11.11.18

EUCLIDES DA CUNHA DENUNCIAVA A EXPLORAÇÃO HÁ MAIS DE CEM ANOS, HOJE QUEM DENUNCIARÁ O COISO?

DANIEL MAZOLA -


O escritor e jornalista Euclides da Cunha presidiu uma Comissão Brasil-Peru para determinar as fronteiras entre esses países no início do século XX, nesse período ele conviveu com os seringueiros na recém implementada indústria da borracha. Esse convívio estarreceu o escritor e ficou bem claro em um trecho de seu relatório: "O rude seringueiro é duramente explorado, vivendo despeado do pedaço de terra em que pisa longos anos e exigindo, pela situação precária e instável, urgentes providências legislativas que lhe garantam melhores resultados a tão grandes esforços. O afastamento em que jaz, agravado pela carência de comunicações, reduz-lo, nos pontos mais remotos, a um quase servo, à mercê do império discricionário dos patrões. A justiça é naturalmente serôdia e nula. Mas todos esses males, que fora longo miudear, e que não velamos, provém, acima de tudo, do fato meramente físico da distância. Desaparecerão, desde que se incorpore a sociedade sequestrada ao resto do país...".

Tanto tempo depois e continuamos convivendo com a mesma exploração que transforma o trabalhador em um indivíduo sem consciência, péssimas relações de trabalho onde existem terceirizações, transportes inapropriados, assédios morais, desmonte da CLT e agora ainda mais perturbador: Bolsonaro eleito presidente da República.

No seu texto “Judas Ahsverus”, Euclides da Cunha analisa a vida do seringueiro e de sua "escravidão" as relacionando com a malhação do boneco de Judas num sábado de aleluia. Essa malhação que na real só esfola os trabalhadores, a partir de janeiro deverá atingir o ápice histórico no país, as posições do presidente eleito em matéria trabalhista representam uma continuidade da política adotada no desgoverno Temer que, em julho de 2017, aprovou uma antirreforma que restringe e retira direitos estabelecidos, fragiliza as instituições públicas que fiscalizam e garantem o cumprimento da lei, e reduz o papel dos sindicatos no processo de negociação coletiva.

O “projeto” apátrida-entreguista do coiso é fundamentado numa premissa clara, tirar a responsabilidade do Estado e sujeitar o indivíduo aos riscos e às incertezas do mercado. A primeira medida (leia-se malhação) será a extinção do Ministério do Trabalho. Quem nos salvará do coiso?

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“Judas Ahsverus” de Euclides da Cunha.