17.6.14

GREVES DA EDUCAÇÃO MARCADA PELO ATAQUE A DIREITOS!!! 51 PELA PREFEITURA, 146 PELO ESTADO SÃO PERSEGUIDOS POLÍTICOS!

DANIELA ABREU-

A história ainda não contada do período da ditadura militar, diz que a cada gol do Brasil na Copa de 70 militantes de esquerda tombavam. De fato não temos o distanciamento necessário para contar a história da Copa de 2014, mas profissionais da educação tombaram a cada gol do Brasil no jogo de abertura, até mesmo no contra. Um dia após a abertura da Copa, surge no Diário Oficial da Secretaria de Educação do município do Rio o nome de 51 educadores que foram considerados não aptos no estágio probatório. O curioso que todos os nomes fizeram a greve de 2013 e fazem a atual de 2014, é possível que a Secretária e seus asseclas digam que esta não é a única questão, que esses insubordinados não condizem com o projeto político pedagógico da escola, não utilizando as apostilhas de péssima qualidade vindas da SME, não apliquem as provas de avaliação externa, elaboradas verticalmente, não respeitando a diversidade da Rede de Ensino e as especificidades das escolas, ou ainda não aceitem ficar sozinhas com 25 crianças de berçário. Os motivos para considerar não apto um professor, funcionário, merendeira, agente auxiliar de creche que não cumpre as tarefas visando à garantia do bom andamento de uma escola-empresa são muitos. O que estes esquecem é que esta política tecnocrata, que transforma escola em empresa e educação em mercadoria foi rejeitada ano passado por 90% da Rede Municipal. O que está inapto para continuar é esse projeto pedagógico meritocrático, privatista e tecnocrata. Provavelmente os insubordinados são os que lutam por autonomia e democracia nas escolas, coisa rara nos tempos atuais.

Esta política que chega ao seu esgotamento é fruto da imposição do Banco Mundial para os países em desenvolvimento desde a década de 90. Todo o império quando começa a ruir usa de força bruta, e talvez o que pareça o ápice da ação dos Governos do Estado e da Prefeitura do Rio de Janeiro, é exatamente o princípio do seu declínio.

Esta não é uma greve marcada pela adesão massiva da categoria da educação, os motivos são muitos, principalmente pelo esforço de cooptação que os governos estadual e municipal exercem sob os profissionais. No lugar de investimentos reais, nos salários e nas condições de trabalho, fragmentam toda a rede, são bolsas para estudo, dobras com privilégios, monitoria pra projetos que precarizam o ensino, como o Nova Eja, cursos remunerados de lançamento de notas entre outras “bizarrices”. Tudo que uma grande empresa tem que ter, diversificados setores e chances de crescimento por dentro da empresa, basta ler a cartilha e aplica-la, isso nada tem haver com qualidade de ensino, mas com maquiagem da “qualidade total”. Também não pode-se ignorar que é uma greve com participação expressiva e orgânica, que consegue burlar o principal papel da segurança nacional, com atos criativos e determinados denunciando internacionalmente as condições da educação brasileira e de seus profissionais. A maquiagem falhou, escondeu mal e a sociedade grita pela educação em qualquer ato de qualquer tema. Como novo mecanismo de contenção e continuidade da aplicação do projeto neoliberal para a educação resolvem transformar a figura do diretor, em gerenciador, dessa maneira contratamos mais uma empresa de algum empresário amigo, conhecido ou mesmo sócio do governador, do prefeito, do secretário para capacitar os novos gestores, para quem não lembra, gestores são os antigos diretores, mais antigo ainda aqueles que um dia foram eleitos, quando a democracia existiu na escola, mas isso é muito antigo virou démodé.

Democracia, Autonomia, direito a greve, livre expressão são conceitos com risco de extinção. Nesses tempos de Copa, de lei de segurança nacional, de alta da inflação, de gastos estrondosos com os mega eventos, a greve já representa pelo sua estética uma resistência.

Na Rede Estadual do Rio de Janeiro são 146 inquéritos administrativos abertos, na semana da abertura da Copa. Enquanto o Brasil se enfeita ou é forçado a se enfeitar, para entrar na moda imposta, profissionais perdem o direito ao trabalho, ao seu salário, pois ao invés de entrarem na moda, destroem o sonho de uma copa em nosso país fazendo greve, atos e passeatas. Uma saída boa pra acabarmos logo com isso, a exemplo do governo de São Paulo com os metroviários.

O que está em risco é a greve tornar-se lembranças do tempo que ainda lutava-se por direitos. Vivemos alguns anos na apatia, espera para alguns e cooptação para outros, os tempos são novos, mal explodiram as diversas reivindicações que junto veio à truculenta, a repressão. Por onde anda nossa Soberana Constituição? Para onde foi o direito a greve? Quem decide pela greve, pelo seu fim? A categoria, ou a justiça? E porque considerar ilegal uma greve que comunicou seu início antes das 72h foi deliberada em assembleia, no momento das suas campanhas salariais e no instante que a sociedade grita por educação e saúde. Onde está a justiça para exigir o cumprimento dos acordos por parte do governo? Para fazer aplicar a lei do 1/3 de planejamento, aprovada já a sete anos? Qual é a ilegalidade? Quem está ilegal? Quem está fora da lei?

Perigosos tempos onde funcionários públicos são submetidos a inquéritos administrativos por estarem em greve!