HELIO
FERNANDES -
Getúlio Vargas não gostava de voto, urna,
representatividade. Em 1930 tomou o poder, já perdera uma disputa para Julio
Prestes, governador de São Paulo, eleito para suceder o também paulista
Washington Luiz. Não havia eleição e sim escolha pelo partido único, o
Republicano.
A prática era a mesma e funcionou (?) durante 41 anos
da chamada “República Velha”. Os presidentes escolhiam o sucessor, mandavam
telegrama aos governadores pedindo apoio. Todos apoiavam, respondiam afirmativamente.
João
Pessoa não concordou
Governador da Paraíba, sobrinho do futuro presidente
Epitácio Pessoa (que em 1919 ganhou de Rui Barbosa sem sair de Paris) respondeu
ao telegrama do Presidente, apenas com uma palavra que fugia do habitual,
trivial, normal.
A palavra usada pelo governador, está há mais de 50
anos na bandeira da Paraíba: “NEGO”. Washington Luiz ficou surpreendido, mas
fez a eleição assim mesmo, com Vargas adversário derrotado por Julio Prestes.
Getúlio
se conformou
Ninguém protestou, não se conspirou para uma revolução,
golpe ou outra eleição. Acontece que pouco tempo depois, João Pessoa foi assassinado
em Recife. Não por motivo político e sim por inimizade pessoal. Seus amigos não
queriam que fosse a Pernambuco, foi morto covardemente numa confeitaria de
luxo. Aí voltou a vontade do poder e do golpe.
1930:
o poder sem eleição
Os que coordenavam a candidatura Vargas, passaram a se
reunir e impedir a posse de Julio Prestes. Conseguiram no dia 3 de outubro, a
posse seria em 15 de novembro, 42 dias depois. Vargas tomou posse em 24 de
outubro, não como presidente mas como “Chefe do Governo Provisório”. Não se
incomodou sabia que ficaria no poder, não passaria o cargo a ninguém.
De
1930 a 1945, sem parada para reabastecimento
Assumiu, logo cassou e prendeu muita gente. O país
ficou sem Constituição. Em 1932 os paulistas fizeram o que foi chamado de “Revolução
Constitucionalista”. Não era nem uma coisa nem outra. Em 1929 houve a quebra de
Wall Street que atingiu vastamente os “barões do café” de São Paulo.
Nessa época o Brasil exportava 96 por cento de todo o
café bebido pelo mundo, 92 por cento de São Paulo, 2 por cento pelo Estado do
Rio, outros 2 pelo Espírito Santo. Com a miséria implantada, o mundo deixou de
comprar, São Paulo em situação desesperada, fizeram esse movimento de 1932,
quase uma guerra civil.
A
Constituinte de 1933/1934
Espertíssimo, Vargas destroçou os “revolucionários” de
1932, mas convocou a Constituinte para logo a seguir. Fariam a Constituição e
marcariam a eleição direta para 60 dias depois de promulgada a Constituição de
1934.
A Constituição saiu, mas não houve a eleição direta.
Frustração geral. Vargas ficou no poder, transferiu a eleição direta para 1938.
Como fez isso?
A
ditadura do Estado Novo
Em 1934, Vargas “nomeou” para a Constituinte 17
deputados sindicalistas, chamados de “pelegos trabalhadores”. E a seguir outros
17, que seriam os “pelegos patronais”. Como a constituinte era formada por 143
parlamentares, Vargas já com 34 votos a favor, facilmente transferiu a “direta”
para 1938. Escândalo, vergonha, despeito e desprezo democrático.
Tomou posse indireta nesse 1934, em 1935, 1936 e início
de 37, preparando a consolidação do poder. No início de 1937, chamou o deputado
Negrão de Lima, incumbiu-o da missão: consultar os governadores para apoiar o
que chamava de “Estado Novo”.
Negrão correu o Brasil inteiro, recolhendo entusiasmo. Apenas
três governadores discordaram. Lima Cavalcanti, de Pernambuco, recusou com veemência,
diante do que Negrão lhe contou, 48 horas depois viajou para a Europa, não
voltou mais.
Flores
da Cunha resistiu
Governador do Rio Grande do Sul, conversou apenas cinco
minutos com Negrão, mandou o recado a Vargas: “Lutarei pela democracia com os
“Provisórios”. (Era a tropa do estado).
Com Juracy Magalhães, da Bahia (apesar de cearense)
conversa rápida e a resposta: “Diga a Vargas que não serei problema, mas vou
conversar com ele pessoalmente”. O Juracy oportunista de sempre, ainda foi
importante no golpe de 64.
O
Estado Novo, ditadura como sempre torturadora
No dia 10 de novembro o Congresso foi fechado, centenas
de pessoas presas, Prestes preso desde 1936, transferido para prisão pior e
mais isolada. Negrão de Lima foi feito embaixador, ainda não havia a “carreira”.
O Instituto Rio Branco seria criado em 1938, a primeira turma de diplomatas
surgiria em 1941.
Flores
da Cunha, que fugira para o Uruguai, foi chamado
Julgado por ordem do já ditador, Flores foi condenado a
2 anos de prisão, fugiu para o Uruguai. 1 ano depois, Vargas mandou Batista Luzardo,
(amigo dos dois) comunicar a Flores que “poderia voltar, estava tudo esquecido”.
Flores voltou, foi preso assim que desembarcou, teve que cumprir os dois anos
da condenação. Esse era o Vargas de sempre.
