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No primeiro debate entre os presidenciáveis,
Aécio e Dilma trocam acusações em torno da Petrobras. Pressionado nas
pesquisas, tucano também atacou “nova política” de Marina.
Marina, Aécio e Dilma mediados por Ricardo Boechat: três horas de debate na esteira de nova pesquisa Ibope |
Nem mensalão, nem aeroporto tucano. No debate entre presidenciáveis
promovido pela TV Bandeirantes na noite desta terça-feira (26), dois dos
temas que poderiam servir de munição entre petistas e tucanos
praticamente não foram discutidos – nem o processo que levou à
condenação e prisão de petistas históricos, nem a construção de
aeroporto em propriedade de familiares do candidato do PSDB, Aécio
Neves, durante sua gestão no governo de Minas Gerais. No vácuo da
animosidade entre os principais concorrentes, coube à candidata Marina
Silva (PSB) os ataques mais veementes contra Dilma (PT) e Aécio, na
tentativa de capitalizar o clamor pela “nova política”, bandeira de sua
campanha.
Aliás, os assuntos embaraçosos para petistas e tucanos foram
mencionados de uma maneira inusitada na introdução do programa, quando
cada um dos sete candidatos participantes respondeu à mesma pergunta
sobre segurança pública. A candidata do Psol, Luciana Genro, dispensou
sua fala sobre a questão e, sob o pretexto de se apresentar ao grande
público, fustigou os três adversários mais fortes de uma só vez: disse
que foi expulsa do PT por não ter compactuado com a política praticada
“pela turma do Dirceu”, que não aceita práticas como a do “aeroporto
tucano” nem é a “candidata da banqueira”, em alusão à amizade de Marina
com a herdeira do Itaú, a socióloga Maria Alice Setúbal.
Além de Dilma, Aécio, Marina e Luciana, o debate reuniu outros três
candidatos: Pastor Everaldo (PSC), Eduardo Jorge (PV) e Levy Fidelix
(PRTB). Durante cerca de três horas e seis blocos de discussão, os
candidatos fizeram perguntas entre si, em sistema de sorteio, e
responderam a questionamentos de jornalistas do Grupo Bandeirantes, com
comentários sobre suas respostas feitos por adversários escolhidos
aleatoriamente pelos profissionais da imprensa.
Confronto direto
A Petrobras foi o tema que provocou a maior troca de farpa entre os
candidatos. Instado a fazer pergunta a um dos colegas, Aécio escolheu
Dilma. Depois de dizer que a petista levou a companhia a perder metade
de seu valor de mercado, após conduzir “com mão de ferro” a empresa,
tanto como ministra quanto como presidente, o tucano afirmou que a
adversária devia explicações e um “pedido de desculpas” ao país.
“A Petrobras hoje, infelizmente, habita mais as páginas policiais dos
jornais do que as páginas econômicas. Não é hora, senhora presidente,
de a senhora, aproveitando esse espaço, pedir desculpas aos brasileiros
pela gestão temerária da nossa maior empresa?”, provocou o tucano.
“Acho que o senhor desconhece a Petrobras”, contra-atacou Dilma.
“Hoje, a Petrobras é a maior empresa da América Latina. Passou de um
valor, em seu governo, de 15 bilhões para 110 bilhões de dólares. A
Petrobras, durante o período do governo Lula e do meu, descobriu e
explorou o pré-sal. Nós levamos 31 anos para produzir 500 mil
barris/dia. Vocês disseram que a gente tinha inventado o pré-sal, que
dali não saía petróleo. Pois bem: em três anos estamos conseguindo tirar
540 mil barris/dia”, disse a presidenta, para quem a Petrobras, em
2018, produzirá 3,8 milhões de barris/dia, transformando o Brasil em
“grande exportador de petróleo”.
Acusando Aécio de leviandade por usar a Petrobras no debate
eleitoral, Dilma disse ainda que não foi o governo do PT que tentou,
como fez o governo tucano, mudar o nome da empresa para “Petrobrax”, por
soar melhor “aos ouvidos ingleses”. Dilma disse ainda que não foi o
governo petista, e sim o de Fernando Henrique Cardoso, que afundou uma
plataforma de mais de R$ 1 bilhão e que jamais permitiu investigações na
empresa, como tem sido feito atualmente pela Polícia Federal, “um órgão
do governo que antes não tinha autonomia para investigar”.
