CARLOS CHAGAS -
Uma questão vital no escândalo da Petrobras deixou de prender as
atenções depois da divulgação no fim de semana da lista do procurador
Rodrigo Janot, mas logo retornará às manchetes: qual o prejuízo total da
estatal petroleira, ou seja, quantas centenas de milhões foram
roubados, desviados, superfaturados e, em espacial, como serão
ressarcidos? Há quem suponha mais de um bilhão de reais, mas de que
maneira receber de volta essa importância olímpica? A fatura será levada
às empreiteiras, aos diretores da Petrobras implicados na roubalheira,
aos doleiros e aos políticos que receberam parte dela? Claro que todos
têm sua parcela de culpa e devem pagar. Não vale dizer que o dinheiro
evaporou-se nas campanhas eleitorais, pois o crime é o mesmo para os que
enviaram seu produto para bancos no exterior. Ou compraram carrões,
lanchas e aviões.
Será sonho de noite de verão imaginar o retorno de toda a quantia
surripiada, mas se estão sendo conhecidos seus beneficiários, o mínimo a
esperar é que respondam com seu patrimônio.
A segunda questão ainda inconclusa comporta ilações. Evidenciando-se
que nem todos os milhões foram utilizados ilicitamente em campanhas
eleitorais, mas irrigaram até mensalmente com dinheiro vivo os colchões
ou contas bancárias de parlamentares, será óbvio indagar se não havia
nas transações compromissos iguais aos do mensalão? Em outras palavras,
no caso do PP e até do PMDB e do PT, Suas Excelências recebiam para
votar no interesse de quem? Do governo e das empreiteiras? Terá sido por
isso que nem o Lula nem Dilma nem seus ministros sabiam de nada? Uma
roubalheira desse quilate não conseguiu ser detectada pelos órgãos de
informação, com a Abin à frente, ou por simples assessores? Só a Polícia
Federal descobriu a lambança, mas teria deixado de informar seu chefe, o
ministro da Justiça?
Com todo o respeito, mas quem era ministra de Minas e Energia e
presidente do Conselho de Administração da Petrobras, depois chefe da
Casa Civil, não recebeu um só indício da ladroagem? Tamanho volume de
desvio de recursos através de superfaturamento de obras e serviço, mais
aditivos contratuais e preços muito acima do mercado fluíam em sigilo
absoluto?
E quanto a quem passou quatro anos viajando em jatinhos das
empreiteiras, fazendo palestras e ajudando na conquista de contratos
junto a governos estrangeiros, em nenhum momento desconfiou dessas
facilidades?
Desdobramentos virão da abertura de inquéritos sobre políticos
variados. Em alguma etapa das investigações surgirão vazamentos. Alguém
ficará desesperado e dará o serviço. Se servirá ou não para inundar
reputações, é outra história.
PREJUÍZO PARA AS INVESTIGAÇÕES
Ouve-se que a presidente Dilma decidiu protelar a indicação do
ministro do Supremo Tribunal Federal que falta para compor aquela corte.
Não gostaria de ver os ânimos acirrados no Senado. Por maior mérito que
o indicado venha a ter, enfrentará a má vontade dos atingidos nas
investigações do escândalo da Petrobras e dos solidários com eles. O
diabo é que os trabalhos da II Turma do Supremo ficarão prejudicados
pelo desfalque de um de seus integrantes.