LUIZ ANTONIO SIMAS -
1 - Contam os persas que Daksa, o criador, resolveu um dia encher a caveira com o mais puro néctar embriagante. Coisa de 80% de teor alcoólico.No meio da carraspana, Daksa arrotou. Deste arroto nasceu a famosa Vaca Sourabhi, primeira mãe do mundo. Todas as 41 vacas mães do mundo nasceram assim, da eructação do deus no meio de uma porranca. Sem o porre; sem a vida.
2 - O Código de Hammurabi estabelecia, como dever público, a obrigatoriedade do fornecimento diário de cerveja ao povo da Babilônia. Um trabalhador braçal receberia do Estado a cota básica de 2 litros por dia; um funcionário público, 3 litros; os sacerdotes e administradores, 5 litros para o consumo mínimo diário. O Estado se comprometia com o fornecimento dessas modestas cotas. O resto era por conta da sede do cidadão. Hammurabi também elaborou regras para punir os produtores de cerveja de baixa qualidade. A pena aos responsáveis pela produção da má cerveja era simples e de grande sensibilidade diante do momentoso tema: morte por afogamento na cerveja.
3 - O faraó Ramsés III doou aos sacerdotes do Templo de Amon 466 mil e tantas ânforas de cerveja provenientes de sua cervejaria particular, pedindo escusas pela modéstia da quantidade ofertada. Isso dá aproximadamente 1.000.000 [um milhão] de litros da bebida.
4 - Ogum é chegado numa gelada. Quem quiser agradar ao guerreiro pode colocar uma cervejinha na mata, no caminho ou numa estrada de ferro.
5 - Seu Gino da Cobra Coral, caboclo de Xangô nas umbandas velhas, gosta mais de uma cerveja preta - que pode ser colocada numa pedreira ou ao lado de um dendezeiro. Exu gosta de qualquer coisa que tenha álcool - basta colocar a água que o passarinho não bebe na esquina, saudar o compadre e o dia está garantido.
6 - O Kalevala - o poema épico nacional da Finlândia, que conta as façanhas do bardo Vainamoinem e do ferreiro Ilmarinen - tem mais recitativos sobre a origem da cerveja que sobre a origem do homem.
7- Os indios Mossoró só respeitavam as ordens do Baraúna, o chefão, se ele estivesse de porre, em contato com o insondável da beleza e das divindades.
Está calor. Tirem as suas conclusões.
(Informações do texto "Cerveja é História, civilização e macumba". Pedrinhas Miudinhas: ensaios sobre ruas, aldeias e terreiros/Fonte: Facebook)