JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
A história brasileira não registra nenhum caso de alguém que tenha saído da magistratura para se candidatar com sucesso a um alto cargo público, a saber, governador de Estado. Juízes tem uma função peculiar: eles decidem entre demandantes de interesses opostos. Não podem atender ao interesse comum já que, entre dois, apenas um tem razão. É o oposto do político. Pelo menos em tese, este deve atender ao interesse de todos.
A experiência de juiz é a que menos presta ao exercício da política. O juiz dá ordens segundo seus critérios individuais, enquanto o político requer negociação e acomodação de interesses. Isso é fundamental para o funcionamento da democracia. Se não houvesse negociação e transigência os conflitos políticos na sociedade jamais seriam resolvidos. A ação do juiz-governador impondo uma ordem discricionária no plano político infernizaria a vida dos cidadãos.
O juiz que está concorrendo a governador do Rio de Janeiro apresenta como principal credencial a parceria com os juízes da Lava Jato, Sérgio Moro e Marcelo Bretas. Ninguém o lembrou de que a Laja Jato destruiu milhões de empregos no Brasil e no exterior, e sobretudo no Estado do Rio de Janeiro, nesse caso principalmente ao paralisar o Comperj. Foi uma ação monstruosa, predatória, em nome do combate à corrupção, mas que não combateu corrupção coisa alguma. Em alguns casos, premiou-a.
Os principais agentes de corrupção da Lava Jato estão soltos, gozando de suas delações premiadas e de alguma fortuna escondida por aí. Já as empresas que tiveram negócios com a Petrobrás, em busca de contratos, foram levadas a uma rota de falência ou de retração, gerando grande desemprego. Os juízes não quiseram ou não souberam distinguir empresas, pessoa jurídica, de empresários, pessoas físicas. Pessoas físicas cometem crimes. Empresas não.
O saldo da Lava Jato é deprimente. Enfraqueceu grandes empresas brasileiras que geravam empregos aqui dentro e traziam recursos lá de fora, beneficiando centenas de milhares de empregados. Fico espantado quando alguém que pretende ser governador de Estado tem como modelos exemplares de vida dois juízes que destruíram grande parte do parque industrial fluminense, sem qualquer preocupação com as conseqüências sociais.
Imagine, agora, esse juiz como governador do Estado. Sua experiência de vida é ser juiz. Portanto, condenar. Não sabendo fazer outra coisa vai exercer o cargo arbitrariamente mandando prender gente, culpados e inocentes, negros e brancos, pobres e ricos. Esse é seu ofício. Governando um Estado falido, dificilmente terá base de conhecimentos administrativos para enfrentar as imensas dificuldades que esperam o Rio de Janeiro no ano que vem.
Isso não é suficiente. O juiz mostrou as garras nazistas ao ameaçar de prisão o candidato Eduardo Paes, por suposta ofensa. Não poderia fazê-lo na democracia, mas o nazismo não tem fronteira. É patético, mas se isso acontece em relação a um candidato a governador com visibilidade pública, o que esse juiz pretende fazer para impor ao povo sua concepção de política no governo a partir da experiência da toga?
Nos meus artigos sobre a vitória relativa de Bolsonaro, expliquei que ela resultou de um mal-estar geral da sociedade, e principalmente dos pobres, com a altíssima taxa de desemprego e de subemprego no Brasil, cerca de 27%. De forma irracional, mas emocionalmente com razão, as massas atribuíram essa situação às elites dirigentes de todos os partidos. Isso beneficiou o juiz, o qual, como Bolsonaro, não dá nenhuma importância a partidos.
Corremos o risco, portanto, de termos nazismo no plano federal e no plano estadual. Nos meus 70 anos, jamais tendo sido do PT, é um excesso. Devo confiar em Deus ou na razão dialética para que dessa situação nasça, a curtíssimo prazo, uma situação oposta, de forma a que se estabeleça uma síntese numa dimensão superior, agora mediante democratização e limpeza dos partidos e efetiva tolerância da sociedade, assegurando a todos níveis reais de bem-estar social.