LUCAS RUBIO -
Teve lugar na Praça Vermelha, ontem, 7 de novembro de 2018, uma parada militar para marcar a data do aniversário da Revolução Russa. Mas calma! Não é exatamente assim...
A parada militar realizada ontem é um evento de reconstrução histórica que marca os 77 anos da parada militar de 7 de novembro de 1941.
Em 7 de novembro de 1941 a vitória da Revolução do Grande Outubro Vermelho completava 24 anos. Todos os anos, desde 1918, se realizava na Praça Vermelha uma parada militar para comemorar a data mais importante do calendário soviético. Porém, em 1941, a União Soviética encontrava-se em situação de guerra: poucos meses atrás a Alemanha Nazista tinha invadido a URSS.
Na ocasião da data, as forças alemães estavam perigosamente próximas de Moscou. Mesmo assim, para mostrar ao povo a grande moral do Exército Vermelho, o Alto Comando Soviético resolveu seguir adiante com as comemorações como se nada estivesse acontecendo. "Haverá festas em nossas ruas", disse Stalin.
Na manhã de 7 de novembro de 1941 se realizou uma das mais incríveis demonstrações de força e determinação jamais vistos na História - os homens do Exército Vermelho marchavam na Praça Vermelha e em seguida iam direto para a linha de frente. Os alemães, naquela altura, haviam tomado estação de ônibus cujas linhas davam na própria Praça Vermelha. Mesmo assim, a parada foi realizada e os cidadãos lotaram o lugar para prestigiar os defensores da pátria.
Stalin, em cima do Mausoléu de Lenin e sob pesada neve, fez seu famoso discurso em que convocava todo o povo soviético a se levantar contra o invasor fascista. Stalin, nessa ocasião, evocou figuras do passado militar da Rússia que há anos não eram mencionadas na URSS e perguntou ao povo - será mesmo que as forças fascistas são invencíveis? Após suas palavras, os soldados marcharam com a cabeça erguida e seguiram dali direto para as posições de combate.
A realização do evento mesmo sob condições reais de perigo e cerco das poderosas forças dos nazistas foi uma grande surpresa para o comando alemão. Esperavam encontrar uma cidade desesperada e correndo para os túneis, com soldados lutando desesperadamente e com seu líder fora dali. Mas essa não era qualquer cidade, era Moscou! Moscou, a capital da Revolução mundial! Stalin jamais deixou Moscou e os homens do Exército Vermelho que lutaram naquele dia não demonstraram qualquer tipo de medo ou desespero diante dos alemães que queriam destruir a capital da URSS.
Aquela data e a coragem de todos os envolvidos na comemoração do 24º aniversário da vitória da Revolução Bolchevique ficou marcada na memória da Grande Guerra Patriótica e de toda a História da URSS como um ato sem precedentes de determinação, coragem e ambição. Um povo inteiro mostrou sua independência e seu amor à soberania, liberdade e ao socialismo ao comemorar a vitória contra a opressão do czarismo 24 anos atrás saindo daqueles minutos de festividades para justamente lutar contra outra opressão, a opressão fascista. A data também marca a defesa aguerrida dos soviéticos por sua capital Moscou, uma vez que a manutenção da estrutura do governo, concentrada na capital, era de vital importância para o bom andamento da guerra.
Vale citar também a grande mobilização voluntária dos moradores de Moscou que se engajaram na defesa da cidade e de sua preparação: centenas de quilômetros de trincheiras foram escavadas pela população, prédios foram protegidos e camuflados contra os bombardeiros aéreos, divisões de civis se criaram aos montes para receber treinamento militar, baterias anti-aéreas foram montadas em parques, obras de arte de museus escondidas em lugares seguros, o metrô e suas estações foram preparadas como eventuais abrigos e outras medidas de segurança foram tomadas por parte do povo moscovita. A mobilização civil-militar foi crucial para a vitória soviética na defesa da cidade. Moscou não poderia ser uma nova Leningrado.
E venceram! Moscou nunca caiu para os nazistas, pelo contrário - a Batalha de Moscou, finalizada em 1942 com vitória do Exército Vermelho, é a primeira derrota da 'invencível' Alemanha Nazista na Segunda Guerra Mundial. A não tomada de Moscou pelas forças fascistas configurará um ponto fraco no plano de destruição da URSS e impulsionará o Exército Vermelho para vitórias atrás de vitórias até a rendição da Alemanha em 1945.
Por essa razão, todos os anos, em 7 de novembro, na Praça Vermelha, se comemora a data dentro do âmbito da Grande Guerra Patriótica e pela coragem dos defensores de Moscou, deixando a real intenção da data para outros planos.
A parada desse ano, como ocorre em todos os anos, contou com uma série de símbolos e apresentações festivas.
A Praça Vermelha é decorada com telões, bandeiras e pôsteres alusivos à data e fileiras de soldados, cadetes e civis lotam o espaço. Primeiro, guardas de honra cruzam a Praça carregando consigo a Bandeira da Vitória (bandeira hasteada em Berlim em 1945), a bandeira da Rússia e a bandeira da cidade de Moscou ao som da música "A Guerra Sagrada", o hino da Grande Guerra na URSS. Depois, o prefeito de Moscou faz um pronunciamento e então realizam-se diversas apresentações artísticas na Praça, com execução de músicas e danças.
Nessas apresentações artísticas de músicas, danças e simulações de combate também são declamados versos de juramento. Neles, os jovens russos prometem nunca se esquecerem e nunca deixarem de honrar os seus ancestrais que lutaram e morreram pela capital e pela nação! Carros alegóricos passam pela Praça com cantores e atores numa festa muito bem organizada.
Na plateia, veteranos de guerra assistem ao espetáculo com visível emoção. A população moscovita lota as arquibancadas com Bandeiras da Vitória, bandeiras da URSS e da Rússia.
Os participantes das apresentações vestem uniformes típicos da Segunda Guerra Mundial; equipamentos soviéticos da época, como o lendário tanque T-34, também participam. Uma gigantesca Bandeira da Vitória é levada por toda a Praça e depois se toca o hino da cidade de Moscou, que, em um dos seus versos, faz referência aos oito civis que morreram na defesa da cidade em 1941.
Divisões de cadetes e civis vestindo roupas da época e com armas antigas desfilam assim como seus antepassados marcharam 77 anos atrás naquela mesma data. Depois das divisões históricas, marcham as divisões de cadetes das escolas militares de Moscou.
Após o fim da cerimônia, a população pode ir ver os equipamentos militares que ficam o dia todo em exposição na Praça. Muitos levam instrumentos musicais e entoam canções de guerra.
Você ficou curioso em ver essa bela comemoração? Veja completa aqui: