CARLOS CHAGAS -
Houve
tempo em que um dos esportes preferidos da juventude, para assistir, é
claro, não para participar, eram as corridas de stock-car, geralmente
realizadas em algum campo de futebol ou espaço ainda maior, cercado de
arquibancadas. As viaturas, não menos do que vinte ou trinta,
lançavam-se em desenfreada carreira circular, com a peculiaridade de se
atropelarem de propósito. Batidas monumentais eram aplaudidas pela
assistência, com ênfase para a destruição do maior número possível de
automóveis em disputa. Volta e meia os pilotos se arrebentavam, com
pernas ou braços quebrados, rostos sangrando, mas faziam-se de heróis,
tanto mais aplaudidos quanto mais contundidos.
Esse
horror saiu de moda, parece que ainda existe de forma bissexta nos
Estados Unidos ou nos países para onde as caravanas viajam, com certeza
cobrando entradas capazes de financiar os espetáculos.
Com
todo o respeito, é o que se verifica hoje no processo sucessório, em
especial depois de divulgadas as denúncias não comprovadas de Paulo
Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, em sua tentativa de obter
benefícios através da delação premiada. A relação parcial de políticos
supostamente envolvidos na corrupção praticada na empresa leva
candidatos e partidos a se agredirem de forma cada vez mais violenta,
cada um tentando tirar proveito de acusações contra os adversários.
Acontece
de tudo, nessa temporada que lembra o choque de viaturas nos
espetáculos de stock-car. Acusam-se todos imaginando prejudicar os
concorrentes, numa batalha virulenta e sem limites.
Esta
semana, o troféu de vencedor do mais novo capítulo da corrida vai para
Gilberto Carvalho, secretário-geral da presidência da República, para
quem as denúncias contra parlamentares, governadores e ministros da base
do governo visam tumultuar e alterar o processo eleitoral. O diligente
auxiliar palaciano sustenta que tudo acontece para colarem em Dilma a
imagem de responsável pela transformação da Petrobras num covil de
ladrões.
Ora,
com todo o respeito, o processo eleitoral já está definido: a briga
será entre Dilma e Marina, a menos que sobrevenham inusitados capazes de
beneficiar Aécio Neves, hipótese inviável de acontecer, conforme as
pesquisas. Sendo assim, seria Marina a responsável pelo vazamento das
denúncias e da relação de políticos integrantes da corrupção na
Petrobras? Nem que a vaca tussa, ainda que a ex-senadora surja como
beneficiária maior das acusações contra o PT, o PMDB, o PP, o PTB, o PR e
penduricalhos.
Deveria
Gilberto Carvalho procurar em sua própria aldeia os artífices de mais
essa paulada na moleira da Dilma, já que Aécio Neves, nos seus encontros
com o travesseiro, sabe muito bem estar fora da corrida. Se alguém
pretende prejudicar a presidente, aliás, prejudicada por ela mesma, são
as viúvas do Lula, que ainda alimentam o sonho de substituir a sucessora
pelo antecessor. Será que ainda dá tempo? Só se o sargento Garcia
prender o Zorro, mas a gente fica pensando: as acusações de Gilberto
Carvalho não fariam parte dessa missão impossível? Afinal, ele está
muito mais para o Lula do que para Dilma, em sua longa trajetória na
sede do Executivo. No desespero de não perder o poder, que companheiros
imaginam tumultuar o processo sucessório?