LUIZ ANTONIO SIMAS -
Costumo me comover com as festas cristãs: o Círio de Nazaré, em Belém do Pará, pela vitalidade que preserva; a Festa da Penha, no Rio de Janeiro, pelo que representou para o povo da cidade; as festa dos santos de junho e os ciclos da Natividade e da Paixão. Nelas os cantos, louvores, comidas, leilões de prendas, namoros, cheiros, dádivas e bordados, falam de afetos celebrados que permitem a subversão- pelo rito - da miudeza provisória da vida.
Ilustração: A Paixão de Cristo. Do macumbeiro Carybé |
O meu Jesus Cristo, afinal, é o jesuscristinho dos presépios mais precários, das bandinhas de pastoris e lapinhas do Nordeste, dos enfeites formosos das moças dos cordões azul e encarnado e das folias que alumbram de brasilidades os fuzuês que, no mês de janeiro, homenageiam - entre cachaças, cafés e bolos de fubá gentilmente servidos pelos donos da casa - os Reis do Oriente.
Ele, o Cristo dos meus delírios, se sentiria mais a vontade em um botequim de esquina do que na Basílica de São Pedro. Se manifesta mais nas mãos calejadas dos devotos do Círio do que nas batinas sacerdotais e nos ternos bem cortados dos condutores do bonde da aleluia. Deve respeito - e é respeitado - a Tupã, Zambiapungo e Olorum. Estaria hoje ao lado dos fodidos que não têm Páscoa.
Meu Cristo, enfim, é pedrinha miudinha. Joga na várzea, bebe nos subúrbios, rala nas fábricas e, quando o sol vai quebrando lá pra fim do mundo pra noite chegar, descansa feito João Valentão e adormece como menino brasileiro.
A vista não pode alcançar a belezura de suas miudezas!
Fonte: Facebook