HELIO FERNANDES -
Dessa eleição
tão surpreendente com tragédia e a perda da própria vida de um dos candidatos,
nada poderia ser considerado tranquilo ou tranquilizado. E por tudo o que vem
acontecendo nas acusações, nas denúncias e nos nomes de personalidades que
vinham com o passaporte “visado” desde Pasadena, dirigentes da Petrobrás ou
ligados a ela por irregularidades, não poderiam ficar de fora.
Quando se
soube que o advogado do ex-diretor da Petrobrás fizera a proposta do depoimento
em troca de compensação no julgamento e na condenação, o pânico se espalhou. Os
mais atingidos e assustados: Marina e Dilma, antes mesmo do “vazamento”
espetacular de alguns nomes.
Inicialmente
uma observação sobre a antecipação de uma parte dos nomes pela revista Veja.
Publicamente não sou entusiasta dessa publicação, mas minha isenção está sempre
acima de qualquer coisa. E não posso deixar de dar nota 10 á Veja, jornalística
e profissionalmente, irrepreensível.
Quando fui
preso e julgado pelo Supremo Tribunal Federal em 1963 (antes do golpe), por ter
publicado “circular sigilosa e confidencial”, o Millôr escreveu: “jornalista
que não publica uma circular como essa, é melhor que abra um supermercado”.
Agora
transfiro o elogio para a revista, com a mesma proposta, sugestão ou insinuação
feita pelo Millôr. Mas tenho que deixar publica a minha perplexidade pelo
“vazamento”. Diretor de revista e de jornais, dono de jornal, jamais deixei de
ser repórter, tido e havido como o mais bem informado do país. Sempre publiquei
informações sigilosas, fontes confiavam no repórter, o repórter só queria que o
cidadão ficasse bem informado.
Revelava
fatos em “Primeira Mão”, que era o nome da coluna que comecei no Diário de
Notícias (o jornal de maior circulação na época) e mantive por quase 30 anos.
Mas jamais houve um depoimento tão protegido e silenciado quanto esse de Paulo
Roberto Costa. Gravado, criptografado, fechado num cofre apenas com uma chave,
a revelação provocava pavor generalizado.
É lógico que
a Veja não responderá coisa alguma que possa identificar os informantes.
Garantida pela Ata de Chapultepec, que protege as fontes de informação, (assinada
por 47 países incluindo o Brasil) e tendo que preservar seu futuro na questão
chamada de “vazamento”, manterá o silencio eterno, indivisível e intocável. Mas
um fato é rigorosamente verdadeiro.
A informação privilegiada e altamente jornalística, vejo de alguém que
interrogava o ex-diretor, antes do depoimento ser criptografia e guardado no
cofre. Depois, identificaria imediatamente a fonte ou então partiu do próprio
depoente, que quebrava o sigilo, mas não queria esse sigilo ficasse guardado
num cofre. Precisava de repercussão, para favorecer a "delação
premiada".
Depoimento perfeito
Agora a importância da revelação, que está longe de ter acabado. O
ex-diretor já fez sete depoimentos fala a media de seis horas por dia. E
continuará. Ele, seu advogado e dois conselheiros, discutiam muito o
envolvimento do ex-governador Eduardo Campos. A duvida: o fato dele ter morrido
tragicamente, provocando repercussão nacional. Decidiram: a revelação sobre
ele, indispensável.
Não podiam preservar Campos, a publicação do seu nome, confirma o acerto
da denuncia. Apesar do depoimento atingir 50 ou 60 personalidades, por
enquanto, do considerado "primeiro time" da política, nenhuma
novidade. A surpresa é realmente por causa da revelação do nome do
ex-governador.
A inclusão do seu nome atinge ao mesmo tempo Dona Dilma e Dona Marina. E
confirmando o fato, as duas na defensiva. A candidata do PSB, fez o óbvio:
defendeu acirradamente o nome do presidente do seu partido, que se não tivesse
morrido, seria candidato sem chance e sem possibilidade até hoje.
A citação de Campos
surpresa das grandes
Vivo, ninguém acusava Campos de coisa alguma, apenas de quinquilharias.
Morto, foi sangrado, imortalizado e santificado. Essa idolatria começou a ser
incluída no circulo da duvida, não passaria disso. Nem mesmo as irregularidades
a respeito do avião que o matou, chegaram a formar um dossiê. Embalançaram
muita gente, apenas embalançaram.
Aécio
continuou intocado, nem favorecido nem prejudicado. A luta permanece entre Dona
Dilma, cada vez com uma política mais “velha” do que a República, agora
degradada e desprestigiada pela incompetência. Promete “mudar tudo depois de
reeleita”, é muito tarde. A impaciência do cidadão-contribuinte-eleitor será
dissipada nos 25 dias que falta para a eleição?
E Dona
Marina? PSDB e PT trabalhavam quase “irmanados” para destruí-la, não importa
nem importava a forma ou a formula. Só que ninguém admitia que o desgaste
viesse tendo o ex-companheiro de chapa como porta-voz depois de morto. Sua
morte pode contribuir para a derrocada? Por enquanto, tudo na mais completa
escuridão.
PS- Importantíssimo: quem tratará do assunto no horário
eleitoral? Ou esperarão pesquisas do Ibope ou Datafolha para saber quem foi
mais atingido?
PS2- De qualquer maneira, nos próximos dias, a campanha
presidencial se travará nos bastidores.