da FNP, ressaltou a disposição de
todos os petroleiros, da FNP e da Federação Única dos Petroleiros (FUP), de ir
às últimas consequências para defender a Petrobras, contra políticas que
fragilizam a empresa, onde se inclui a venda de ativos importantes. A
realização de uma greve por tempo indeterminado foi aprovada em Congresso pelas
duas federações.
O Ministro Manoel Dias recebeu das mãos de Francisco
Soriano a carta assinada pelas três entidades, contendo as principais
reivindicações dos trabalhadores. Manoel Dias declarou compartilhar das mesmas
preocupações e comprometeu-se a ser porta-voz das propostas contidas no
documento, junto à presidenta Dilma Rousseff. A conversa, presenciada por
vários assessores, durou cerca de uma hora e quarenta minutos.
Apesar do clima cordial, houve embate de opiniões em
alguns momentos. O ministro disse que tem dialogado frequentemente com o
presidente da Petrobras e que Aldemir Bendine não cogitaria em vender os ativos
que vêm sendo citados pela imprensa: “Isso não está em discussão. A maioria das
notícias divulgadas na mídia é pura especulação” – afirmou.
Nesse ponto, foi contestado pelo representante da
Aepet, Fernando Siqueira, que apresentou relatórios internos sobre o plano de vendas
de ativos para 2015-2016. “Nem tudo o que a imprensa diz é especulação,
insistiu Siqueira. Se é, precisa ser desmentido[AN1] ”.
Já o ministro manteve o ponto de vista inicial. Disse
que a presidente Dilma Rousseff assim como ele próprio, originários do PDT, são
herdeiros do nacionalismo de Leonel Brizola e que é preciso confiar na firmeza
da presidente: “Existem informações que são confidenciais. A presidente vai
defender a Petrobras até o fim. Se a Petrobras perde, o seu governo também
perde”.
O presidente do Clube de Engenharia, Francis Bogossian,
ex-funcionário da Petrobras e atualmente empresário do setor petróleo, lamentou
a recessão: “A Petrobras já representou mais de 60% do nosso faturamento e hoje
não representa nem 5%. A pior coisa é ter que demitir bons funcionários e estou
sendo obrigado a fazer isso. Os prejuízos são decorrentes da paralisação das
obras que a empresa vinha tocando”.
Siqueira acrescentou que a substituição de empreiteiras
nacionais por estrangeiras afeta os trabalhadores brasileiros. “Existe um
cartel internacional de empregos” – citou.
No entanto, o ministro insistiu que as principais obras
da Petrobras, incluindo Comperj e refinarias, serão concluídas, embora o ritmo
tenha diminuído. Manoel Dias fez críticas severas à grande mídia que
desinforma, transmitindo notícias à população “incorretas e com parcialidade”.
O Ministério do Trabalho reconhece uma redução de 4 mil empregos entre os
terceirizados, no setor petróleo, no ano em curso.
Para Manuel Dias, o presidente da Câmara de Deputados,
Eduardo Cunha, está afrontando a Constituição brasileira, ao considerar o
impeachment da presidente. Também criticou a Operação Lava Jato:
“A hora é gravíssima. Por que a Operação Lava Jato faz
uma investigação seletiva? A maior parte dos políticos citados em delação
premiada é do PP, mas nenhum deles está preso. É preciso resistir e defender a
Petrobras”.
Manoel Dias prometeu empenho no sentido de atuar junto
a Bendini para que receba os representantes da Aepet e da FNP. Até agora, as
portas têm se mantido fechadas.
O ministro iniciou sua carreira política como líder
estudantil, em Santa Catarina. Elegeu-se vereador (64), depois deputado
estadual (67), sendo duas vezes cassado. Foi preso e exilado por dez anos.
Retornou ao Brasil ao lado de Leonel Brizola, ajudando a organizar o PDT, onde
conheceu a presidente Dilma Rousseff, também fundadora do PDT. Tomou posse na
pasta do Trabalho em 16 de março de 2013.
*Fatima Lacerda é jornalista da Agência
Petroleira de Notícias (APN).
Foto: Renato Alves/Ministério do Trabalho e Emprego.



