Via Fazendo Media -
A primeira edição da Copa do Mundo de Futebol sediada no Brasil, no
ano de 1950, ficou marcada na história, pelo incômodo silêncio da
torcida brasileira diante da derrota da seleção canarinho para o Uruguai
em pleno Maracanã.
A derrota de 2 a 1, para a Seleção Celeste, silenciou o recém
inaugurado Maracanã, com um público aproximado de 200 mil torcedores.
Tal acontecimento é considerado a maior tragédia para o futebol
brasileiro e representa um trauma para os amantes do esporte, ainda nos
dias de hoje. Basta surgir a possibilidade da Seleção Brasileira
enfrentar a Seleção do Uruguai – na final de alguma copa ou campeonato
sem muita importância – para o assunto ressurgir e virar pauta para ser
discutido em programas esportivos pelos comentaristas e ditos
especialistas de futebol.
Às vésperas da edição de mais uma Copa do Mundo – realizada nos
gramados brasileiros – corremos o risco de reviver um trauma pós-Copa,
devido ao silêncio da torcida brasileira.
O anúncio da realização da Copa do Mundo no Brasil, trouxe para o
país expectativas positivas – por se tratar da maior paixão nacional e,
também, pela possibilidade de um evento dessa grandeza deixar legados
socioeconômicos para toda a sociedade.
As promessas políticas correspondiam aos anseios sociais, de gerar
oportunidades profissionais e melhorias na infraestrutura,
principalmente, no que diz respeito à melhoria do sistema de transporte
público – caótico nas principais metrópoles brasileiras.
Iniciado o processo de preparação para sediar o evento, a população
pobre se deu conta que a Copa não vai trazer benefícios nenhum à sua
classe e que tampouco vão poder participar desse momento histórico para o
país do futebol. Ao contrário, muitas comunidades carentes se viram
vítimas da limpeza étnica promovida politicamente, em prol de grandes
eventos esportivos, que visa satisfazer financeiramente os empresários,
que lucram sobre a crescente especulação imobiliária.
Outros absurdos estão acontecendo sob o olhar de uma sociedade, que
parece não se dar conta dos gastos em construções e reformas de
estádios, fazendo da Copa do Mundo no Brasil, a edição mais cara da
história. Só na reforma do Maracanã foi gasto mais de 1 bilhão de
recurso público, para depois ser entregue à iniciativa privada
administrar e lucrar na venda de ingressos com valores acima da média
popular.
Enquanto a verba pública é investida em estádios de futebol – para
assegurar o lucro exorbitante da FIFA – a sociedade continua a carecer
de hospitais de qualidade com profissionais bem remunerados; de um
sistema de educação eficiente onde professores e alunos sejam
respeitados e valorizados; de espaços públicos para lazer e esporte; da
melhoria do sistema de saneamento básico nas comunidades periféricas,
elevando a qualidade de vida; e tantas outras coisas que resgate a
dignidade do cidadão brasileiro.
Todas as ações políticas para a realização da Copa do Mundo, não
trouxeram e – pelo visto – não vão deixar legado nenhum para a população
brasileira. Por enquanto, só está garantido benefícios para as
empreiteiras a frente das obras e para a FIFA. De repente, daqui a
alguns anos, se confirme que grupos políticos tiraram proveito desses
investimentos, através de algum dossiê e/ou alguma CPI criada pela
oposição para derrubar quem estiver no poder.
Existem questionamentos sobre esses gastos, porém pouco para fazer
eco. No ano passado, os jovens foram às ruas reivindicando melhorias na
qualidade de vida com o grito de guerra: “Não vai ter Copa”. Hoje, no
entanto, o carisma e a competência do técnico Luiz Felipe Scolari –
junto à seleção do badalado Neymar – parece ter amenizado um pouco a
postura radical (referente a Copa) de muitos que estiveram nas ruas
protestando.
O silêncio dos torcedores no Maracanã, na final da Copa do Mundo de
1950, é menos trágico do que o possível silêncio social dos brasileiros,
caso o Brasil venha a ser campeão do mundo em casa. Existe o risco do
lado torcedor de uma população fanática por futebol, achar justificado
os gastos, as injustiças cometidas contra moradores de comunidades
periféricas, o sucateamento de escolas e hospitais, o aumento do custo
de vida (no caso Rio de Janeiro) por amor ao esporte e pela alegria de
poder gritar “Hexa campeão” e ”A copa do Mundo é nossa”.
*Texto de Cléber Araújo.