EMANUEL CANCELLA -
A parcialidade está desmoralizando a
justiça brasileira. O “mensalão” tucano está completando dez anos, sem
que nenhum dos réus tenha sido condenado e muitos deles já com os
processos prescritos. O principal acusado, o ex-governador de Minas pelo
PSDB, Eduardo Azeredo, anunciou que vai se “aposentar” da política. Ou
seja, vai sair de cena mais uma vez, para evitar o escândalo.
Nem precisava, já que conta com o
silêncio e a cumplicidade da grande mídia. Acusações envolvem peculado
(desvio de recursos públicos) e lavagem de dinheiro, durante a campanha
eleitoral, em 1998. Depois de várias protelações, adiamentos e
transferências, o processo contra Azeredo agora tramita na 9ª Vara
Criminal do Fórum Lafayette, em Minas Gerais, mas está parado desde o
ano passado, aguardando apenas a sentença.
Já Sérgio Mouro, que comanda a Operação
Lava Jato, tem como objetivo destruir a Petrobrás e a indústria
brasileira. Para isso, não se envergonha de rasgar conceitos consagrados
no Direito, como a presunção da inocência. No Brasil, quem acusa tem a
obrigação de provar. Mas esse preceito virou letra morta. A delação
premida pode ser a expressão de uma mentira deslavada. Mas se for contra
o PT será considerada pelo referido juiz. As acusações, ainda que
falsas, vão virar manchete de jornal, ganhando ares de verdade diante da
população.
Não importa se o “mensalão” do PSDB foi
anterior ao do PT. O fato é que até hoje não foi julgado e já foi
totalmente esvaziado. Já se livraram das acusações dois personagens
centrais do caso: o ex-ministro Walfrido dos Mares Guia e Claudio
Mourão, ex-tesoureiro da campanha de Azeredo. Ambos, após completarem 70
anos de idade, o primeiro em novembro de 2012 e o segundo em janeiro de
2014.
A parcialidade de Moro e da grande mídia
é indecorosa. A Lava Jato permitiu o vazamento da delação premiada do
dono da UTC, Ricardo Pessoa. A mídia publicou que o grande favorecido
pelas doações foi o PT. No entanto, vários partidos receberam doação,
inclusive o advogado Tiago Cedraz, filho do presidente do TCU, Aroldo
Cedraz. Ele recebia R$ 50 mil mensais, segundo o delator. O candidato
Aécio Neves, do PSDB, recebeu mais da UTC do que Dilma. Mas isso não
virou manchete. Mais uma vez a Rede Globo manipula os fatos e desinforma
seus leitores e telespectadores.
A OAB já protestou quanto ao tratamento
dado aos advogados pela Operação Lava Jato. Vários juristas vêm se
insurgindo contra a forma como o juiz Sérgio Moro utiliza a delação
premiada. Finalmente, também a presidenta Dilma questiona a delação
manipulada do dono da UTC.
Na sequência, sem qualquer respeito
pelas instituições, o panfleto diário da direita reacionária e porta-voz
da Lava Jato, jornal O Globo, estampa a seguinte manchete: “Dilma ataca
delator, mas investigação é ampliada”.
Não restam dúvidas de que o objetivo
maior da Operação Lava Jato não é prender os donos das principais
empresas do país e sim paralisar as principais obras e, principalmente, a
Petrobrás.
Nos Estados Unidos, a Lockheed Martin,
uma das principais companhias de aviação e de defesa dos EUA,
protagonizou um caso emblemático de corrupção, como lembrou André Motta
Araújo, no Jornal GGN: entre as décadas de 1950 e 1970, portanto durante
20 anos, pagou propina a autoridades estrangeiras estimadas em mais de
300 milhões de dólares, o equivalente a 3.7 bilhões de dólares em
dinheiro de hoje.
Alguém imagina que a Lockheed foi
destruída por isso? Como também informa Motta Araújo, seus principais
dirigentes renunciaram alguns anos depois e o governo norte-americano,
no lugar de multar a empresa, ofereceu-lhe generoso empréstimo para que
fizesse frente, em melhores condições, aos eventuais efeitos do
escândalo sobre os seus negócios.
Já no Brasil, a Operação Lava Jato é
contra o contrato de leniência que justamente prevê a punição dos
responsáveis e a continuidade dos negócios das empresas. O contrato de
leniência permite que os agentes da corrupção sejam punidos, mas as
empresas sejam poupadas e os postos de trabalho, preservados. Parece
lógico. Quem está contra isso, de que lado está?
A revista Época publicou que a Lava Jato
vai derrubar a República. Resta saber quem vai cair primeiro: a Lava
Jato ou a República brasileira!
*Emanuel Cancella é
coordenador do Sindicato dos Petroleiros do Estado do Rio de Janeiro
(Sindipetro-RJ) e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).



