25.6.14

Deputado prefere não explicar mensagens trocadas com doleiro

Via Congresso em Foco -

Investigado no Conselho de Ética, Luiz Argôlo afirma que processo tem que parar porque provas são fruto de “crime” e que não teve acesso ao inquérito da Operação Lava Jato.

Argôlo diz que “jamais manteve qualquer relação ilícita com Youssef”.
Em uma defesa de 64 páginas entregues nesta terça-feira (24) ao Conselho de Ética da Câmara, o deputado Luiz Argôlo (SD-BA) não esclarece absolutamente nenhuma das mensagens em que pede dinheiro ao doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal na Operação Lava Jato. O deputado preferiu rebater duas denúncias contra ele com negativas vagas e argumentações técnicas sobre a presunção da inocência e o sigilo do inquérito.

O PPS e o PSOL ingressaram com representação contra Argôlo depois que a revista Veja e o jornal Folha de S.Paulo revelaram a transcrição das mensagens de celular entre ele e Youssef. Em 16 de setembro de 2013, conforme diálogos captados pela PF, o deputado combina receber dinheiro do doleiro em seu apartamento funcional, na 302 Norte, em Brasília. Em março deste ano, Youssef afirma ter repassado R$ 120 mil para o chefe de gabinete de Argôlo. Em outra mensagem, revelada pelo jornal, o deputado pede que o doleiro deposite um total de R$ 100 mil na conta de uma pessoa e de uma empresa.

De maneira superficial, o advogado de Argôlo nega irregularidades sem explicar a que se referem os pagamentos mencionados nos torpedos. “Praticamente nada disso procede, nem há qualquer infração ética”, afirma Aluísio Lundgren Regis, na defesa. Ele diz que o deputado “jamais (…) usou seu cargo público para obtenção de benefício para si ou para outrem”. O deputado, “jamais manteve qualquer relação ilícita com Youssef”.

Argôlo deixou o PP, da base aliada, para engrossar o Solidariedade, da oposição. Para Lundgren, isso é demonstração de que o deputado  “mostra desapego a cargos ou eventuais benesses pessoais”.

O silêncio do deputado sobre questões fundamentais seria justificado porque ele não possui uma cópia integral do inquérito da Operação Lava Jato. “Não pode o representante esclarecer, por ora, o contexto em que os diálogos foram travados, se realmente eles existirem”, afirma, evasiva, a defesa de Argôlo. Mesmo quando obter os papéis e mídias, o parlamentar não garante que se explicará. “Prestará informações complementares e arrolará novas testemunhas, se for o caso (…) dirimindo toda a e qualquer dúvida que possa eventualmente existir”, diz a defesa.

Youssef era ligado ao ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, indicação do PP. Argôlo diz que, apesar de ter pertencido ao partido, “jamais indicou qualquer diretor na Petrobras”. 

Linchamento e romantismo 

O advogado reclama de “linchamento” ao qual Argôlo é exposto e reclama do vazamento de informações do inquérito da operação policial. Segundo a defesa, o processo no Conselho de Ética não deve continuar porque as provas – as mensagens eletrônicas – foram obtidas por “meios criminosos”.

Argôlo anexou à sua defesa o voto do relator de seu processo interno no Conselho de Ética do Partido Solidariedade, Pedro Nepumuceno Filho. No texto, o correligionário pede o arquivamento do caso porque viu apenas uma “amizade íntima com uma pessoa investigada criminalmente”. Segundo Argôlo, o voto de Nepumuceno resultou no fim da apuração interna.

Há até mensagens românticas trocadas entre o deputado e o doleiro. Em 28 de fevereiro deste ano, às 8h33, Argôlo diz: “Você sabe que tenho um carinho por vc e é muito especial”. Yossef responde que também tem. O deputado continua: “Queria ter falado isso ontem. Acabei não falando. Te amo.” O doleiro concorda: “Eu amo você também. Muitoooooooooo<3”.