JEFERSON MIOLA -
A cada explicação do general Augusto Heleno, o escândalo do tráfico internacional de cocaína no avião presidencial fica menos esclarecido.
Na primeira explicação, em 27 de junho, ele considerou “falta de sorte” [aqui] a apreensão feita pela polícia espanhola dos 39 kg de cocaína transportados pelo sargento da FAB Manuel Silva Rodrigues em avião da frota presidencial.
Não ficou claro o quê exatamente o general quis dizer por “falta de sorte” ante o flagrante de tráfico internacional de cocaína operado em avião oficial da Presidência da República.
A quem teria faltado “sorte”? Considerando tratar-se de tráfico internacional, por quê a autoridade do mais alto escalão governamental responsável pela segurança presidencial lamentaria o azar [e de quem?]? Não seria o caso, ao invés do lamento, de enaltecer o desbaratamento do esquema de tráfico?
Naquela primeira explicação, o general esquivou-se de responsabilidades: “A revista de passageiros e de malas para os aviões da FAB são encargo da FAB, que não é subordinada a mim. Então o GSI não tem nada que ver com isso, zero”, disse ele.
Já na Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados em 10 de julho, Augusto Heleno deu outra explicação.
A nota de imprensa da Comissão relata que “De acordo com Augusto Heleno, há 80 anos o GSI, ou órgãos semelhantes, é responsável pela segurança de presidentes da república e […] nunca houve um incidente” [aqui] – explicação que contradiz a afirmação dele mesmo em 27 de junho passado, de que “o GSI não tem nada que ver com isso, zero”.
Ao salientar o trabalho do GSI que por décadas evitou que houvesse “um incidente” sequer, o general complementou: “Então não procedem as acusações de incompetência do GSI”.
Ora, se por praticamente 1 século o GSI ou órgãos semelhantes atuaram na segurança presidencial com a competência testemunhada pelo general Augusto Heleno, merece então ser apurado se o tráfico de 39 kg de cocaína via FAB decorre [i] da mudança do usuário principal – e do entorno do usuário principal – do avião presidencial ou [ii] de mudanças recentes engendradas no GSI, que podem ter comprometido a competência quase secular do órgão.
Na sessão na Comissão da Câmara, a deputada Gleisi Hoffmann, PT/PR, fez 3 perguntas ao general.
Ela quis saber [i] “se os senhores já sabem se a droga apreendida no avião da FAB seria entregue na Espanha ou em Tóquio?”; [ii] “se os 39 kilos de cocaína eram de cocaína ou de pasta de coca?” e, com base na afirmação do vice-presidente general Mourão de que, pelo volume de droga, haveria conexões, Gleisi perguntou [iii] se “já foi identificada alguma conexão no Brasil ou no exterior?” [vídeo, instante 3h13m00s].
Como resposta à deputada Gleisi, o general usou 10 segundos para declarar: “Eu não vou entrar nos outros detalhes que a senhora falou porque eu teria de ter muito mais tempo aqui para fazer essas considerações …” [vídeo, do instante 3h38m40segundos ao 3h38m50s].
Mas, apesar de alegar não “ter muito mais tempo” para esclarecer os questionamentos da deputada, o general seguiu no microfone durante quase 5 minutos para falar platitudes e, ao fim, exclamar o chavão “Brasil acima de tudo” no modo parcial, deixando deus fora disso daí …