Via Agência Estado -
Grupo de seis ministros do PT bate cabeças para tirar o governo da crise.
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O ministro Aloizio Mercadante é o maior alvo de críticas e fogo amigo no G6 (Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr). |
Divergências sobre como enfrentar as
turbulências na política e na economia marcaram, nos últimos dias, as
reuniões da presidente Dilma Rousseff com o “núcleo duro” do Palácio do
Planalto. Apelidado de “G6”, o grupo é composto por seis ministros do PT
que tentam, ainda sem sucesso, encontrar uma estratégia para Dilma
romper o cerco político, sair das cordas e driblar o pessimismo com o
governo.
O ministro da Casa Civil, Aloizio
Mercadante, é o maior alvo de críticas e fogo amigo no G6, no PT e na
base aliada. Em conversas reservadas, o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), atribui a Mercadante o fracasso da articulação política
do Planalto e a rota de colisão do PT com o PMDB.
A eleição para o comando da Câmara foi um dos episódios da temporada
de divisões do G6, que, além de Mercadante, abriga Miguel Rossetto
(Secretaria-Geral da Presidência), Pepe Vargas (Relações
Institucionais), Jaques Wagner (Defesa), José Eduardo Cardozo (Justiça) e
Ricardo Berzoini (Comunicações).
Enquanto Vargas, um dos responsáveis pelas negociações com o
Congresso, defendia desde o início um acerto com Cunha para não isolar o
PT na composição da Mesa Diretora da Câmara, Mercadante não queria
acordo “prévio” com o peemedebista. O governo apostou as fichas em
Arlindo Chinaglia (PT-SP) e perdeu. Para o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, a estratégia de confronto adotada pelo Planalto foi “um
desastre”.
Logo após assumir, Cunha impôs uma derrota atrás da outra a Dilma –
da criação de uma nova CPI da Petrobrás ao Orçamento impositivo, que
obriga o governo a executar emendas parlamentares e reduz seu poder de
barganha na relação com o Legislativo. Desafeto do Planalto, o
presidente da Câmara também não dá trégua por acreditar que Mercadante
esteja patrocinando a criação de novos partidos, como o PL – organizado
pelo ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD) –, para enfraquecer o
PMDB. Ele nega.
‘Faixa de Gaza’. Os gabinetes de Mercadante, Vargas e
Rossetto estão localizados no 4.º andar do Planalto, já batizado de
“faixa de Gaza” por ser uma zona de conflitos, muitas vezes abafados.
Embora esteja fora do Planalto, o titular da Defesa, Jaques Wagner,
também ajuda na negociação com o Congresso e entrou na linha de tiro.
Mercadante e Wagner são vistos no PT como o “plano B” para a sucessão
de Dilma, em 2018, caso Lula, o candidato natural, não queira ou não
possa concorrer por questões de saúde. Nos bastidores, até petistas
dizem que os dois travam uma disputa velada, com luvas de pelica, pelo
coração de Dilma.
“Se Lula quiser ser candidato a qualquer coisa, terá o meu apoio.
Isso tudo é bobagem. Eu já cumpri minha missão e não vou concorrer a
mais nada, se não houver reforma política e se as regras de
financiamento de campanha não mudarem”, repete Mercadante, como mantra,
sempre que é questionado sobre o seu interesse na eleição de 2018. “Não
existe essa disputa”, garante Wagner.
Dilma está mais irritada com os “vazamentos” das discussões de seu
grupo de conselheiros do que propriamente com as divergências entre os
auxiliares, que vão da forma de tratar o PMDB e a base aliada ao tamanho
do ajuste fiscal. Com amigos no movimento sindical, Rossetto, Vargas e
Berzoini, por exemplo, avaliam que é possível amenizar o texto da medida
provisória que endurece o acesso a benefícios trabalhistas, como o
seguro-desemprego. Mercadante e Wagner acham que nem tanto. “O ajuste é
um pit stop para abastecer o carro, acertar a máquina e arrancar de
novo”, comparou Wagner.
No PT, o chefe da Casa Civil é apontado ironicamente como o mentor do
“sequestro” de Dilma, após as denúncias de corrupção na Petrobrás. Lula
disse à presidente, na quinta-feira, que a tática do silêncio está
errada. “Você precisa sair do gabinete, Dilminha”, insistiu ele.
O estilo mandão de Mercadante tem se chocado com o de Rossetto, que
só admite ordens da própria Dilma. Os dois já se estranharam algumas
vezes e bateram boca no fim do primeiro mandato. À época, o titular da
Casa Civil organizava a demissão coletiva dos ministros e pediu que
Rossetto, então no Desenvolvimento Agrário, apresentasse sua carta para
deixar a presidente à vontade para a troca do time. Rossetto respondeu
que só obedecia a Dilma.
Pouco antes da festa dos 35 anos do PT, no dia 6, em Belo Horizonte,
uma reunião do G6 escancarou outro racha: a conveniência de Dilma ir ou
não àquele ato. Na véspera, o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, havia
sido levado pela Polícia Federal para depor no inquérito que apura a
corrupção na Petrobrás.
A notícia “vazada” dava conta de que Mercadante era contra a ida de
Dilma à capital mineira porque alegava ser preciso preservar a imagem
dela, impedindo que a imprensa a associasse a Vaccari, presente à festa.
O ministro divulgou nota negando a informação. Depois disso, circularam
rumores de que Rossetto, e não Mercadante, teria sido o autor das
ponderações feitas a Dilma. Questionado, Rossetto respondeu: “Pelo amor
de Deus! Não é possível uma coisa dessas!” O fogo amigo promete
continuar.