CARLOS CHAGAS -
Falta
alguém na presidência da República para conter Dilma Rousseff em suas
entrevistas à imprensa, que começou a produzir em cascata, todos os
dias, depois de três anos e meio de silêncio. Algum ministro menos
tímido deveria orientá-la, tanto faz se Gilberto Carvalho, Thomas
Traumann, Aloízio Mercadante ou, em especial, o marqueteiro João
Santana. Porque quanto mais a presidente fala, mais se enrola, na
tentativa hoje desesperada de evitar a derrota para Marina Silva, em
outubro. No governo, ninguém surge com coragem para alertá-la sobre suas
contradições. O Lula parece ter perdido a esperança de enquadrá-la,
tanto que vem cada vez menos a Brasília, e quando sai em sua companhia,
em campanha pelo país, é apenas para pedir votos.
Nas mais
recentes conversas com os jornalistas, geralmente nos corredores de
algum palácio ou mesmo alguma esquina, Dilma saiu-se com duas afirmações
desastrosas. Falava sobre os escândalos na Petrobras, que admite mas
não reconhece, já a primeira contradição. Disse que estancou a sangria
na empresa quando mudou quase toda a sua direção, um ano depois de
chegar ao poder, mas acrescentou que “se houve alguma coisa, e tudo
indica que houve, não há mais”. E em seguida: “Tirando essa questão que
tem aparecido na campanha, a Petrobras é uma empresa primorosa”.
Ora, essa
“coisa” que houve terá sido abafada com a simples substituição de alguns
diretores? Sem falar da impossibilidade de a empresa continuar
primorosa depois do que aconteceu. Dilma jogou barro no ventilador
admitindo terem vindo de antes os malfeitos, quer dizer, do governo
Lula. No entanto, nenhum dos diretores afastados foi responsabilizado ou
punido, mesmo diante da evidência da distribuição de 3% dos contratos
superfaturados da Petrobras com fornecedoras terem sido dados a partidos
da base oficial e a líderes políticos mais do que conhecidos.
AGRESSÕES
As
agressões da presidente a seus adversários, fruto também das
entrevistas, só fazem prejudicá-la, como quando comparou Marina a Jânio
Quadros e a Fernando Collor. O que fica dessa temporada de declarações
dadas a esmo é que, de um lado, Dilma admite ter havido corrupção em
atividades da Petrobras, mas, de outro, nega-se a agir alegando a
inexistência de provas. Fica pior a emenda do que o soneto.
MAIS NOMES NO SÁBADO?
A semana
vem sendo cercada por rumores de que a revista Veja, no sábado,
completará a lista de políticos envolvidos no escândalo da Petrobras,
divulgada dias atrás. A Polícia Federal abriu inquérito para apurar como
vazaram dos depoimentos de Paulo Roberto Costa os nomes já conhecidos,
mas se nova leva de supostos implicados vier a público, a tarefa ficará
mais difícil. No caso, lembra-se a história daquele imperador na Antiga
Pérsia que quando recebia más notícia, mandava matar o mensageiro. Não é
a publicação paulista que precisa ser investigada, senão suas
denúncias.