“Nunca escondemos debaixo do tapete os malfeitos e crimes de
corrupção, nunca tivemos relação com o procurador-geral da República em
que era tradicional chamá-lo de ‘engavetador geral da República’”, disse
Dilma, referindo-se a Geraldo Brindeiro, chefe do Ministério Público
Federal no governo Fernando Henrique Cardoso.
Aécio voltou à carga e respondeu que “leviandade é a forma como a
Petrobras vem sendo administrada”. “Não é a oposição que diz, mas a
Polícia Federal, que há uma organização criminosa atuando no seio da
nossa maior empresa. Um colega seu de diretoria, quando a senhora era
presidente do Conselho de Administração, está preso hoje. Todas as
denúncias estão caminhando no sentido de benefícios ao seu partido e a
partidos políticos que lhe dão apoio”, declarou Aécio.
“Nova política”
Até esse ponto do debate, já perto do fim das três horas de
discussão, Marina Silva, que desponta como favorita para um eventual
segundo turno na mais recente pesquisa Ibope,
era uma das mais instadas a falar, seja por presidenciáveis, seja por
jornalistas. Os demais candidatos menos destacados nas pesquisas
tentavam dividir a atenção do telespectador com críticas ao atual
governo.
No caso de Luciana Genro, a crítica foi desferida contra todos os
governos dos últimos 20 anos: para ela, todos com graus variados de
“ortodoxia neoliberal”, com base no tripé econômico que reúne combate à
inflação, taxa de juros e câmbio. Para a candidata do Psol, Dilma, Aécio
e Marina são iguais na política econômica que defendem.
“Os principais três ditos principais candidatos parecem ter
diferenças, mas, em essência, defendem os interesses do grande capital
financeiro. Com essa agenda, não vão atender às vozes do povo. Eles
fingem que estão ouvindo os protestos de junho, mas vão defender os
interesses do capital financeiro”, atacou.
Em um dos embates Aécio-Marina, o tucano – agora ameaçado pela
própria candidata do PSB de não ir ao segundo turno, segundo o novo
quadro eleitoral –, cobrou da ex-senadora “coerência”. “A senhora tem
falado muito sobre a nova política. Disse que não subiria no palanque de
vários políticos, entre eles Geraldo Alckmin [PSDB], reconhecido como
um dos homens públicos mais íntegros deste país. Depois, disse que
contaria com o apoio de José Serra, a quem se recusou a apoiar em 2010. A
senhora não acha que a nova política não precisa de coerência?”,
indagou.
Marina respondeu dando exemplos de alianças que gostaria de fazer.
“Me sinto inteiramente coerente em defender a nova política e combater a
velha polarização que há 20 anos constitui um atraso para o nosso país.
E quando eu disse que não iria subir em palanques, mantive a coerência,
porque não queria fortalecer os partidos da polarização. Quando eu digo
que quero governar com os melhores, reconheço que há pessoas boas em
todos os partidos, mas que os bons estão no banco de reservas”,
observou, citando nomes como os dos senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e
Eduardo Suplicy (PT-SP), dois de seus colegas mais próximos no Senado.
“Se eu ganhar a Presidência, o [tucano José] Serra não vai caminhar
para o caminho mesquinho da oposição pela oposição, como se faz ao Bolsa
Família, que o PSDB tem muita dificuldade em reconhecer. E da
dificuldade do PT de reconhecer a volta da inflação. Me sinto coerente”,
enfatizou.
Ruas
Momentos antes, Marina havia se dirigido a Dilma para dizer que o
governo fracassou na resposta às reivindicações de junho – pactos por
educação, mobilidade, controle da inflação etc. A presidente rebateu a
crítica e afirmou que “tudo deu certo”. A petista citou avanços de sua
gestão que, segundo ela, foram impulsionados pelos protestos de junho,
como a lei que garante destinação de 75% dos royalties do petróleo para a
educação e 25% para saúde, além de programas como o Mais Médicos.
