CARLOS CHAGAS -
A prisão de João Paulo Cunha, do PT, ex-presidente da Câmara, demonstra não só a inflexibilidade do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, diante do processo do mensalão. Revela mais um alerta do Judiciário para a classe política em geral e o PT, em particular. Conclui-se que 2014, apesar das eleições, ou por conta delas, será um ano amargo para a corrupção e os corruptos. Devem precaver-se os candidatos dispostos a utilizar o Caixa Dois e demais instrumentos incompatíveis com a lei e a ética. Em todos os níveis, candidatos estarão expostos caso desenvolvam suas campanhas fiados na impunidade.
Não só o exemplo, mas as instruções de Joaquim Barbosa aos tribunais eleitorais são drásticas: ao primeiro sinal de irregularidades deverá prevalecer o princípio faz impugnação de candidaturas, valendo a decisão até para a sucessão presidencial e as sucessões estaduais.
A palavra de ordem parece ser a de “escreveu, não leu, o pau comeu”. O Tribunal Superior Eleitoral está afinado com esse sentimento, extensivo aos tribunais eleitorais dos estados.
Quanto a João Paulo Cunha, faz companhia aos demais integrantes da quadrilha, já presos. Ignora-se como convivem, provavelmente na mesma cela, que apesar de confortável, serve para constranger seus inquilinos. Incriminações parecem fora de cogitação, entre eles, mas distanciamento torna-se mais do que provável. Além, é claro, de permanentes comentários a respeito da injustiça e da perseguição a que foram submetidos.
Dá o que pensar, obviamente, saber que gente outrora tão poderosa encontra-se frágil diante de um regime carcerário implacável, mas esse exemplo é o principal fator dissuasório para os que se encontram perto de transgredir as disposições eleitorais. Devem precaver-se.
ÍNDIOS QUEREM RECIPROCIDADE
Não deixa de ser irônica a disposição de tribos indígenas do Amazonas em voltar a cobrar pedágio em estradas próximas de suas aldeias. Na concepção delas, nada mais fazem do que seguir à risca o exemplo do mundo civilizado.
Essa contradição leva-nos a uma paródia de Voltaire, descrevendo as desventuras de um índio da tribo dos Hurons, da América, levado para Paris a fim de ser catequizado e integrado às delícias do mundo moderno.
O selvagem acomodou-se às diretrizes do cristianismo e um belo dia pediu para confessar seus pecados diante de um sacerdote. Desfiou seus erros e más ações, recebendo a absolvição, mas antes de deixar o confessionário, armou a maior confusão na capela. Chegou a agredir o padre, submetendo-o a ajoelhar-se em seu lugar, enquanto sentava-se na cadeira eclesiástica. Vieram os soldados, amarraram o índio e, na cadeia, indagaram porque aquela demonstração de violência. Sem entender nada, ele disse que apenas cumpria as determinações da doutrina católica: “ou evangelho não determina que todos nós confessemos nossos pecados? Eu revelei os meus ao padre e sua obrigação era revelar os dele”...
QUEM RECONQUISTA A CONFIANÇA?
No começo de 1917, com o exército russo derrotado pelos alemães, o czar Nicolau II foi aconselhado a admitir reformas institucionais a fim de reconquistar a confiança do povo, para evitar a revolução prestes a depô-lo. Resposta do último dos Romanov: “Quer dizer que eu tenho que reconquistar a confiança do meu povo? Ou será que o meu povo é que deve reconquistar a minha confiança?”
Deu no que deu, mas essa inversão de sentimentos ainda pode dar problemas por aqui.