26.8.14

PERIGO REAL E IMEDIATO

CARLOS CHAGAS -

Mais cedo do que se imaginava, começaram as farpas. Como falta mais de um mês para a eleição, é provável que se transformem em lanças ou punhais. O primeiro golpe foi dado por Marina Silva, sábado, quando declarou que o Brasil não precisa de um gerente. Acertou no alvo, pois foi essa a principal marca de Dilma Rousseff quando se candidatou em 2010: o Brasil precisava de uma gerentona, mote que a imprensa inteira adotou e que permanece até hoje.

No domingo a presidente devolveu a agressão, rotulando de “temeridade” o comentário da adversária e aumentando o diapasão de sua réplica ao referir-se à ex-ministra como “quem nunca teve experiência administrativa. Foi mais adiante justificando a temeridade: “essa história de que não precisa ter um cuidado na execução de suas obras é coisa de quem nunca teve experiência administrativa e portanto não sabe o que é fundamental num país com a complexidade como o Brasil, dar conta de todas as obras e de programas como o bolsa-família e minha casa, minha vida, além, da relação com o Congresso, conselhos e entidades”.

Em seguida, acrescentou que “o chefe do Poder Executivo tem obrigações claras pela Constituição, não é questão de ser gerente ou não. Isso é uma visão tecnocrática do problema. O presidente é um executor. O pessoal está confundindo o presidente da República com algum rei ou rainha, que de fato só tem representação.” Para concluir, ainda acrescentou “que nos regimes parlamentaristas quem exerce o poder de fato é o primeiro-ministro e que é mais fácil ser só um representante do poder, você anda para baixo a para cima só representando, é o papel dos presidentes em regimes parlamentaristas”.

Os comentários de Dilma, feitos a um grupo de jornalistas, dão bem a tônica de como uma simples farpa feriu fundo. Começa que a Marina não falta experiência administrativa. Ela exerceu por cinco anos o ministério do Meio Ambiente, administrando setor delicado do governo Lula. Depois, seria bom que com todo o respeito de nossa parte, S. Excia. passasse os olhos em algum livro de Teoria Geral do Estado, porque parlamentarismo não é regime. É sistema de governo.

Na expectativa da tréplica, conclui-se a existência de um perigo real e imediato para os candidatos presidenciais. Do jeito que as coisas andaram nos primeiros dias da entrada de Marina no palco, a previsão é de que se transformem num entrevero que agradará a imprensa, mas em nada contribuirá para esclarecer o eleitor. A presidente Dilma terá mais a perder do que a adversária, dadas as funções que exerce. Ainda mais porque Marina prometeu de público que não se candidatará à reeleição…