Valadares
substitui Negrão
Os dois eram mineiros, espertíssimos e altamente
governistas. Todos os governadores foram transformados em interventores,
incluindo Valadares. Para interventor de São Paulo, Vargas nomeou Armando
Salles de Oliveira, genro do doutor Julio Mesquita, dono do “estadão”.
Acreditaram que não aceitariam, o que fizeram com a
maior satisfação. Só que Vargas era como os elefantes, “não esquecia”. Na noite
do próprio dia 10 de novembro, o doutor Julio Mesquita foi asilado em Portugal.
O que ninguém entendeu foi o asilo do ex-presidente
Artur Bernardes. Grande nacionalista, como governador de Minas, acabou com o
monopólio da Hanna Mining. E como presidente da República, liquidou a
multinacional.
O asilo foi tido como medo de uma possível candidatura
de Bernardes. Como se Vargas era um ditador, apoiado “mil por cento” pelos
militares?
Stalin
manda pedir a liberdade de Prestes
Em 1940 chegou ao Brasil um alto membro do Politburo
Soviético. Recebido logo por Vargas, transmitiu o recado de Stalin: “Manda
dizer ao senhor, que agora que somos aliados, gostaria de ver Prestes em
liberdade”. Rapidíssimo no que lhe interessava, disse que precisava de um tempo.
Compreendeu logo o “trunfo” que tinha na mão.
Transferiu Prestes para a Penitenciária da Frei Caneca. Construíram para ele,
uma casinha de madeira, dois quartos e uma sala. Liberdade total para receber
amigos e correspondência.
E manteve contatos com ele, através de amigos. Até que
no fim de 1945, libertou Prestes que imediatamente lançou o slogan: “Constituinte
Vargas-Prestes”. Mas seu fim havia chegado, não percebera.
No dia 29 de outubro de 1945, às 5:10 da tarde saiu
preso do Catete. Às 9 da manhã nomeara o irmão “Beijo”, estroina, bêbado que
varava as madrugadas nos cassinos, para o cargo de Chefe de Polícia. Foi um ato
de desespero, civis e militares retiraram o apoio o apoio a ele. Mas durou 15
anos.
O
absurdo da volta, a tragédia do suicídio
Dutra que durante 15 anos era chamado de “condestável
do Estado Novo”, mantendo o apoio dos militares, herdou o Poder. Em 1950,
empossado em 1951, Vargas devia ter ficado no Rio Grande do Sul. Além do mais
não sabia “governar democraticamente”.
Criou tantos problemas, que os militares ficaram contra
ele. Pouco mais de 3 anos da posse, não tinha mais condições de continuar.
Depois de uma reunião ministerial tumultuadíssima, subiu, deu um tiro no
coração, “deixo a vida para entrar na História”.
Nada improvisado, o texto já estava escrito pelo
jornalista Maciel Filho. Entrou realmente na História, mas o país no mais
completo caos.
JK
quase não toma posse
Eleito em 1955, para tomar posse, teve que receber o
apoio militar, enquanto outro grupo de militares decidiu que não poderia tomar
posse. Seu grupo militar era mais forte, governou os 5 anos, passou o cargo a Jânio,
“tréfego peralta”.
Este “garantido” por generais, queria dominar para
sempre. Não conseguiu. 10 anos depois de Vargas sair de cena de forma
magistral, outro golpe que duraria 21 anos.
Para
onde estamos caminhando?
A nossa frente, o precipício da incompetência. Dos que
estão no Poder e dos que pretendem conquistá-lo. Preparam um golpe branco ou
serão surpreendidos por uma interrupção, que pode ser chamada de impeachment.
Haja o que houver, a lâmpada incandescente está se apagando, com reeleição ou
sem ela.
Pergunta trágica, dramática, praticamente sem resposta.
Nos 125 anos de República, quantos de democracia o país conheceu? Qual o número
de vices assumiram no lugar dos verdadeiros?
Impeachment só um, por quê?
Oportunidades para outros, existiram. O sistema que sairá das urnas de outubro
tem validade de mais quatro anos?
PS –
E esses CONSELHOS que Dona Dilma quer impor e implantar quase em cima da
eleição, que validade democrática terão?
PS1 –
Não são eleitos diretamente, e então são absurdos. Estarão invalidando a
representatividade popular, por mais irregularidades que estas pratiquem.
PS2 –
Esses CONSELHOS têm mais semelhanças com os Soviets, que Lenine começou a
disseminar em 1905, aproveitando a guerra sino-japonesa. Com o protesto e a não
concordância de Trotski, com outras ideias.
PS3 –
Lenine que já estivera preso e fugira várias vezes, sofreu um atentado, ficou
com uma bala “colada” no coração. Foi morar na Suíça, com a primeira mulher, Sônia
Krupskaya, nenhum cirurgião quis operá-lo.
PS4 –
Todo cuidado é pouco para a existência desses CONSELHOS. É preciso combatê-los
desde agora, é traição aberta e ostensiva ao regime democrático.
PS5 –
Ontem eu dizia, que nos 125 anos de República, poucos foram democráticos.
Violentaram a República com REVOLUÇÕES, GOLPES, agora surgem esses CONSELHOS.
PS6 –
Todo cuidado é pouco, indispensável cada vez mais RESISTÊNCIA. Qualquer que seja
a identificação da tomada do poder, ela é CONTRA O CIDADÃO.