CARLOS CHAGAS -
Vem
sendo constante, de dois meses para cá, a queda da presidente Dilma nas
pesquisas a respeito da sucessão presidencial. De uma tranquila vitória
no primeiro turno, deixando os adversários lá em baixo, ela vê
diminuírem seus percentuais a ponto não apenas de precisar enfrentar uma
segunda votação, mas, continuando as coisas como vão, de disputar a
eleição com Aécio Neves.
O que parecia inadmissível configura-se como hipótese viável, vale repetir, se a tendência não for revertida.
Para os
detentores do poder, do PT a aliados que resistem em abandonar o barco,
seria um desastre. Por isso volta a crescer a proposta de substituição
de Dilma pelo Lula, mas mesmo os defensores dessa troca inusitada
começam a raciocinar: e se o ex-presidente feito candidato também
sofresse o impacto da reviravolta e se encontrasse diante da perspectiva
de derrota? Não seria melhor poupá-lo e aguardar 2018? Afinal, para um
partido que nasceu e cresceu na oposição, mesmo traumática a perda do
poder não seria mortal. Poderia, até, estimular a renovação de seus
quadros, afastando companheiros que quando tornados governo perderam a
garra de tempos anteriores, trocando a proposta de mudar o Brasil pelas
benesses e facilidades do usufruto do governo.
Dizia o
saudoso dr. Ulysses que pior do que o atual Congresso, só o próximo.
Mesmo assim, no PT, começa a germinar o raciocínio de que junto com os
esforços para manter a presidência da República, em outubro, é preciso
jogar todas as fichas na preservação e até no crescimento de suas
bancadas no Congresso. Para isso, no entanto, torna-se necessário o
partido reciclar-se. Se não refundar-se, ao menos recuperar o tempo
perdido desde a posse do Lula e avançar propostas hoje esmaecidas e até
abandonadas.
Em vez
de continuarem acoplados ao neoliberalismo herdado de Fernando Henrique e
seus tucanos, por que não voltar ao período de luta por conquistas
sociais caracterizadas por mudanças fundamentais nas instituições
vigentes? Que tal pregar a revisão nas privatizações endossadas por Lula
e Dilma, fazendo retornar ao patrimônio público a Vale do Rio Doce, a
Companhia Siderúrgica Nacional, o sistema ferroviário, as rodovias e os
portos entregues à iniciativa privada? Ou limitar a hoje escancarada
política de remessa de lucros das multinacionais para suas matrizes,
obrigando a reinvestirem no Brasil o que ganharam aqui? No mínimo
duplicar o salário mínimo e restabelecer o salário família em níveis
compatíveis com as necessidades dos menos favorecidos? E quanto a
libertar a indústria nacional das tenazes internacionais que nos fizeram
retornar aos tempos da exclusiva exportação de matéria-prima e da
importação de manufaturados? Participação dos empregados no lucro das
empresas, cogestão, volta à estabilidade no emprego, proibição de
demissões imotivadas.
Existem
outras necessidades ditadas pelo avanço da tecnologia e da ciência:
produção estatal de medicamentos populares a preços módicos, transportes
públicos gratuitos, punição aos abusos dos planos de saúde,
transformação de estádios de futebol em universidades durante a semana,
obrigação de as montadoras produzirem caminhões, ônibus e tratores na
proporção em que produzem veículos de passeio, incentivo às pesquisas e
quanta coisa a mais, que as elites logo rotularão de anacrônicas e
ultrapassadas, mas tão necessárias quanto a roda, depois de tantos
milênios de sua invenção?