O anjo da encruzilhada
encontrou a bailarina
pegou a mão da menina
e se encantalamou
ela se enfloriou
escalamando feitiço
uma flor no verde viço
deu risada na entrelinha
uma linda menininha
animando a liberdade
todo pranto da cidade
virando mar de água doce
fosse lá o que ela fosse
só repassava alegria
foi a luz daquele dia
a todos grande presente
acalmou gente doente
varreu cinza de tristeza
tirou de baixo da mesa
o escorpião entocado
deixou o ódio de lado
e brindou à comunhão
todo mundo deu a mão
e saiu cantando alegre
foi aquela boa febre
nuvem clara na estrada
tudo de ruim virou nada
as sementes só florando
os clarins anunciando
frutos de nova colheita
a mesa posta refeita
o estrondo do foguete
jogando sem ser joguete
a festa o brinde a feira
a ciranda companheira
o anjo e a bailarina
o encanto da menina
os três seguindo na frente
num caminho diferente.
[Do livro em preparo AdVersos Resistentes na Ciranda Democrática, que se pretende lançar antes do Natal]
*Marcelo Mário de Melo, é poeta, escritor, jornalista, intelectual pernambucano, ativista político. Nasceu em Caruaru, foi para o Recife com nove anos de idade. Integrou-se ao PCB aos 17 anos, foi fundador do PCBR em 1968, atuou na clandestinidade, teve a prisão preventiva decretada em 1970, foi preso político em Pernambuco de março de 1971 a abril de 1979. Filiou-se ao PT em 1980, desfiliou-se em 1990 e reintegrou-se em 1994, sem ter se ligado a nenhum outro partido no intervalo, “o que equivale a um segundo casamento com a mesma mulher”, como ele mesmo costuma dizer. Escreve principalmente poemas, histórias infantis, mini-contos e textos de humor.
