Por JUCA KFOURI - Via UOL Esporte -
Reproduzo abaixo minhas duas colunas publicadas na
“Folha de S.Paulo”, anteontem e ontem, em homenagem ao centenário da
Sociedade Esportiva Palmeiras.
O PRIMEIRO de que me lembro é o Palmeiras supercampeão paulista de
1959, com Djalma Santos, Chinesinho, Julinho e Romeiro, este porque
autor do gol, batendo falta, que deu o título contra o Santos de Pelé,
no terceiro jogo para desempatar o campeonato.
O segundo, o
campeão de 1963, além do Santos tinha Djalma Dias, ainda com Julinho
Botelho, além de Vavá, o Peito de Aço, e uma divindade, Ademir da Guia, o
Divino, o melhor dos que vestiram a camisa da Academia.
O
terceiro é o campeão de 1966, todos começando por um goleiro baixo,
Valdir de Moraes, que se agigantava debaixo das traves e foi pioneiro na
profissão de treinador de goleiros.
Um ano antes, o Palmeiras
conquistara o Rio-São Paulo, vencendo os dois turnos e evitando que
houvesse uma decisão entre os ganhadores de cada turno. Numa época em
que a vitória valia dois pontos, o título foi conquistado com 10 de
vantagem sobre o Vasco, 27 pontos em 32 possíveis, apenas uma derrota,
12 vitórias.
Impossível gostar de futebol e não se deliciar com aqueles Palmeiras.
Tradição
que viria a se confirmar em 1969, com mais uma Taça de Prata, o
verdadeiro Campeonato Brasileiro antes de assumir o nome, com Dudu e
Ademir da Guia, dupla histórica no meio de campo, Baldochi na zaga,
Émerson Leão no gol, César Maluco com a 9, um espanto, além de Luís
Artime, um argentino que quase só pegava na bola para fazer o gol — 57
jogos e 49 gols pelo Palestra, 24 gols em 25 jogos pela seleção de seu
país.
Em seguida, os bicampeões brasileiros de 1972/73, com
Leivinha fazendo companhia a Luís Pereira para reforçar ainda mais o que
já era covardia, façanha que se repetiria em 1993/1994, com outra
constelação, formada por estrelas como César Sampaio, Mazinho, Roberto
Carlos, Edmundo, Evair, eterno Evair, Zinho, Rivaldo, mamma mia!
Mal
sabia eu que o melhor ainda estava por vir, um time que, em 1996,
arrastava torcedores de todas as cores para vê-lo desfilar, pena que
tenha durado apenas um estadual, porque nada devia para os melhores
times de todos os tempos: tinha Cafu, Júnior, Djalminha, Rivaldo,
Luizão, Muller, uma seleção, que marcou 102 gols, 3,4 gols por jogo,
sofreu 19, média de 0, 6, 27 vitórias, dois empates e só perdeu uma vez,
28 pontos à frente do vice-campeão.
Depois, é claro, tem o
Palmeiras campeão continental de 1999, que começava com um santo, São
Marcos, e seguia com Arce, Roque Júnior, o verdadeiro mago Alex, Zinho,
além de Cléber, Paulo Nunes.
Ah, e teve ainda um Palestra que não vi, mas que, em 1927, ganhou uma tal Taça Kfouri…
Marcos,
Djalma Santos, Djalma Dias, Luís Pereira e Roberto Carlos; César
Sampaio, Djalminha e Ademir; Julinho, Evair e Rivaldo, os 11!
Parabéns, Verdão!
Verde que te quero ver
QUANDO
DESPERTAVA para o futebol vi meu time ser campeão estadual pela 15a.
vez ao empatar com o Palmeiras, em fevereiro de 1955, no histórico
título de 1954, o do IV Centenário de São Paulo.
Então, as glórias eram quase todas contadas pelo que acontecia em nossa aldeia e meu time era o maior.
Quando já estava bem acordado para o futebol, vi o Palmeiras superar o Santos de Pelé e ganhar seu 13o. Campeonato Paulista.
Meu
time já jejuava havia cinco anos e o Palmeiras seguiu enfileirando
conquistas até que, em 1976, livrou três taças de vantagem, a 18a. Em
1966 tinha empatado nos 15 e, em 1972, invicto, superado o Corinthians.
O
grande rival aparentemente rivalizava também em número de torcedores,
quando ainda não existiam as pesquisas para medir tamanho de torcidas.
O Palmeiras era mais que uma pedra no sapato alvinegro: era uma rocha que parecia inalcançável.
Seguiu
sendo anos afora, porque atingia o mesmo número de Taças Rio-São Paulo e
começava a colecionar troféus nacionais, como duas Taças do Brasil e
quatro títulos brasileiros em 1967/69/72 e 1973.
Meu sofrido time só saiu da fila estadual em 1977 e nacional em 1990.
Havia ainda a polêmica sobre o que valia mais, a Copa Rio de 1951, ganha pelo Palmeiras em torneio com o grande Vasco e a Juventus italiana, entre outros, ou a Pequena Taça do Mundo de 1953, na Venezuela, vencida pelo Corinthians, contra Barcelona e Roma.
Havia ainda a polêmica sobre o que valia mais, a Copa Rio de 1951, ganha pelo Palmeiras em torneio com o grande Vasco e a Juventus italiana, entre outros, ou a Pequena Taça do Mundo de 1953, na Venezuela, vencida pelo Corinthians, contra Barcelona e Roma.
Meu pai, de quem herdei a paixão, não tinha dúvida em dizer que a glória alviverde era maior.
Nos
anos 90 as coisas se equilibraram embora o Palmeiras tenha vencido
primeiro a Libertadores e impedido duas vezes que o Corinthians a
decidisse.
Verdade que ao Mundial de clubes o meu chegou primeiro e, diz a Fifa, duas vezes.
Tudo
isso para dizer que não acho nenhuma graça em ver o Palmeiras na
Segunda Divisão, como já vi por duas vezes e não quero pela terceira,
assim como não achei, admito, ainda mais, graça alguma em sofrer com o
meu time nela.
Há males que não se desejam nem para os inimigos,
muito menos para adversários, principalmente quando um rival que
alimenta a sua grandeza.
A falta do dérbi paulistano em quaisquer
torneios que se disputem apenas apequena o próprio torneio. Daí querer
ver o Verde Imponente de novo — e de novo, e de novo.
Não tenho a
receita imediata, mas sei que passa pela urgente pacificação política no
clube, sem vendetas suicidas tão a gosto da brava colônia italiana que
lhe trouxe à luz para brilhar como um dos maiorais do mundo da bola.
Que
quando setembro vier, depois da celebração de amanhã, o vinho santo
afaste os cálices do rancor e transforme a dor em alegria por mais um
século.
É o que quer este maduro corintiano.