20.5.14

Com novo chefe de mídia, segredo de Aécio vaza. 'Não há possibilidade de Meirelles ser vice de Aécio', afirma Afif Domingos

Via RBA e 247 -  

Coincidência ou derrapada? 

A campanha eleitoral do presidenciável Aécio Neves corria sem sobressaltos até o último final de semana. Em alta nas pesquisas e com seu partido pacificado, ele se dedicava, em silêncio, a dois movimentos simultâneos. De um lado, convidou o jornalista Otávio Cabral, da revista Veja e autor de uma polêmica biografia do ex-ministro José Dirceu, para ser o chefe de sua equipe de assessoria de imprensa e comunicação. Representaria, ao mesmo tempo, uma provocação ao PT e um afago na editora Abril, dona de Veja. Parecia não haver contra-indicações.

Ao mesmo tempo, numa operação bem mais complexa e estratégica, Aécio resolveu executar uma ideia que lhe pareceu brilhante. Interessado, desde sempre, em fazer uma coalizão partidária ampla para aumentar suas chances, o senador aproximou-se, com extrema discrição, do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Filiado ao PSD, Meirelles, fez saber Aécio, tornou-se o sonho de consumo do ex-governador mineiro para o cargo de seu companheiro de chapa.

Os dois movimentos poderiam ter dado certo, mas agora desconfia-se que o primeiro gesto ajudou a travar o segundo. Ou terá sido apenas coincidência? O fato é que no mesmo período em que Cabral iniciava seu trânsito pelos bastidores da campanha tucana, o segredo do assédio político sobre Meirelles se esfarelou. E logo pela coluna Painel, do jornal Folha de S. Paulo, que publicou nota no domingo 18 cravando o que ninguém até ali sabia. Mais precisamente, o interesse total e irrestrito de Aécio em ter Meirelles como seu vice. O Painel é assinado pela jornalista Vera Magalhães. Ela é casada com o agora ex-repórter Otavio Cabral, novo titular da comunicação da campanha Aécio 2014. 

SEM DEFESA - O 'furo' do Painel deixou Aécio indefeso. O ex-governador José Serra, com quem ele já desenvolvia um diálogo difícil, foi à luta em sua página no Facebook. Como reflexo direto da procura de Aécio por Meirelles, Serra sepultou qualquer chance de deixar evoluir seu próprio nome como alternativa do PSDB ao cargo de vice. "Isso é coisa do jornalismo criativo", desqualificou Serra, que, no entanto, ainda contava com um convite de Aécio para sair do seu atual ostracismo político. Após saber que o nome número 1, para o tucano, é o do pessedista Meirelles, Serra excluiu-se da fila, nada interessado em poupar o ex-governador mineiro do desgaste que a negativa acarreta.

A jornalista Monica Bergamo, cuja coluna rivaliza com o Painel de Vera Magalhães na divulgação de notícias exclusivas do mundo político, deu seu troco na, digamos, concorrente interna dentro da Folha. Foi ela quem noticiou a contratação de Cabral, cuja esposa tornou público o assédio tucano a Meirelles.

Ainda no domingo 18, demonstrando a desestabilização provocada pelo vazamento da informação sigilosa no Painel, o ex-prefeito Gilberto Kassab, presidente do PSD, afirmou em entrevista ao 247 que não há possibilidade de seu partido aderir ao PSDB e ceder o passe de Meirelles. "Nosso compromisso com a presidente Dilma Rousseff é anterior e está mantido", assegurou.

Nesta segunda-feira 19, quando as repercussões negativas para os tucanos ainda reverberavam, a colunista Juliana Duialibi confirmou em seu blog que Otavio Cabral será mesmo o novo chefe de comunicação de Aécio. O jornalista passou incólume pela sucessão de notícias indigestas para o presidenciável, enquanto o sonho do tucano em ter Meirelles como vice virou um verdadeiro pesadelo, no qual até o ministro Guilherme Afif Domingos se viu no direito de rechaçar publicamente a especulação, garantindo que Meirelles não será vice de Aécio.

O presidenciável, após a demonstração de irritação de Serra e o chega para lá de Kassab e Afif, afirmou que, se o PSD mudar de posição, o interesse por Meirelles está mantido. O próprio Aécio sabe, no entanto, que a manobra, no mínimo, sofrerá um grande atraso para ser completada. O segredo tornado público atrapalhou seus planos. 

Em encontro realizado em São Paulo, prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, disse que composição entre PSD e PSDB é 'papo furado da mídia' 

O vice-governador de São Paulo e ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos (PSD), disse hoje (19) em São Paulo que não há possibilidade de o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles ser o vice na chapa do pré-candidato tucano à presidência da República, o senador Aécio Neves (MG). "No nível nacional temos compromisso já firmado, o partido não volta atrás. Fechamos compromisso com a presidenta Dilma sem barganha de cargos, investindo no projeto futuro. Não existe essa hipótese", garantiu em entrevista à imprensa na 65ª Reunião Geral da Frente Nacional de Prefeitos.

Aécio afirmou hoje, em Belo Horizonte, que Meirelles é um nome "extremamente qualificado", mas que só seria vice em sua chapa se o PSD não apoiar a reeleição de Dilma.

O prefeito de São Bernardo do Campo, na região do ABC, Luiz Marinho (PT), também declarou que não há chance de Meirelles compor a chapa com Aécio, e do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab ser vice de Alckmin em São Paulo, especulação que tem circulado em São Paulo. "Aposto uma cerveja (que não). Isso é papo furado de parte da mídia, de quem quer criar notícia. Vão se realizar as convenções, vamos ter isso (especulações) toda semana. Com certeza, o PSD continua na aliança da presidenta Dilma. No estado de São Paulo estamos discutindo. Vamos ver se Kassab vai ser candidato, se não, com quem vai compor. Com certeza, não é com o PSDB", garantiu Marinho.

Afif lembrou que não pode ser candidato a vice na chapa do governador Geraldo alckmin (PSDB) em São Paulo. "Hoje ocupo o cargo de ministro e não me desincompatibilizei. Não posso ser candidato." Porém, Afif disse que uma decisão sobre a questão paulista depende de Kassab, o cacique do PSD. "Em política você sempre está em função das circunstâncias. É uma decisão mais do Kassab do que do partido como um todo. O partido deve apoiar a decisão dele. Não sei qual é", disse.

Afif ironizou a pretensão do PSDB de ter o vice na chapa para a disputa do Palácio do Planalto das fileiras do PSD. "É engraçado que, agora, estejam convidando o PSD para ser vice. Eles trabalharam contra a criação do PSD", afirmou o vice-governador paulista. "Em segundo lugar, não houve divergência pessoal com o governador (Geraldo Alckmin), houve uma divergência do governo com a criação do PSD."

Segundo Afif, as eleições nos estados independem do apoio definitivo do PSD a Dilma. "As conversações mostram que o PSD foi fiel aos compromissos dos fundadores do partido nos estados. Em Pernambuco, o partido foi apoiado pelo governador Eduardo Campos (PSB); no Paraná, pelo governador Beto Richa (PSDB); em Goiás, pelo Marcondes Perillo (PSDB). É natural que os arranjos locais sejam pela reeleição desses governadores, sem embargo do apoio à presidenta Dilma", garantiu.