ADERSON BUSSINGER -
Para mim, pessoalmente, o dia 20 de novembro consiste numa das
datas mais significativas que possuímos em nosso calendário comemorativo
nacional, tão ocupado por “vultos históricos” predominantemente brancos, em uma
terra sabidamente de forte presença negra e indígena, seja sanguínea, seja principalmente
cultural.
Mas porque exatamente Zumbi? Porque considero Zumbi um de
meus heróis!
Porque este corajoso guerreiro negro, chefe militar de
qualidades que o fizeram excepcional, nascido em 1655, se notabilizou não
apenas e somente pela luta contra a elite colonial que dominava estas terras no
século XVII, (que registre-se: até hoje ainda nos governa e explora, sob outros
“arranjos” políticos e econômicos), mas sobretudo pela tentativa histórica de
construção de uma comunidade solidária e liberta que, (longe dos açoites e
exploração da escravatura), se constituiu em um dos poucos lugares neste país
continental onde os negros podem seguramente afirmar que um dia foram realmente
livres, até quando, como também se sabe, este magnífico quilombo foi derrotado
militarmente, após calcula-se aproximadamente um século de existência.
Evidente que como toda sociedade organizada politicamente
através de fortes personalidades de Reis, Rainhas e chefes militares negros e
negras, como foi também Dandara, (liderança feminina de Palmares) devia também
haver muitos problemas internos, opressões domésticas, violências, mas o fato
fundamental - e bonito - consiste
em que aquelas destemidas sociedades quilombolas se fizeram por alguns
intervalos no tempo livres e independentes do terrível domínio do sistema de
escravidão colonial e formaram
territórios nos quais onde os negros e negras, - (juntamente com índios
e viajantes brancos que também acolhiam) - tentaram dar outro destino as suas
vidas sofridas, a fim de sobreviverem em condições mais dignas e serem felizes
com suas culturas, cultos e tradições africanas.
Portanto, este, para mim, o maior significado deste 20 de
novembro, em pleno século XXI, qual seja: a luta e esperança em se construir
uma existência melhor e digna neste país e mundo! Assim como tentarem os negros
e negras liderados outrora por Zumbi! O que nos remete também ao Haiti de
finalzinho do século XVIII e início do século XIX, (país que tive a experiência
de em 2007 conhecer durante missão de direitos humanos), onde também negros e
negras, liderados pelo também corajoso negro Toussaint Louverture iniciaram uma
fabulosa revolta em 1791, derrubaram e expulsaram a exploradora elite colonial
francesa e também tentaram construir um espaço de liberdade, um Haiti soberano,
como se fosse também uma espécie de “quilombo de Palmares do Caribe”. Guardadas
naturalmente as devidas proporções e trajetórias, mas certamente destacando-se
o significado em ambos movimentos da luta de homens e mulheres negros pela liberdade!
Viva portanto, Zumbi dos Palmares, verdadeiro herói nacional
e mundial que sinceramente reverencio! E principalmente viva a luta dos atuais
remanescentes quilombolas!
*Aderson Bussinger, Advogado Sindical, Conselheiro da OAB-RJ. Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais/UFF, colaborador do site TRIBUNA DA IMPRENSA SINDICAL, Diretor do Centro de Documentação e Pesquisa da OAB-RJ, membro Efetivo da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ. Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros-IAB