22.5.14

O silêncio do brasileiro pela paixão nacional

Via Fazendo Media - 

A primeira edição da Copa do Mundo de Futebol sediada no Brasil, no ano de 1950, ficou marcada na história, pelo incômodo silêncio da torcida brasileira diante da derrota da seleção canarinho para o Uruguai em pleno Maracanã.

A derrota de 2 a 1, para a Seleção Celeste, silenciou o recém inaugurado Maracanã, com um público aproximado de 200 mil torcedores. Tal acontecimento é considerado a maior tragédia para o futebol brasileiro e representa um trauma para os amantes do esporte, ainda nos dias de hoje. Basta surgir a possibilidade da Seleção Brasileira enfrentar a Seleção do Uruguai – na final de alguma copa ou campeonato sem muita importância – para o assunto ressurgir e virar pauta para ser discutido em programas esportivos pelos comentaristas e ditos especialistas de futebol.

Às vésperas da edição de mais uma Copa do Mundo – realizada nos gramados brasileiros – corremos o risco de reviver um trauma pós-Copa, devido ao silêncio da torcida brasileira.

O anúncio da realização da Copa do Mundo no Brasil, trouxe para o país expectativas positivas – por se tratar da maior paixão nacional e, também, pela possibilidade de um evento dessa grandeza deixar legados socioeconômicos para toda a sociedade.

As promessas políticas correspondiam aos anseios sociais, de gerar oportunidades profissionais e melhorias na infraestrutura, principalmente, no que diz respeito à melhoria do sistema de transporte público – caótico nas principais metrópoles brasileiras.

Iniciado o processo de preparação para sediar o evento, a população pobre se deu conta que a Copa não vai trazer benefícios nenhum à sua classe e que tampouco vão poder participar desse momento histórico para o país do futebol. Ao contrário, muitas comunidades carentes se viram vítimas da limpeza étnica promovida politicamente, em prol de grandes eventos esportivos, que visa satisfazer financeiramente os empresários, que lucram sobre a crescente especulação imobiliária.

Outros absurdos estão acontecendo sob o olhar de uma sociedade, que parece não se dar conta dos gastos em construções e reformas de estádios, fazendo da Copa do Mundo no Brasil, a edição mais cara da história. Só na reforma do Maracanã foi gasto mais de 1 bilhão de recurso público, para depois ser entregue à iniciativa privada administrar e lucrar na venda de ingressos com valores acima da média popular.

Enquanto a verba pública é investida em estádios de futebol – para assegurar o lucro exorbitante da FIFA – a sociedade continua a carecer de hospitais de qualidade com profissionais bem remunerados; de um sistema de educação eficiente onde professores e alunos sejam respeitados e valorizados; de espaços públicos para lazer e esporte; da melhoria do sistema de saneamento básico nas comunidades periféricas, elevando a qualidade de vida; e tantas outras coisas que resgate a dignidade do cidadão brasileiro.

Todas as ações políticas para a realização da Copa do Mundo, não trouxeram e – pelo visto – não vão deixar legado nenhum para a população brasileira. Por enquanto, só está garantido benefícios para as empreiteiras a frente das obras e para a FIFA. De repente, daqui a alguns anos, se confirme que grupos políticos tiraram proveito desses investimentos, através de algum dossiê e/ou alguma CPI criada pela oposição para derrubar quem estiver no poder.

Existem questionamentos sobre esses gastos, porém pouco para fazer eco. No ano passado, os jovens foram às ruas reivindicando melhorias na qualidade de vida com o grito de guerra: “Não vai ter Copa”. Hoje, no entanto, o carisma e a competência do técnico Luiz Felipe Scolari – junto à seleção do badalado Neymar – parece ter amenizado um pouco a postura radical (referente a Copa) de muitos que estiveram nas ruas protestando.

O silêncio dos torcedores no Maracanã, na final da Copa do Mundo de 1950, é menos trágico do que o possível silêncio social dos brasileiros, caso o Brasil venha a ser campeão do mundo em casa. Existe o risco do lado torcedor de uma população fanática por futebol, achar justificado os gastos, as injustiças cometidas contra moradores de comunidades periféricas, o sucateamento de escolas e hospitais, o aumento do custo de vida (no caso Rio de Janeiro) por amor ao esporte e pela alegria de poder gritar “Hexa campeão” e ”A copa do Mundo é nossa”. 

*Texto de Cléber Araújo.