“A cobertura é de 50 milhões de pessoas, em todo o Brasil, que antes
não tinham médicos. A inflação está sistematicamente sendo reduzida.
Enviamos a reforma política, ela não foi aprovada pelo Congresso”,
lembrou Dilma, para quem reformas de fato vão partir de participação
popular e instrumentos como plebiscito. A presidente continuou louvando
os próprios feitos. “Criamos empregos em um momento em que o mundo
inteiro desemprega. Criamos as condições para um novo ciclo de
crescimento.”
Marina contestou dizendo ser fundamental para governos avaliar os
erros e “reconhecer que eles existem”. “Uma das coisas mais importantes
para que a gente possa reconhecer os problemas é, em primeiro lugar,
reconhecer que eles existem. Quando a gente não os reconhece, não passa
nenhuma esperança para a população de que, de fato, eles serão
enfrentados. Esse Brasil colorido que a presidente acaba de mostrar,
quase cinematográfico não existe na vida das pessoas”, disse Marina,
para quem o governo naufraga devido às alianças baseadas em troca de
favores em detrimento do povo.
Alvos prioritários dos ataques, Dilma se dirigiu a Aécio e comparou
as gestões petista e tucana. Disse que o Brasil expõe as menores taxas
de desemprego mesmo em plena crise financeira internacional. E que, com
FHC, o desemprego era mais do que o dobro do que é hoje. Foi quando
lembrou as medidas impopulares que Aécio teria defendido em um eventual
governo tucano (arrocho salarial, extinção de cargos, aumento da carga
tributária etc), constrangendo-lhe a explicitar quais seriam elas.
“Me sinto lisonjeado quando a senhora me olha e enxerga em mim o
ex-presidente FHC. Quem sempre discute política olhando pra trás é
porque tem medo do futuro ou não tem o que dizer. É preciso que a
senhora reconheça que um país que não cresce não gera empregos”, disse
Aécio, para quem o governo não tem credibilidade, promove ações
desastradas e desconexas, e “surfou nos avanços” do governo antecessor.
“Reconhecer a contribuição de outros governos é um gesto de grandeza
que tem faltado ao seu governo”, reclamou Aécio. Dilma rebateu dizendo
que “o PSDB quebrou três vezes o Brasil”.
Salada ideológica
Ao longo do debate, Pastor Everaldo e Eduardo Jorge manifestaram
posições diametralmente opostas. O primeiro, de olho no eleitorado
evangélico, defendeu a família tradicional e a livre iniciativa, com
diminuição do peso do Estado na economia. Já Eduardo falou abertamente
de temas espinhosos como a descriminalização do aborto e a legalização
das drogas como caminho para o combate mais eficaz à violência.
Luciana Genro fez coro a Eduardo Jorge e perguntou a Everaldo –
argumentando que não o chamaria de pastor por não gostar de confundir
política com religião – se ele não se sentia responsável pelas mortes de
homossexuais, uma vez que seu partido, o PSC, desaprova a relação
afetiva entre pessoas do mesmo sexo. Everaldo disse não ser
preconceituoso e que “não existe povo mais tolerante do que o cristão
verdadeiro”.
Um dos menos acionados no debate, Levy Fidelix batia nas teclas da
revisão rigorosa nas contas públicas e da diminuição da dívida interna.
E, quando poderia ter partido para o ataque, abriu espaço para Aécio ao
perguntar-lhe sobre como lidaria com a questão do transporte público –
tema caro aos tucanos de São Paulo, às voltas com denúncias de corrupção
no setor. “A grande verdade é que o atual governo demonizou as
parcerias com o setor privado”, comentou Aécio.
Enquete
Logo após o encerramento do debate, já depois de 1h da manhã desta quarta-feira, fizemos uma enquete relâmpago na página do Congresso em Foco no Twitter para
saber quem, na opinião dos nossos seguidores, se saiu melhor no debate.
Os resultados deram vantagem a Marina Silva, com 16 menções.
Vieram em seguida Aécio, com 12 citações; Eduardo Jorge, com sete;
Dilma, com cinco; Luciana Genro, com três; e Levy Fidelix, com uma
menção. O Pastor Everaldo não foi citado.
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