Via Correio do Brasil -
Confirmada neste domingo pela reportagem do Correio do Brasil, a audiência pública da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) sobre a compra dos caçassuecos Gripen-NG acontecerá nos primeiros dias após o recesso parlamentar, com a presença do ministro da Defesa, Celso Amorim, e do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. O objetivo do convite às autoridades é ampliar o nível de conhecimento acerca da aquisição dos supersônicos, fabricados na Suécia pela Saab.
Presidente da CRE, o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES) afirmou a jornalistas que as ações de espionagem realizadas no Brasil pelo governo dos Estados Unidos, reveladas pelo analista de inteligência americano Edward Snowden, “certamente prejudicaram a Boeing, empresa daquele país que disputava a preferência das autoridades de defesa brasileiras com a Saab e a francesa Dassault”.
– Ainda que nossas autoridades não admitam, é evidente que houve uma reflexão sobre isso. Quando você faz uma aquisição como essa, é como se você estivesse fazendo um casamento. Então a geopolítica foi considerada, juntamente com as questões de eficiência e performance – ponderou Ferraço.
No Senado, foram positivas as primeiras reações à escolha da Suécia como parceira no projeto de reaparelhamento da Aeronáutica. Em discurso em Plenário na quinta-feira, a senadora Ana Amélia (PP-RS) elogiou a decisão. Lamentou, no entanto, a demora na definição do escolhido e os baixos investimentos do Brasil nas áreas de defesa e de tecnologia.
Ferraço também fez declarações favoráveis ao caminho estratégico pelo qual o país optou. Mas destacou a necessidade de “diálogo” entre Executivo e Legislativo para que sejam esclarecidos “detalhadamente” os diversos aspectos da decisão.
Um desses aspectos tem a ver com as providências que serão tomadas para resguardar os interesses nacionais de defesa a partir deste mês – quando a Aeronáutica deixará de utilizar oscaças franceses Mirage – e até 2018, data em que está prevista a entrega dos primeiros aviões Gripen.
– Nós vamos fazer um diálogo muito aprofundado e detalhado sobre as razões que levaram o governo brasileiro a decidir pelo jato supersônico Gripen, e vamos debater o planejamento do Estado brasileiro para esses meses em que termos um vácuo na ocupação desses espaços – afirmou Ferraço.
Parceria
Entre os possíveis convidados para a audiência pública com Amorim e Saito está o professor Alvaro Martins Abdala, apontado por colegas como um dos maiores especialistas brasileiros em projeto aeronáutico. Catedrático da Escola de Engenharia da USP- São Carlos, Abdala afirmou também a jornalistas que a escolha dos caças Gripen para renovar a frota das Forças Armadas representa uma oportunidade para o Brasil reduzir sua dependência tecnológica no setor. Para o professor, dependendo do acordo entre a Embraer e a Saab, a parceria pode resultar em vantagens não só para a aviação militar, mas também para a aviação civil.
Abdalla, que participou, recentemente, como pesquisador, no desenvolvimento de um projeto conceitual de aeronave militar, manteve contato com a empresa sueca Saab e afirmou que, “apesar de as três aeronaves selecionadas cumprirem todos os requisitos do programa FX, a decisão pela compra do Gripen foi acertada”.
– Pilotos, engenheiros e a Comissão Coordenadora do Programa Aeronave de Combate da FAB fizeram uma avaliação detalhada das propostas e escolheram o Gripen. A aeronave tem baixo custo unitário e operacional, sistemas relativamente simples, o que facilita a integração de armamentos de diferentes tipos e fabricantes, inclusive nacionais. A Saab garantiu total e irrestrita transferência de tecnologia do Gripen para a indústria brasileira.
Além disso, a empresa se comprometou em ter a indústria brasileira integrada em todas as fases de desenvolvimento da aeronave. Mas, mais do que a transferência de tecnologia, é importante o fato de o Brasil poder ser parceiro no desenvolvimento da aeronave. O Gripen NG não está totalmente pronto. Poderemos aprender a projetar, a modificar e a aperfeiçoar uma aeronave de combate. É uma oportunidade para o Brasil reduzir sua dependência tecnológica no setor. A escolha do Gripen NG proprciona a base para o desenvolvimento de uma aeronave militar supersônica brasileira – afirmou.
Celso Amorim, ministro da Defesa, aprovou a compra dos caças suecos Gripen-NG |