26.8.14

GASTOS COM A JUSTIÇA NÃO TRADUZ SEUS RESULTADOS

ROBERTO MONTEIRO PINHO - 

(...) Quando apontam a Justiça do Trabalho, e a apelidam de “Ilha da Fantasia”, me parece um tanto real, diante das distorções que avistamos em quase todos os seus setores. Hoje os que militam nessa justiça experimentam a sorte de enfrentar um monstrengo eletrônico (PJe -JT), que vem desde a sua implantação promovendo o caos nesse judiciário. 

Muitos questionam por que o Brasil necessita de uma justiça especializada para tratar de assuntos relacionados a contratos de trabalho? Um país de distorções inaceitáveis no campo laboral, onde jogadores e técnicos de futebol que ganham salários de R$ 500 mil, a R$ 1,5 milhão. Artistas de TV ganham R$ 1 milhão a R$ 5 milhões mês e possuem os mesmos direitos de trabalhadores comuns, que recebem salários mínimos, e utiliza essa mesma justiça para a solução das pendências trabalhistas. O fato é que estado sustenta uma máquina judiciária para solução de conflitos na área trabalhista, com orçamento anual de R$ 60 bi, sendo que 93% desse total são para alimentar sua folha de pagamento, e de contrapartida, oferece serviços abaixo da critica, com ações que não se resolvem há anos, muitas duram mais de uma década sem solução. Temos poucas respostas, a não ser que essa justiça tem uma blindagem dos seus atos, e uma péssima imagem junto à sociedade, o que a classifica a níveis inferiores a outras instituições. Mas nem por isso as autoridades superiores exigem, e ou indicam solução para tamanha discrepância e exagerado gasto da verba pública. 

A imprensa vem apresentando quadros comparativos com outras nações desenvolvidas, e os superfuncionários do Brasil aparecem como os mais bem pagos do mundo. Gastamos com o judiciário, por habitante, mais que o dobro da média dos países europeus. Em relação ao PIB, nenhum país europeu se aproxima. 

Na especializada, a impressão que temos é de que todos são súditos perante seus juízes e serventuários. Existe alguma razão para isso? Contemplando os palácios de mármore e vidro da Justiça, os altares erguidos nas salas de audiência para juízes e promotores e o tratamento "Excelentíssimo" dispensado às altas autoridades, quantificam e dimensiona a diferença social entre sociedade e judiciário. Na verdade a proclamação da República Brasileira cometeu um incesto, dividindo e criando classes inferiores, tal qual antes no regime colonial, ao manter privilégios monárquicos aos detentores do poder. A diferença é que, os nobres do Império compravam títulos nobiliárquicos a peso de ouro para que, na qualidade de barões e duques, pudessem se aproximar da majestade imperial e divina da família real. Com a extinção da monarquia, a tradição foi mantida por lei, impondo-se diferenciado tratamento aos "escolhidos", como se a respeitabilidade dos cargos públicos pudesse, numa República, ser medida pela "excelência" do pronome de tratamento.

Decorridos quase 120 anos da proclamação da República, estamos distante ainda mais desse quadro lúgubre, eis que é tão difícil perceber que o respeito devido às autoridades devia ser apenas consequência do equilíbrio e bom senso dos que exercem o poder; que as honrarias oficiais só servem para esconder os ineptos; que, quanto mais incompetente, mais se busca ostentação. Quando apontam a Justiça do Trabalho, e a apelidam de “Ilha da Fantasia”, me parece um tanto real, diante das distorções que avistamos em quase todos os seus setores. Hoje os que militam nessa justiça experimentam a sorte de enfrentar um monstrengo eletrônico (PJe-JT), que vem desde a sua implantação promovendo o caos nesse judiciário. Por sua vez juízes de primeiro grau, ostensivamente se preocupam em se autodenominar de juiz-desembargador, o que nos faz lembrar exatamente a necessidade de autoafirmação, outorga concedida pelas cortes do império. Se não pouco, esses mesmos juízes, são os que mais violam prerrogativas dos advogados, em confronto ao art. 133 da CF, que garante ao advogado o exercício da sua atividade, como essencial a consecução da justiça. Chama-los de nobres ou vetustos?

Recente através de artigo publicado na imprensa, Marcos da Costa, presidente da seccional paulista da Ordem dos Advogados do Brasil, defendeu maior estímulo às vias de negociação que dispensam a interferência do Judiciário. A posição do dirigente é a mesma do Conselho Federal da OAB, que reúne 880 mil advogados. Do lado do judiciário a sua mais alta cúpula, através do ministro Ricardo Lewandowski presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) garantiu que a sua gestão à frente do Poder Judiciário terá como uma de suas marcas o estímulo aos meios alternativos de solução de conflitos. O ministro alertou que existe: "quase 100 milhões de processos em tramitação para apenas 18 mil juízes, dos tribunais federais, estaduais, trabalhistas, eleitorais e militares". Na opinião do ministro, a situação decorre de uma certa mentalidade vigente no universo jurídico brasileiro, segundo a qual "todos os conflitos e problemas sociais serão resolvidos mediante o ajuizamento de um processo". O magistrado lembrou ainda que não há como desafogar o Judiciário sem considerar o peso do maior litigante do país — o poder público está em 51% dos processos em tramitação nos tribunais. Assim entendo que melhor seria, criar uma justiça só para os processos públicos, coibir a judicialização e despojar os juízes da proteção estatal.