Por KIKO NOGUEIRA - Via DCM -
O plenário ficou pequeno para dois egos daquele tamanho e você terá todas os motivos para achar que eles se merecem — mas Gilmar Mendes demoliu Sérgio Moro no Senado.
A César o que é de César.
Foi durante sessão de debates destinada a discutir o projeto de lei que define crimes de abuso de autoridade.
Tendo ao centro um Renan Calheiros diminuído e acoelhado (“a Lava Jato é sagrada”, jurou o fanfarrão) e uma Casa repleta de corruptos de joelhos, Gilmar expôs a natureza imperial e populista do mundo de Moro.
Em seu discurso de abertura, o juiz paranaense disse que aquele “talvez” não fosse “o melhor momento” para aprovação do texto por causa das operações policiais em curso.
Da tribuna, por sua vez, Gilmar rebateu os argumentos do colega. “Qual seria o momento adequado para discutir esse tema, de um projeto que tramita no Congresso há mais de sete anos?”, questionou.
“Vamos esperar um ano sabático das operações? Não faz sentido algum”.
Mendes ainda criticou pontos vitais das medidas anticorrupção conforme concebidas pela patota de Dallagnol. As regras sobre a concessão de habeas corpus, retiradas na Câmara, obedeciam a “uma concepção autoritária”.
As tais milhões de pessoas que apoiaram a iniciativa também não escaparam. “Não venham com esse argumento porque eu duvido que esses 2 milhões de pessoas tivessem consciência disso”, afirmou.
“Soube que, se você contratar o Sindicato dos Camelôs de São Paulo, consegue 300 mil assinaturas num dia”.
A Lava Jato, em sua opinião, “não precisa de licença especial” para trabalhar. “Os instrumentos que aí estão são mais do que suficientes”, declarou.
Detonou os vazamentos citando uma conversa que teve com um amigo português. “Eu disse: ‘na nossa ordem jurídica não permite, mas a gente se acostumou a essa violação’. Ele não sabia, ele achava que a nossa Constituição e as leis autorizavam esse tipo de vazamento, tantas vezes ele passando pelo Brasil havia visto isso na Rede Globo”, afirmou.
“É preciso que haja limites para isso, de forma inequívoca. É preciso que a gente chame as coisas pelo nome.”
(Ok. Você vai dizer, com razão, que se o portuga existisse teria manifestado a GM seu espanto diante da mania do ministro do STF de falar fora do autos, uma espécie de Caetano Veloso do Judiciário).
Pouco depois, o senador Lindbergh Farias ainda diria a Moro que “ninguém está acima da lei, nem o juiz, nem o senador [apontando para si próprio], nem ninguém”.
Rememorou as “prisões preventivas abusivas” e as “interceptações telefônicas ilegais”. “Sei que vossa excelência é uma figura muito importante, mas não está acima da lei”, reforçou.
O Brasil está tão de cabeça para baixo que, por um dia, Gilmar Mendes fez sentido. Não tem esse Paraguai como dar certo.
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“Tamos juntos”, disse Renan a Temer na posse. E agora?
Em agosto, quando Michel Temer tomou posse, Renan Calheiros anunciou o novo chefe de maneira triunfal.
“Declaro aberta a sessão solene do Congresso Nacional destinada a receber o compromisso constitucional e dar posse ao senhor Michel Temer no cargo de presidente da Republica”, disse.
Feito o juramento constitucional, Renan apertou as mãos de Michel de maneira efusiva e mandou ver: “Tamos juntos”.
O golpe naufragou, Michel fracassou em velocidade de cruzeiro, seis ministros caíram em seis meses — e agora Renan virou réu no STF por peculato, acusado de pagar com recursos ilícitos pensão, entre 2004 e 2006, a uma filha que teve com a jornalista Mônica Veloso.
“Chama a atenção de movimentação de quantia nada desprezível em espécie. É certo que não é proibido pagar em dinheiro, contudo a alegada opção não pode ser sumariamente desprezada”, disse o relator, o ministro Edson Fachin.
A decisão não obriga Renan a se afastar da presidência do Senado. Moralmente, porém, ele está liquidado. A Casa passa a ser presidida por alguém que responde a uma ação penal no Supremo.
O que vai sobrar do PMDB? Em nota, o partido avisou que respeita a decisão e “entende que o resultado de hoje mostra que o processo está apenas começando. Assim como para qualquer pessoa, cabe agora o direito à ampla defesa”.
Temer olha para Renan e lembra-se das palavras dirigidas a ele na posse.
Entende-se agora o nervosismo de Renan nestes últimos dias. Ao lado de Sérgio Moro, na sessão temática sobre o abuso de autoridade na quinta, declarou que “a Lava Jato é sagrada”, num gesto de claro desespero.
Para fazer-lhe justiça, teve um grande momento no final, talvez o melhor do ano. “Antes de encerrar, eu queria dizer apenas que não houve aqui agressão ao relator da matéria na Câmara dos Deputado, ao Onyx Lorenzetti”, falou, referindo-se ao deputado relator do pacote anticorrupção na Câmara.
“Parece nome de chuveiro, mas não é nome de chuveiro”.
E saiu para o abraço.