13.6.14

O PACTO SOCIAL E AS ELEIÇÕES DE 2014

Via MÍDIA Democrática -

Os setores político-empresariais que deram sustentação à ditadura fizeram, a partir de 1979, um chamado ao conjunto das organizações sociais e políticas brasileiras a firmar um pacto social. As organizações da classe trabalhadora do campo e da cidade disseram um rotundo “não” a essa chamado. Quando das eleições indiretas pelo colégio eleitoral a CUT dizia o seguinte: “Temos que exigir que as diretas sejam marcadas Já. Temos que repudiar o Colégio Eleitoral”. O MST diante do caráter reacionário da Constituinte em relação à questão agrária, dizia: “transformar em carvão a constituição”.

O pacto social era denunciado como a realização da tese do general Geisel para a transição política no Brasil, que segundo ele deveria ser lenta, gradual e segura. Segura, por óbvio, para as classes dominantes.

A estabilização neoliberal, ainda no governo Itamar, marcou o início de um longo refluxo das lutas sociais, de reunificação dos setores da burguesia e da consequente hegemonia ideológica, econômica e política das classes dominantes. Duas derrotas sucessivas para FHC não deixaram o projeto democrático e popular ilesos. Mas até dezembro de 2001, o Partido dos Trabalhadores defendia uma crítica ao regime político e econômico, mesmo que de forma tímida.

A Carta ao Povo Brasileiro, em junho de 2002, modifica essa aposta. Ali dizia claramente que a mudança de modelo “será fruto de uma ampla negociação nacional, que deve conduzir a uma autêntica aliança pelo país, a um novo contrato social, capaz de assegurar o crescimento com estabilidade” e completava:

“Premissa dessa transição será naturalmente o respeito aos contratos e obrigações do país”. Tratou-se de uma virada programática histórica e resultou também em uma histórica vitória eleitoral. Mas há alguém que não reconheça que a parte mais significativa da burguesia e boa parte da direita política (Sarneys, Calheiros, Kassabs) conquistaram um espaço crescente nesses governos?

Simbolizado pelo entrelaçamento de dedos do Lula construiu-se um pacto pró-capitalista. A ideia de que a acumulação e expansão do capital pode gerar benefícios para as classes subalternizadas. O aumento real do salário-mínimo, por exemplo, é uma vitrine desse ideário.

A questão que se coloca é: estamos conformados com o pacto social? Ou é chegada a hora de avançar para romper com ele, nos apoiar na mobilização social e fazer as mudanças estruturais que rompam com a estrutura desigual e patrimonialista do Brasil? Fazer reforma agrária, auditoria da dívida pública, reforma urbana, retomar o controle público sobre as reservas de petróleo e minerais, taxar as grandes fortunas…?

Antonio Gramsci afirmava que a escolha baseada na opção pelo menos pior nos leva a capitular aos poucos e não de uma só vez. Walter Benjamin afirma que “cada época deve tentar arrancar a tradição da esfera do conformismo que tenta dominá-la”.

Nas eleições 2014 devemos atuar em torno da polarização das candidaturas pró-capitalistas representados pelos 3 projetos majoritários nas pesquisas (Dilma, Aécio, Campos)? Ou sinalizar para as gerações que irrompem a conjuntura com marchas e greves que, para construir uma sociedade com avanços reais e permanentes para os de baixo, é necessário romper com os de cima e construir um governo de mobilização popular, com ampliação da democracia e com um ataque concreto à concentração patrimonial e de renda?

Nada mais pernicioso diante do evidente ascenso das lutas sociais do que a disseminação do conformismo. Nada mais contraproducente para a construção de uma nova sociedade do que afirmar a inevitabilidade da velha sociedade. Nada mais decepcionante para os que almejam a transformação social do que supostos socialistas que defendem a ordem do capital.

*Texto de Carlos Bittencourt, historiador e militante da Insurgência do PSoL.