6.5.15

EDUCAÇÃO SANGRA NO PARANÁ. E PARA EM DEZ ESTADOS DO BRASIL

DANIELA ABREU


Qualquer semelhança não é mera coincidência. No dia 29 de abril, profissionais de educação da Rede Estadual do Paraná vivenciaram um massacre nas ruas próximas a ALEP Assembleia Legislativa do Paraná. Após quase dois anos que profissionais de educação do Rio de Janeiro passaram por momento semelhante. Em ambas as situações a ação violenta da polícia garantiu votações importantes que modificam a vida dos educadores. O conhecido dia “D” da greve histórica da educação de 2013, foi aprovado aos sons de bombas o plano de carreira que não contemplava a categoria da educação do Rio de Janeiro. Muitas tentativas de diálogo, da mesma maneira que no Paraná, onde a greve retorna no dia 27 de abril quando os profissionais se viram enganados. O governo do Paraná havia feito um acordo ao qual não faria mudanças na previdência, e qualquer alteração passaria pelo Fórum das Entidades Sindicais, e isso não ocorreu. A aprovação da mudança também ocorreu aos sons de bombas e deixou marcas de sangue por todo Paraná, foram 2013 profissionais de educação feridos e muitos outros com sequelas do gás, do Spray de pimenta, do jato d'água. Essa é a cara da nossa democracia.

Hoje a educação do Paraná continua em greve e a previdência foi modificada, os profissionais cariocas sofrem ainda sequelas da greve, recebendo até início deste ano descontos inexplicáveis em seus salários. A educação do país inteiro pede socorro. São dez estados ao todo vivenciando greves na educação. Diante a tanta truculência professores, funcionários e estudantes tomam as ruas para protestar e denunciar.

Já é senso comum dizer que professor ganha mal, não é uma profissão valorizada, tal como que a educação não anda bem. Muitos projetos de enfeite, criados para disfarçar e mascarar a realidade da educação estão em vigor. Muitos se resumem em provas de avaliação como SAERJ, prova Brasil entre outras. Verdadeiros comércios dentro do ensino, em todas as escolas direções têm o dever de exigir que todos façam e apliquem essas provas verticalizadas. Segundo os professores essas provas além de não terem nada a ver com o que a escola está dando, não respeitar a realidade de cada escola, atrapalha o ano letivo. Até prêmios são distribuídos para estimular o aluno a gostar dessas provas, que aos poucos se tornam o momento prioritário do calendário escolar. Enquanto os índices de qualidade do ensino como o IDEB, são medidos dessa maneira artificial e mercadológica, profissionais da educação definham com baixos salários, sem planos de carreira que os valorizem de fato e agora até suas aposentadorias correm risco com as mudanças na previdência.

Neste cenário caótico sem limites na violação dos direitos humanos, está em disputa qual política será implementada na educação. Em um país que reza a cartilha neoliberal as orientações chegam de fora. O Banco Mundial indica um pacote que precariza e mercantiliza a educação. Impõe nas escolas a meritocracia em detrimento de uma educação humanizada para alunos e de valorização dos professores. O trabalhador passa a valer pelo que produz, mas quem define o que é produção na educação? O pacote neoliberal traz um currículo rígido, estratégias para manutenção de salas superlotadas, aprovação automática, programa de “volta ao Básico”, onde o ler e contar passam a ser mais importantes do que conhecer, interpretar, criar, refletir sobre a história, a ciência as relações sociais e os pensamentos da sociedade.

As condições de trabalho somados a uma política pedagógica verticalizada, ao qual transformou as direções das escolas em gestoras prontas a exigirem do corpo docente o cumprimentos de metas que incluem muito mais tarefa que o ofício de lecionar, somado aos baixos salários que muitas vezes obrigam que estes deem aulas em duas, três, quatro e até cinco escolas levam a uma realidade insustentável.  Que em algum momento se explodisse uma resistência dos profissionais atingidos por esse modelo era de se esperar.

Ao escolher o ofício da docência e passar por inúmeros aprendizados dentro de uma licenciatura plena, o profissional cria compromissos irrefutáveis com a formação dos novos cidadãos. A greve dos profissionais de educação não pode reivindicar apenas melhores salários e condições, mas também qual o modelo pedagógico que se deve implementar na sociedade. O professor é um eterno pesquisador, estudioso e inquieto pela busca do conhecimento, suas aulas muitas vezes não são as mesmas de um ano para o outro, ou não deveriam. São dez Estados, mas poderiam ser todos, pois esta política neoliberal meritocrática e precarizante é para todo país.  As reivindicações dos profissionais também serão semelhantes em SC, SP, PR, GO, BA, PE, PA, PI, AM, AL.

São Paulo foi o estopim, completando quase dois meses de greve. Será que estes profissionais são insanos? Um monte de professores irresponsáveis, infantis ou malucos? Governador afirma que “esta greve não faz o menor sentido” e justiça determina corte de pontos e proíbe divulgação da greve nas escolas.

A democracia do Capital que nada mais é do que a ditadura da burguesia tem se revelado de peitos abertos certos que todos os aparatos do Estado estão ao seu favor. 

Não restam dúvidas: é preciso derrubar o estado! Grita um aluno de uma Rede Estadual em greve.