Via BRASIL247 -
Um documento redigido
pelo empreiteiro Marcelo Odebrecht dentro da prisão em Curitiba, e que
foi apreendido pela Polícia Federal, menciona o banqueiro André Esteves,
do BTG Pactual. Nele, Odebrecht fala em "destruir email sondas".
Embora a mensagem não
seja completamente legível, é clara a referência a Esteves, que, além de
dono do BTG, é também o maior acionista da empresa Sete Brasil,
contratada pela Petrobras para fomentar a indústria naval, com
encomendas de sondas para o pré-sal no Brasil.
"Destruir email sondas",
diz Marcelo, antes de fazer referência a RR. Trata-se do executivo
Roberto Ramos, que foi da Braskem e, depois, se tornou presidente da
Odebrecht Óleo e Gás.
"Email RR era da
Braskem", diz ainda Marcelo. Em seguida, ele acrescenta o trecho
"história de iniciativa André Esteves", fazendo a referência ao maior
acionista da Sete Brasil.
"Lembrar que naquela
época Sete não Petrobras. Off balance", diz ainda o empreiteiro. Isso
significa que, embora fosse subcontratada pela estatal, a Sete não fazia
parte do balanço da empresa – portanto, qualquer negociação não
afetaria diretamente a Petrobras, que é um dos alvos da Lava Jato.
Marcelo diz ainda que ajudar a Sete era o mesmo que ajudar a Petrobras.
Decodificando a mensagem
Para compreender o
bilhete de Marcelo Odebrecht apreendido pela Polícia Federal, é preciso
ler com atenção o email enviado por Roberto Ramos, em 2011, que foi
considerado uma das principais provas usadas pelo juiz Sergio Moro para
decretar sua prisão. Confira abaixo:
“De: ROBERTO PRISCO P RAMOS <[email protected] >
Para: Marcelo Bahia Odebrecht; Fernando Barbosa; Marcio Faria da Silva; Rogerio Araujo
Enviada em: Mon Mar 21 19:01:54 2011
Assunto: RES: RES: sondas
Falei com o André em um sobre-preço no contrato de operação da ordem de $20-25000/dia (por sonda).
Acho
que temos que pensar bem em como envolver a UTC e OAS, para que eles
não venham a se tornar futuros concorrentes na área de afretamento e
operação de sondas.
Já temos muitos brasileiros “aventureiros” neste assunto (Schahim, Etesco…).
Internamente,
eu posso transferir resultado da OOG para a CNO, mas não posso fazê-lo
para as outras duas; isto teria que ir dentro do mecanismo de
distribuição de resultados dentro do consórcio.Meu ponto é que ele não
pode ser proporcional as participações atuais, porque, sem a OOG, a
equação não fecha e quem trás a OOG é a CNO.
Em
tempo: falei ao André, respondendo a pergunta dele, que o
desenvolvimento do Operador tem que ser desde o inicio, para participar
da escolha dos componentes, acompanhar a construção das Unidades,
definir níveis de spare parts e, principalmente, preparar os testes e
comissionamento. Ele pareceu entender.”
Claramente, Roberto Ramos
fala a Marcelo Odebrecht sobre uma negociação com "André", que, em
razão do bilhete apreendido pela Polícia Federal, passa a ser André
Esteves. Uma das empresas subcontratadas da Sete Brasil era o Enseada
Indústria Naval, estaleiro na Bahia que tinha como sócios, além da
Odebrecht, as empreiteiras UTC e OAS, também citadas no email.
Segundo apurou a
reportagem de 247, na época em que aquele email foi enviado, em março de
2011, a Sete Brasil, comandada por André Esteves, tentou reduzir o
valor dos navios e sondas que seriam produzidos pelo Enseada. No
entanto, na negociação com Roberto Ramos, emerge um fato novo. A
Odebrecht aceitaria reduzir o preço dos navios, ainda que isso
prejudicasse seus sócios UTC e OAS, desde que ganhasse mais na operação –
ou seja, no afretamento das sondas para a Petrobras por meio da
Odebrecht Óleo e Gás. Justamente por isso é que surge o sobrepreço de
US$ 20 mil a US$ 25 mil, por dia e por sonda. Tais valores seriam
cobrados da Petrobras, que, em última instância, é quem paga pela
operação das sondas.
Essa interpretação também
coloca em xeque a nota divulgada pela Odebrecht na segunda-feira, em
que a empreiteira afirmou que a palavra "sobrepreço" é uma expressão
normal, que não significa "superfaturamento". Segundo a Odebrecht, seria
"cost plus fee", ou seja, o custo da operação mais a comissão que
remuneraria a empresa pelo seu serviço. Na verdade, a negociação entre Roberto Ramos e "André" deixa clara a cobrança adicional no afretamento por sonda.
Dando a volta nos sócios
Roberto Ramos chega a
dizer que poderia até transferir o lucro da OOG (Odebrecht Óleo e Gás)
para a CNO (Construtora Norberto Odebrecht), desde que isso não
beneficiasse os outros sócios no consórcio. Ou seja: o sobrepreço na
operação remuneraria a própria Odebrecht, mas não o Enseada Indústria
Naval.
Nesta tarde, a reportagem
do 247 entrou em contato com as assessorias da Odebrecht e do BTG
Pactual.
A construtora não se manifestou. Por meio de sua assessoria de
imprensa, o BTG Pactual informou, às 18h23, que não iria se manifestar
sobre o fato de André Esteves ter sido citado por Marcelo Odebrecht no
bilhete apreendido pela Polícia Federal.
Nesta tarde, a advogada
Dora Cavalcanti, que representa a Odebrecht, afirmou que, ao vazar o
bilhete redigido por Marcelo Odebrecht, a Polícia Federal tenta
tumultuar o processo.