MARCELO MÁRIO DE MELO -
As amantes.
O poeta faz amantes
e contrai núpcias
com mulheres à revelia
palmilhando
encantos e proezas
de todos naipes
uma a uma
compondo leques.
Pode ser
a mulher na passarela
da faixa de pedestre
a que acende a sala
a que reluz na saída
a que paira na mesa
a que cintila ao longe
a que de vez em quando pousa
a que assoma
em riso
toque
aceno
presença
ausência
petalando saia.
Com elas
o poeta compõe
um harém encantado
e mil monogamias paralelas
sem traumas
desgastes
sequelas
e tendo a especialíssima distinção
de nunca discutir relação.
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ANTAGONISMO
Gorar e revigorar
divergem em desaguadouro
utilizam fios distintos
em teares diferentes
tecem panos antagônicos.
Um corta a asa do voo
mata a cria no ninho
trava o tiro de largada
joga cinza no arco-íris.
O outro acende a estrela
abre o zíper do sorriso
brinda ao primeiro passo
dança ao redor da fogueira,
É preciso toda a vida
estar atento aos dois
nas diversas lavraturas