5.2.19

MILAGRES

MIRANDA SÁ -

“Milagre é o espantoso que se encontra com o inacreditável” (Millôr)


O milagre na concepção vulgar, é uma ocorrência fora do comum, imprevista e admirável, violando as leis naturais sem explicação científica. Na Metafísica, as religiões, desde as mais primitivas até as ditas superiores, monoteístas, creem em milagre como manifestação da vontade divina.

Entre os cristãos vigora a crença de que Jesus Cristo operou milagres, curando enfermos, multiplicando o pão e o vinho e até levantando um morto do túmulo. Além disso ressuscitou após a crucificação como havia dito aos seus discípulos.

Como acontecimento extraordinário, o milagre é importante para os têm fé na intervenção divina para resolver problemas. Os cristãos encontram na Bíblia (Hebreus) um incentivo para esta crença:  “A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vê. Por ela os antigos receberam um bom testemunho de Deus” (Hb 11,1-2).

A palavra Milagre dicionarizada é um substantivo masculino originário do latim, miraculum, do verbo mirare, “maravilhar-se”. O verbete se refere também a uma manifestação teatral religiosa da Igreja Católica na Idade Média; e, nos dias atuais, bastante explorado na literatura.

O grande Voltaire, positivista, escreveu no seu Dicionário Filosófico que “a rotação de cem milhões de planetas ao redor de um milhão de sóis, a atividade da luz e a vida dos animais são milagres perpétuos”.

É interessante registrar que os brasileiros – um dos povos mais crédulos do mundo – apelam para um milagre nas situações mais distintas para conseguir um benefício, da conquista amorosa ao emprego, empréstimo, e até para seu clube ganhar uma partida de futebol…

Nos últimos tempos, ouvi preces com pedidos de auxílio até na política; e é engraçado que vários milagres têm sido realizados neste campo. Conheço muitas pessoas que fizeram promessas para ver o pelego Lula da Silva preso por corrupção e lavagem de dinheiro. E as suas súplicas foram ouvidas…

Um amigo contou-me que recorreu a São Jorge para que seu candidato à presidência, Jair Bolsonaro, cumprisse a promessa de mexer no Estatuto do Desarmamento, permitindo a posse de arma para o cidadão. E já foi acender velas na igreja do santo…

Uma senhora, minha vizinha, viúva de um diplomata que vivia horrorizada com o que o lulopetismo fez no Itamaraty, pediu a uma sobrinha umbandista para livrar o Ministério do Exterior da ideologia bolivariana. E já pagou o despacho de seis pombas brancas ao pai-de-santo.

O inspirador deste artigo, o motorista que me serve a mais de seis anos levando-me aonde não tem metrô nem ônibus, é um alagoano que odeia Renan Calheiros, e vivia prometendo soltar uma dúzia de foguetões se ele perdesse a eleição para presidente do Senado; aconteceu o espantoso e inacreditável e ele acordou a vizinhança com o foguetório ensurdecedor.

Minha irmã, espírita kardecista de um humanismo ímpar, tem rezado diariamente pedindo aos seus protetores o restabelecimento físico de Bolsonaro das facadas sofridas no ataque covarde sofrido em Juiz de Fora.

Da minha parte, dou conhecimento de um rogo que faço aos céus: a volta de um jornalismo vocacionado, ético, generoso e que readquira o crédito no mercado de leitores sem as artimanhas do “disse uma fonte”, “falam nos bastidores”, e “afirmam os especialistas”… Se isto vier a acontecer, prometo não pedir o impeachment de Dias Tófolli…