10.11.18

A MORTE DOS SINDICATOS

Por LAURO CARONE -


Li esses dias notícia publicada pela grande imprensa que a equipe de governo de Bolsonaro está definindo o fim do Ministério do Trabalho, assim como de alguns direitos trabalhistas, como o 13º Salário e a introdução de uma nova carteira de trabalho de cor verde-amarela a qual se relaciona à novas formas de contratação individual de trabalho sem relação com a CLT. Ou seja, relações de trabalho que não se enquadram no universo dos direitos. Estas simplesmente se darão diretamente entre patrões e empregados e sem intermediação sindical.

Não obstante esses fatos serem anunciado ainda antes do término do 2º turno das eleições presidenciais, muitos dirigentes sindicais que se dizem representante dos trabalhadores, principais prejudicados por tais medidas, não apenas votaram no candidato Jair Bolsonaro, como em muitos casos até fizeram campanha em seu favor.

O que levou esses dirigentes a optar por esse tipo de conduta quando, objetivamente, o correto seria a rejeição dessa candidatura que anunciava aos quatro ventos mais esse desmonte dos direitos? Teriam estes aderido à campanha de ódio ao PT, promovida pela mídia, ou estavam convencidos de que para os trabalhadores os direitos já não interessavam? Ou seria uma completa capitulação aos interesses patronais em razão do seu peleguismo, devido a sua longa permanência à frente dos sindicatos, aliada a uma reconciliação com a classe detentora dos meios de produção que os faz enxergar, da forma mais enviesada possível, a luta de classes? A esses dirigentes eu lhes faço uma outra pergunta: a luta de classes acabou, ou os senhores nunca a compreenderam como propulsora da história?

Em relação a esse imobilismo existem inúmeras explicações teóricas para tanto, mas quero aqui me ater ao problema do envelhecimento dos dirigentes sindicais e da ausência de renovação de quadros como forma de manter os sindicatos no mais completo imobilismo em um momento tão crucial como o atual que está colocando em xeque a existência de um dos mais importantes – senão o mais importante - instrumental de luta da classe trabalhadora.

Ao analisar a forma como os sindicatos estão instituídos, nota-se um verdadeiro encastelamento de dirigentes pelegos junto a essas instituições, na sua esmagadora maioria gente acomodada, desmotivada, ou mesmo desinteressada em fazer a luta sindical, apenas buscando administrar ao seu modo, e sem qualquer controle, os recursos provenientes de arrecadações compulsórias que agora chegam ao seu fim, mais contribuições outras oriundas do governo, porém sem oferecer contrapartidas que justifiquem esses descontos.

É gente envelhecida, porém exercendo há décadas um poder absolutista/despótico junto a essas instituições, tal como se tratasse de propriedades privadas e de único dono.

Há alguns anos que advogo para o sindicalismo, mas reconheço que, não obstante existirem bons quadros no movimento sindical, a maioria dos seus dirigentes não possui hoje compromisso efetivo com a defesa da recuperação dos direitos perdidos e, menos ainda, o interesse em fazer a luta avançar. Especialmente agora, com o desmonte da CLT, da terceirização irrestrita, do trabalho intermitente e da chegada ao poder de um governo de viés fascista disposto a dar cabo do que ainda resta de direitos dito de cidadania.

De todo modo, e diante dos enormes desafios que os trabalhadores enfrentam, essa casta dirigente, parte dela enriquecida, não promove mudanças na estrutura sindical de modo a se coadunar com essa nova realidade. Ela não se adequa de nenhum modo à conjuntura. E quando falo de mudança não me refiro à demissão de parte do corpo funcional das entidades sindicais geridas por essa pelegada, mas da elaboração de uma nova estratégia de luta voltada a ação política de enfrentamento.

O sindicalismo brasileiro é uma instituição importante, porém condenada a desaparecer, sem que esteja sendo pensado algo de modo a fazê-la avançar. O que apenas aumenta a irresponsabilidade de certos dirigentes que, em vez de facilitar à sua reorganização, servem hoje de obstáculos para renovação de quadros e de novas proposituras que coloquem a ação sindical brasileira em ebulição, em outro patamar da luta.

Estou convencido de que, sem a devida troca dessas direções e seus ineficientes modelos de gestão, frente aos desafios postos à classe trabalhadora, há um risco iminente dos sindicatos, ou pelos menos a maioria deles, vir a desaparecer. Até porque, em razão da ausência de representatividade da maioria dos sindicatos hoje existentes, os trabalhadores não desejam de maneira nenhuma continuar a financiá-los. Essa recusa é visível. Só não vê quem não quer.

Ainda assim, esses velhos pelegos permanecem impassíveis, sem se mexer, e sem querer se dar conta de que o seu tempo de permanência no comando dessas organizações tornou-se um grave problema. Essa talvez seja a principal causa do asfixiamento que em breve poderá levar à morte dos sindicatos. (via Mundo Sindical)

* Lauro Carone é advogado trabalhista, hoje residindo no Rio de Janeiro