Por LEONARDO SAKAMOTO - Via blog do autor -
Boa parte dos brasileiros foi ensinado que a
violência é o principal instrumento de resolução de conflitos. Futebol?
Samba? Feijoada? Não, a “porrada” é o que realmente nos une e nos faz
brasileiros.
Um rapaz que reclamou de um carro que parou sobre uma faixa de pedestres foi espancado pelo motorista.
Uma moça que reclamou de um sujeito que tentou beijá-la à força em uma festa de faculdade foi esmurrada pelo idiota.
Não tem jeito, a porrada é uma instituição nacional.
Boa parte dos brasileiros foi ensinado que a violência é o principal
instrumento de resolução de conflitos. Por falta de instituições
públicas ou sociais confiáveis que assumam esse papel, por achar que
alguns possuem mais direitos que outros por conta de dinheiro ou
músculos, por alguma patologia que nunca consegui entender muito bem mas
que deve estar atrelada à falta de abraços de mãe.
Além disso, também temos problemas de memória. Enquanto o país não
acertar as contas com o seu passado, não terá a capacidade de entender
qual foi a herança deixada por ele – na qual estamos afundados até o
pescoço, nos define e contribui para uma cultura de agressão.
A ditadura não criou a violência desmesurada, mas foi bem eficaz em
sua institucionalização como método de controle social. E o processo de
transição para a democracia não negou isso. Pelo contrário, em alguns
casos até incentivou.
Aliás, o Brasil não é um país que respeita os direitos humanos e não
há perspectivas para que isso passe a acontecer pois, acima de tudo,
falta entendimento sobre eles e, consequentemente, apoio, da própria
população. Que acha isso uma “coisa de proteger bandido” e esquece que a
própria liberdade de professar uma crença ou de não ser agredido
gratuitamente por dizer o que pensa diz respeito aos direitos humanos.
O impacto desse não-apoio se faz sentir no dia a dia com um grupo que
sempre esteve no poder econômico aterrorizando, sozinho ou através da
polícia ou de representantes políticos, a outra parte da população.
Gostamos de viver as tradições por aqui. Como o direito de deixar claro quem manda e quem obedece.
Se necessário, através dela, a porrada, que é o que realmente nos une e nos faz brasileiros.



