SEBASTIÃO NERY -
Alegrete, no Rio
Grande do Sul, estava em festa. O Cruzeiro de Porto Alegre tinha chegado à
cidade para jogar contra o Alegrete Esporte Clube.
Banda de música,
rodeio, bombacha e chimarrão. Um ardor cívico. Na hora do jogo, a tragédia.
O goleiro tinha
tomado um porre de vinho e roncava no canto do vestiário. O reserva tinha caído
do cavalo, quebrado a perna. O outro reserva fugira na véspera com a namorada.
A solução era o circo.
Foram buscar
“Adalardo”, o macaco prodígio, que agarrava coco nos quatro cantos do
picadeiro.
ADALARDO
“Adalardo” não
negou fogo. Vestido com a camisa número um, piscando o olho e coçando a cabeça
debaixo da trave, pegava tudo quanto era bola. E ainda cuspia no centroavante.
Foi um delírio.
“Adalardo”, acostumado aos aplausos, fazia pontes e defesas sensacionais.
Alegrete berrava e cantava a trave fechada e a vitória. Mas houve um pênalti.
Contra o Alegrete.
“Adalardo”
compreendeu que tinham mudado a regra do jogo. Era sujeira. A cidade inteira
olhava para ele calada. Por que não batiam palmas? Por que não aplaudiam?
A culpa era
certamente daquele homem de preto que tinha botado a bola ali na frente e
mandado outro chutar.
O outro chutou,
a bola entrou. “Adalardo” enlouqueceu. Saiu da trave, deu uns urros no meio do
campo, avançou em cima do homem de preto e arrancou o dedo do juiz.
A VAIA
A presidente
Dilma sabia que, quando aparecesse no estádio na solenidade de abertura da
Copa, ou em qualquer outro dia, seria vaiada.
Lula, caráter
sem jaça, velho fujão, pulou logo fora. Ficou em casa, não foi. Mas Dilma tinha
que ir. Ir e falar. Foi assim em todas as Copas, em todos os países, com todos
os presidentes, até a rainha da Inglaterra. Todos sempre abriram as Copas.
Todos sempre falaram. Ela decidiu a pior solução : a da covardia. Ir sem ir. Ir
escondida, disfarçada, e não falar.
Proibiu as
televisões de filma-la. Proibiu o telões de mostrar-lhe a cara. Certa de que
atrás do Michel e da Fifa daria tudo certo.
PALAVRÕES
Mas deu azar.
Por erro ou por inspiração patriótica de alguém, de repente, logo depois do
hino nacional, aparece, toda inteira, no telão, a cara dela. E uma vaia
incontrolável, uníssona, bravíssima, irrompe no estádio inteiro.
Depois, outra
vez, mais outra vez, varias vezes. E lá no fundo da tribuna de honra, atrás do
gringo da Fifa e do vice Michel Temer, a televisão mostrou aquela mulher, antes
tão enérgica, de reponte humilhada, amofinada, escondendo as envergonhadas
mãos.
E a multidão,
até então eufórica, esfuziante e civilizada, surpreendentemente apelou. Começou
a gritar-lhe insultantes e ritmados palavrões, o que jamais havia acontecido no
pais com tal fúria. Era mesmo para agredir. Como se o macaco Adalardo lhe
tivesse arrancado o dedo.
OSVALDO ARANHA
Na mesma Alegrete, que os habitantes chamam de
“a Londres gaúcha” e por isso apelidada de “Alegraite”, havia um famoso cabaré:
o “Lulu” dos Caçadores.
Toda noite tinha
uma briga. Ia tudo calmo, tudo alegre, mas quando dava duas horas, era batata.
A briga estourava.
Depois da
Revolução de 30, Oswaldo Aranha, muito jovem, foi ser prefeito de Alegrete.
Sabia do “Lulu dos Caçadores”, sabia das brigas.
Uma noite,
apareceu lá, bebeu, saiu às três da manhã, não houve briga nenhuma. Gostou,
voltou. No dia seguinte, estava lá de novo. E no outro, no outro. As brigas
acabaram.
No quinto dia,
quando Oswaldo Aranha entrou, pendurada na parede do cabaré, estava uma faixa
grande: “Dr. Oswaldo Aranha, acabaram-se as considerações”. Às duas da manhã, a
pancadaria começou.
RANCOR
Nos dois governos de Lula houve vaia no
Maracanã mas vaia comum, apoteótica mas civilizada. Dilma também já foi vaiada.
Mas politicamente. Agora, não.
O PT tanto
abusou, tanto enfiou as mãos nos cofres públicos, Dilma tanto mentiu que o pais
perdeu a paciência. Acabaram-se as considerações.
Esse rancor não é brasileiro.
É filho do PT.