CARLOS CHAGAS -
O
que faz o povão preferir Marina Silva? Foi pobre, nasceu e morou no
meio da floresta, passou fome, aprendeu a ler e escrever aos dezesseis
anos, pegou doenças que traz até hoje, é negra, evangélica, dedicou-se
ao ambientalismo e à preservação da Amazônia, enfrentou o poder
econômico, foi ministra do Lula e obteve 20 milhões de votos na última
eleição presidencial.
Essas
qualidades, e outras, fazem a candidata identificar-se com a maioria do
eleitorado e justificam sua preferência, mas há outro fator essencial:
seus concorrentes não sensibilizam o eleitorado. Apresentam lacunas que
agora sobressaem em qualquer comparação. Dilma Rousseff, no exercício do
poder, não empolgou. Apesar da farta propaganda de seu governo, saltam
aos olhos deficiências fundamentais na educação e na saúde públicas, nos
transportes coletivos, na infraestrutura e na economia. Além de sua
postura autoritária e distante. Pelo jeito, nem sua aproximação com o
Lula será capaz de evitar a derrota no segundo turno. Sequer seu passado
de guerrilheira que jamais pegou em armas, mesmo torturada a presa pela
ditadura.
Quanto
a Aécio Neves, apesar do dever de casa bem feito, duas vezes governador
de Minas, presidente da Câmara e senador, entra na disputa sem uma
forte mensagem. Promete repetir a administração tucana de Fernando
Henrique, fator negativo pela própria natureza. No máximo, assegura a
continuidade do bolsa-família e outros programas assistencialistas, mas
nenhuma proposta social em condições de mudar a vida dos menos
favorecidos. Sua característica de produto do establishment funciona
contra ele.
Sendo
assim, explica-se porque Marina, tornada candidata por um golpe do
destino, apresenta-se em patamar bem superior ao antes ocupado por
Eduardo Campos e vai deixando os adversários para trás. Já supera Dilma,
no segundo turno, por nove pontos percentuais. Continuando as coisas
como vão, a ex-senadora pode vencer a eleição, ainda que grande esforço
esteja sendo preparado pelo Lula e pelo PT. O vento, porém, sopra do
outro lado. O que a candidata do PSB não pode é considerar-se vitoriosa
antes de a última tecla ser digitada nas maquininhas de votar, no final
de outubro.
SEGUNDO TURNO EM SÃO PAULO?
A
mais recente pesquisa revela que Paulo Skaf passou de 11 para 20 por
cento nas preferências paulistas, apesar de Geraldo Alckmin continuar
com 55. A meta do candidato do PMDB é crescer a ponto de levar a eleição
para o segundo turno. Nessa hipótese, tudo poderá acontecer, já que o
PT e penduricalhos jamais votariam no atual governador. Resta saber que
tipo de aliança eles poderiam celebrar.