15.6.14

O DEDO DE DILMA

SEBASTIÃO NERY - 

Alegrete, no Rio Grande do Sul, estava em festa. O Cruzeiro de Porto Alegre tinha chegado à cidade para jogar contra o Alegrete Esporte Clube. 

Banda de música, rodeio, bombacha e chimarrão. Um ardor cívico. Na hora do jogo, a tragédia. 

O goleiro tinha tomado um porre de vinho e roncava no canto do vestiário. O reserva tinha caído do cavalo, quebrado a perna. O outro reserva fugira na véspera com a namorada. A solução era o circo. 

Foram buscar “Adalardo”, o macaco prodígio, que agarrava coco nos quatro cantos do picadeiro. 

ADALARDO 

“Adalardo” não negou fogo. Vestido com a camisa número um, piscando o olho e coçando a cabeça debaixo da trave, pegava tudo quanto era bola. E ainda cuspia no centroavante. 

Foi um delírio. “Adalardo”, acostumado aos aplausos, fazia pontes e defesas sensacionais. Alegrete berrava e cantava a trave fechada e a vitória. Mas houve um pênalti. Contra o Alegrete. 

“Adalardo” compreendeu que tinham mudado a regra do jogo. Era sujeira. A cidade inteira olhava para ele calada. Por que não batiam palmas? Por que não aplaudiam? 

A culpa era certamente daquele homem de preto que tinha botado a bola ali na frente e mandado outro chutar. 

O outro chutou, a bola entrou. “Adalardo” enlouqueceu. Saiu da trave, deu uns urros no meio do campo, avançou em cima do homem de preto e arrancou o dedo do juiz. 

A VAIA 

A presidente Dilma sabia que, quando aparecesse no estádio na solenidade de abertura da Copa, ou em qualquer outro dia, seria vaiada. 

Lula, caráter sem jaça, velho fujão, pulou logo fora. Ficou em casa, não foi. Mas Dilma tinha que ir. Ir e falar. Foi assim em todas as Copas, em todos os países, com todos os presidentes, até a rainha da Inglaterra. Todos sempre abriram as Copas. Todos sempre falaram. Ela decidiu a pior solução : a da covardia. Ir sem ir. Ir escondida, disfarçada, e não falar. 

Proibiu as televisões de filma-la. Proibiu o telões de mostrar-lhe a cara. Certa de que atrás do Michel e da Fifa daria tudo certo. 

PALAVRÕES 

Mas deu azar. Por erro ou por inspiração patriótica de alguém, de repente, logo depois do hino nacional, aparece, toda inteira, no telão, a cara dela. E uma vaia incontrolável, uníssona, bravíssima, irrompe no estádio inteiro. 

Depois, outra vez, mais outra vez, varias vezes. E lá no fundo da tribuna de honra, atrás do gringo da Fifa e do vice Michel Temer, a televisão mostrou aquela mulher, antes tão enérgica, de reponte humilhada, amofinada, escondendo as envergonhadas mãos. 

E a multidão, até então eufórica, esfuziante e civilizada, surpreendentemente apelou. Começou a gritar-lhe insultantes e ritmados palavrões, o que jamais havia acontecido no pais com tal fúria. Era mesmo para agredir. Como se o macaco Adalardo lhe tivesse arrancado o dedo. 

OSVALDO ARANHA

Na mesma Alegrete, que os habitantes chamam de “a Londres gaúcha” e por isso apelidada de “Alegraite”, havia um famoso cabaré: o “Lulu” dos Caçadores. 

Toda noite tinha uma briga. Ia tudo calmo, tudo alegre, mas quando dava duas horas, era batata. A briga estourava. 

Depois da Revolução de 30, Oswaldo Aranha, muito jovem, foi ser prefeito de Alegrete. Sabia do “Lulu dos Caçadores”, sabia das brigas. 

Uma noite, apareceu lá, bebeu, saiu às três da manhã, não houve briga nenhuma. Gostou, voltou. No dia seguinte, estava lá de novo. E no outro, no outro. As brigas acabaram. 

No quinto dia, quando Oswaldo Aranha entrou, pendurada na parede do cabaré, estava uma faixa grande: “Dr. Oswaldo Aranha, acabaram-se as considerações”. Às duas da manhã, a pancadaria começou. 

RANCOR 

Nos dois governos de Lula houve vaia no Maracanã mas vaia comum, apoteótica mas civilizada. Dilma também já foi vaiada. Mas politicamente. Agora, não. 

O PT tanto abusou, tanto enfiou as mãos nos cofres públicos, Dilma tanto mentiu que o pais perdeu a paciência. Acabaram-se as considerações.

Esse rancor não é brasileiro. É filho do PT.