HELIO FERNANDES -
Mocissimo, meu primeiro trabalho
jornalístico importante, foi cobrir a constituinte de 45 que discutiu, votou e
promulgou a Constituição de 46. Eu era secretário-adjunto de "O
Cruzeiro", o cargo de editor ainda não chegara ao Brasil. Foi trazido pelo
notável jornalista Pompeu de Souza, que morou anos nos EUA e na Inglaterra.
Comecei praticamente toda uma geração
de políticos, de varias tendências, mas inegavelmente superiores aos de agora.
Naturalmente com as exceções de praxe. Fiz ótimo relacionamento, construí
pontes e amizades. Um deles, o então deputado Juscelino Kubitschek. Em 1950 foi
eleito governador de Minas,em 1954, candidato a presidente.
Um dia me telefonou Horácio de
Carvalho, diretor-proprietário do Diário Carioca,jornal que eu dirigiria mais
tarde. Queria me convidar para almoçar no seu apartamento da Avenida Atlântica,
a pedido do governador Juscelino Kubitschek.
O então governador já candidato a
presidente pelo PSD, o maior partido brasileiro, que não chegou a completar a
maioridade, assassinado pela ditadura em 1964. Juscelino queria me convidar
para dirigir a comunicação da sua campanha presidencial.
Mas antes me avisou e preveniu:
"Hélio, não temos dinheiro para nada, se você aceitar, será o único no
comitê, junto com o presidente, embaixador Negrão de Lima". Respondi
imediatamente: "Governador, correr e percorrer o Brasil todo, durante um
ano, é proposta irrecusável". JK ficou satisfeitíssimo, eu também.
Logo depois da morte de Vargas
(suicídio politicamente genial como chamei sempre, desde o dia seguinte da
tragédia) JK pediu audiência ao vice que assumira, Café Filho: "
Presidente vim lhe comunicar que serei candidato a presidente". Café Filho
agradeceu e respondeu: "Não terei candidato, ficarei neutro". Mas
logo lançava o nome do general Juarez Távora, Chefe da Casa Militar.
A campanha foi excelente, conhecemos
"grotões e igarapés", como Tancredo Neves definiria depois. JK ganhou
muito bem, apesar da máquina governamental ser jogada totalmente no propósito
de eleger o general. Antes de posse vieram os dois golpes de 11 de novembro de
1955. Um para não dar posse ao vencedor, e o outro para refender a vontade do
eleitor.
Reconhecida sua vitória e com a posse
garantida, JK resolveu viajar como "presidente eleito e ainda não
empossado". Marcou a viagem para 2 de Dezembro, me falou "Hélio, vou
viajar, apenas eu e mais três pessoas. (Dois do Itamarati). Quero convidar você
para ir".
Aceitei, claro,mas disse a Juscelino: "Presidente,
é lógico que aceito, mas sou jornalista, e o senhor é a grande noticia. Por
isso quero ficar sempre ao seu lado". O presidente riu e garantiu: "Você
saberá de tudo o que acontecer no Brasil enquanto viajamos, aqui você verá e
saberá de tudo, na hora".
Viagem maravilhosa, não há dinheiro que pague. Fomos recebidos por reis, rainhas, presidentes e primeiros ministros. Começamos pelo presidente Eisenhower, que se recuperava de um enfarte na bela Ilha de Key West.
Viagem maravilhosa, não há dinheiro que pague. Fomos recebidos por reis, rainhas, presidentes e primeiros ministros. Começamos pelo presidente Eisenhower, que se recuperava de um enfarte na bela Ilha de Key West.
JK-Salazar
Não vou contar a viagem maravilhosa, apenas o que está
atualíssimo, 59 anos depois. Fomos recebidos então pelo ditador, no belo
palácio presidencial. Muita gente, mas num relâmpago, os dois ficaram sozinhos
e eu ao seu lado.
Salazar então disse a JK: ”Presidente, se o senhor
quiser governar todo mandato, não faça reforma cambial, nem se descuide do
Banco Central”. Foi surpreendente. Mas logo as pessoas se aproximaram, a conversa
que poderia render muito mais, acabou.
Ficamos algum tempo circulando, fomos embora. No carro
JK me perguntou: “Helio, o que o presidente Salazar estava querendo dizer?”.
Resposta do repórter: “Presidente, Salazar é um
ditador, Ministro das Finanças nomeado pelo presidente, general Carmona, que
ele derrubaria. Mas antes disso, era um respeitado professor de Finanças da
Universidade de Coimbra”.
JK ficou visivelmente preocupado, e não apenas durante
a viagem.
O
câmbio e o Banco Central, na campanha presidencial
Há muito tempo não se sabe se o Brasil tem um dólar
fixo ou variável. Entra e sai governo a duvida permanece. No momento é feita
reforma cambial, diária e intransferível. Quando o governo anuncia que colocou
no “mercado” 10 mil “waps”, e todos foram absorvidos, o próprio governo está
intervindo no câmbio.
Só que por incompetência, não sabe qual o limite que
pretende para esse dólar. E por imprevidência e incoerência, finge que não
está.
O
medo do Banco Central
Quando Dona Marina explicou, “eu e Eduardo Campos
conversávamos muito sobre a AUTONOMIA do Banco Central”, houve sensação de
perplexidade. Por quê? O Banco Central não é tido e havido como INDEPENDENTE?
Passado o primeiro momento da surpresa, ninguém falou mais no assunto. Nem
mesmo Dona Marina. “Conversava” com Campos, não tem com quem dialogar?
Se Dona Marina, eleita, confirmar as conversas com
Eduardo Campos, "sobre autonomia do Banco Central" (revelações dela
mesma), provavelmente o primeiro choque com o Congresso, surja por aí.
Banco Central com autonomia ou independente, só com
mandato. E para isso é necessário e indispensável reforma constitucional. É
possível que Dona Marina "esqueça" o assunto ou deputados e senadores
concordem com ela, e aprovem a emenda constitucional.
De qualquer maneira, é um dos assuntos mais importantes
de qualquer governo de qualquer país. Tão grave e relevante, que como está no
titulo, ha 59 anos, Salazar alertava Juscelino para o problema.
PS- agora
cresce ininterruptamente a face negativa da "administração da gerentona”.
Enquanto dona Dilma considerava que só existem dois candidatos, se refugiava
nas quinquilharias. Como escrevi 48 horas depois da tragédia de Eduardo Campos:
"Dona Marina não é candidata da emoção".
PS2- Dona
Marina é candidata para valer, tira votos de Dona Dilma e retira Aécio da
disputa. Comentaristas copiam este repórter com ligeira modificação:
"Marina não é uma ONDA passageira".
PS3- Então o
objetivo geral é destruir e desconstruir Dona Marina, mesmo que ainda não
tenham "descoberto ou inventado" nada de importante ou conclusivo.