26.8.14

100 ANOS DE GLÓRIAS

Por JUCA KFOURI - Via UOL Esporte -

Reproduzo abaixo minhas duas colunas publicadas na “Folha de S.Paulo”, anteontem e ontem, em homenagem ao centenário da Sociedade Esportiva Palmeiras. 
O PRIMEIRO de que me lembro é o Palmeiras supercampeão paulista de 1959, com Djalma Santos, Chinesinho, Julinho e Romeiro, este porque autor do gol, batendo falta, que deu o título contra o Santos de Pelé, no terceiro jogo para desempatar o campeonato.

O segundo, o campeão de 1963, além do Santos tinha Djalma Dias, ainda com Julinho Botelho, além de Vavá, o Peito de Aço, e uma divindade, Ademir da Guia, o Divino, o melhor dos que vestiram a camisa da Academia.

O terceiro é o campeão de 1966, todos começando por um goleiro baixo, Valdir de Moraes, que se agigantava debaixo das traves e foi pioneiro na profissão de treinador de goleiros.

Um ano antes, o Palmeiras conquistara o Rio-São Paulo, vencendo os dois turnos e evitando que houvesse uma decisão entre os ganhadores de cada turno. Numa época em que a vitória valia dois pontos, o título foi conquistado com 10 de vantagem sobre o Vasco, 27 pontos em 32 possíveis, apenas uma derrota, 12 vitórias.

Impossível gostar de futebol e não se deliciar com aqueles Palmeiras.

Tradição que viria a se confirmar em 1969, com mais uma Taça de Prata, o verdadeiro Campeonato Brasileiro antes de assumir o nome, com Dudu e Ademir da Guia, dupla histórica no meio de campo, Baldochi na zaga, Émerson Leão no gol, César Maluco com a 9, um espanto, além de Luís Artime, um argentino que quase só pegava na bola para fazer o gol — 57 jogos e 49 gols pelo Palestra, 24 gols em 25 jogos pela seleção de seu país.

Em seguida, os bicampeões brasileiros de 1972/73, com Leivinha fazendo companhia a Luís Pereira para reforçar ainda mais o que já era covardia, façanha que se repetiria em 1993/1994, com outra constelação, formada por estrelas como César Sampaio, Mazinho, Roberto Carlos, Edmundo, Evair, eterno Evair, Zinho, Rivaldo, mamma mia!

Mal sabia eu que o melhor ainda estava por vir, um time que, em 1996, arrastava torcedores de todas as cores para vê-lo desfilar, pena que tenha durado apenas um estadual, porque nada devia para os melhores times de todos os tempos: tinha Cafu, Júnior, Djalminha, Rivaldo, Luizão, Muller, uma seleção, que marcou 102 gols, 3,4 gols por jogo, sofreu 19, média de 0, 6, 27 vitórias, dois empates e só perdeu uma vez, 28 pontos à frente do vice-campeão.

Depois, é claro, tem o Palmeiras campeão continental de 1999, que começava com um santo, São Marcos, e seguia com Arce, Roque Júnior, o verdadeiro mago Alex, Zinho, além de Cléber, Paulo Nunes.

Ah, e teve ainda um Palestra que não vi, mas que, em 1927, ganhou uma tal Taça Kfouri…

Marcos, Djalma Santos, Djalma Dias, Luís Pereira e Roberto Carlos; César Sampaio, Djalminha e Ademir; Julinho, Evair e Rivaldo, os 11!

Parabéns, Verdão! 

Verde que te quero ver 

QUANDO DESPERTAVA para o futebol vi meu time ser campeão estadual pela 15a. vez ao empatar com o Palmeiras, em fevereiro de 1955, no histórico título de 1954, o do IV Centenário de São Paulo.

Então, as glórias eram quase todas contadas pelo que acontecia em nossa aldeia e meu time era o maior.

Quando já estava bem acordado para o futebol, vi o Palmeiras superar o Santos de Pelé e ganhar seu 13o. Campeonato Paulista.

Meu time já jejuava havia cinco anos e o Palmeiras seguiu enfileirando conquistas até que, em 1976, livrou três taças de vantagem, a 18a. Em 1966 tinha empatado nos 15 e, em 1972, invicto, superado o Corinthians.

O grande rival aparentemente rivalizava também em número de torcedores, quando ainda não existiam as pesquisas para medir tamanho de torcidas.

O Palmeiras era mais que uma pedra no sapato alvinegro: era uma rocha que parecia inalcançável.

Seguiu sendo anos afora, porque atingia o mesmo número de Taças Rio-São Paulo e começava a colecionar troféus nacionais, como duas Taças do Brasil e quatro títulos brasileiros em 1967/69/72 e 1973.

Meu sofrido time só saiu da fila estadual em 1977 e nacional em 1990.
Havia ainda a polêmica sobre o que valia mais, a Copa Rio de 1951, ganha pelo Palmeiras em torneio com o grande Vasco e a Juventus italiana, entre outros, ou a Pequena Taça do Mundo de 1953, na Venezuela, vencida pelo Corinthians, contra Barcelona e Roma.

Meu pai, de quem herdei a paixão, não tinha dúvida em dizer que a glória alviverde era maior.

Nos anos 90 as coisas se equilibraram embora o Palmeiras tenha vencido primeiro a Libertadores e impedido duas vezes que o Corinthians a decidisse.

Verdade que ao Mundial de clubes o meu chegou primeiro e, diz a Fifa, duas vezes.

Tudo isso para dizer que não acho nenhuma graça em ver o Palmeiras na Segunda Divisão, como já vi por duas vezes e não quero pela terceira, assim como não achei, admito, ainda mais, graça alguma em sofrer com o meu time nela.

Há males que não se desejam nem para os inimigos, muito menos para adversários, principalmente quando um rival que alimenta a sua grandeza.

A falta do dérbi paulistano em quaisquer torneios que se disputem apenas apequena o próprio torneio. Daí querer ver o Verde Imponente de novo — e de novo, e de novo.

Não tenho a receita imediata, mas sei que passa pela urgente pacificação política no clube, sem vendetas suicidas tão a gosto da brava colônia italiana que lhe trouxe à luz para brilhar como um dos maiorais do mundo da bola.

Que quando setembro vier, depois da celebração de amanhã, o vinho santo afaste os cálices do rancor e transforme a dor em alegria por mais um século.

É o que quer este maduro corintiano.