CARLOS CHAGAS -
Não
se discute com os fatos, em especial quando respaldados por números:
embolou o meio campo, com Dilma e Marina empatadas no primeiro e no
segundo turno. Semana que vem poderá ser diferente, mas hoje a eleição
se resolveria no cara ou coroa. Apesar de pesquisas serem pesquisas,
sujeitas a uma série de variações, às vezes até de manipulações, não se
colocará o Datafolha e o Ibope sob suspeição.
É
preciso saber porque Marina, dias atrás em posição de supremacia, cedeu
espaço para Dilma, que muitos supunham em fase de desespero.
A
ex-senadora colhe o que plantou. Quando emergiu após a tragédia com
Eduardo Campos, ela empolgou pelo seu passado. Criada na floresta, tendo
passado fome, podendo ler e escrever apenas aos dezesseis anos, negra,
ambientalista e na primeira linha da luta contra o poder econômico,
esperava-se que na campanha ela desse continuidade a esses valores.
Não
foi o que aconteceu. Entrou em campo uma nova Marina, conciliadora,
fazendo as pazes com o agronegócio, cultivando os usineiros e os bancos
privados, por certo frustrando muita gente. Sua abertura ao
centro-direita pode ter sido tática, à maneira do que o Lula havia feito
anos atrás. Seu programa de governo desanimou muitos que imaginavam uma
reviravolta no processo político e econômico. Ainda teve que ceder à
sua religião, condenando a descriminalização das drogas, o aborto e o
casamento gay.
Isoladamente, até se compreenderia cada um desses e de
outros recuos, mas o conjunto da obra desanimou uma parcela do
eleitorado.
Em
paralelo, Dilma empreendeu uma abertura à sinistra, desvinculando-se
dos bancos privados, que fustigou, além de enfatizar iniciativas sociais
adotadas desde o governo Lula. Também espalhou o medo do retrocesso no
caso da vitória de Marina. Junte-se a essa estratégia o apelo à
militância do PT, apavorada com a perspectiva da perda do poder, e se
terá a receita de porque as duas candidatas se equivalem na disputa
presidencial.
Claro
que o escândalo na Petrobras ainda dará frutos. A recessão econômica,
também.. Mesmo assim, a corrida parece hoje literalmente empatada. Tempo
há para o eleitorado decidir-se, na dependência do comportamento de
ambas. Se a presidente insistir em bater firme na adversária, poderá
arrepender-se, mas Marina também se arrisca na hipótese de persistir na
postura de rebater todas as agressões em vez de esclarecer o que
pretende em seu governo.
Correta,
mesmo, está a previsão do segundo turno, com Aécio Neves de fora. Para
quem migrarão seus votos é irrelevante, porque num Fla-Flu as
arquibancadas não torcem pelo Vasco.