CARLOS CHAGAS -
Mais
cedo do que se imaginava, começaram as farpas. Como falta mais de um
mês para a eleição, é provável que se transformem em lanças ou punhais. O
primeiro golpe foi dado por Marina Silva, sábado, quando declarou que o
Brasil não precisa de um gerente. Acertou no alvo, pois foi essa a
principal marca de Dilma Rousseff quando se candidatou em 2010: o Brasil
precisava de uma gerentona, mote que a imprensa inteira adotou e que
permanece até hoje.
No
domingo a presidente devolveu a agressão, rotulando de “temeridade” o
comentário da adversária e aumentando o diapasão de sua réplica ao
referir-se à ex-ministra como “quem nunca teve experiência
administrativa. Foi mais adiante justificando a temeridade: “essa
história de que não precisa ter um cuidado na execução de suas obras é
coisa de quem nunca teve experiência administrativa e portanto não sabe o
que é fundamental num país com a complexidade como o Brasil, dar conta
de todas as obras e de programas como o bolsa-família e minha casa,
minha vida, além, da relação com o Congresso, conselhos e entidades”.
Em
seguida, acrescentou que “o chefe do Poder Executivo tem obrigações
claras pela Constituição, não é questão de ser gerente ou não. Isso é
uma visão tecnocrática do problema. O presidente é um executor. O
pessoal está confundindo o presidente da República com algum rei ou
rainha, que de fato só tem representação.” Para concluir, ainda
acrescentou “que nos regimes parlamentaristas quem exerce o poder de
fato é o primeiro-ministro e que é mais fácil ser só um representante do
poder, você anda para baixo a para cima só representando, é o papel dos
presidentes em regimes parlamentaristas”.
Os
comentários de Dilma, feitos a um grupo de jornalistas, dão bem a
tônica de como uma simples farpa feriu fundo. Começa que a Marina não
falta experiência administrativa. Ela exerceu por cinco anos o
ministério do Meio Ambiente, administrando setor delicado do governo
Lula. Depois, seria bom que com todo o respeito de nossa parte, S.
Excia. passasse os olhos em algum livro de Teoria Geral do Estado,
porque parlamentarismo não é regime. É sistema de governo.
Na
expectativa da tréplica, conclui-se a existência de um perigo real e
imediato para os candidatos presidenciais. Do jeito que as coisas
andaram nos primeiros dias da entrada de Marina no palco, a previsão é
de que se transformem num entrevero que agradará a imprensa, mas em nada
contribuirá para esclarecer o eleitor. A presidente Dilma terá mais a
perder do que a adversária, dadas as funções que exerce. Ainda mais
porque Marina prometeu de público que não se candidatará à reeleição…