JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
Caríssimos,
O resultado destas eleições depende de vocês. Assim como dependerão de vocês, nos próximos quatro anos, suas perspectivas de recuperar ou de manter seu emprego, e o emprego de seus familiares e amigos. Não tenha ilusões de que poderão ficar num zona de conforto imune ao temporal do desemprego caso Bolsonaro ganhe as eleições. A política econômica dele promete abertamente uma pauta destruidora de emprego e renda para atender aos ditames ideológicos depressivos do neoliberalismo.
Ele fala em gerar empregos, mas todas as suas propostas econômicas, apresentadas de forma fragmentada, contrariam esse propósito puramente demagógico. Na sua visão próxima da loucura, ele fala em suprimir empregos até mesmo de merendeiras e professores a fim de economizar salários e viabilizar seu projeto de ensino à distância na escola fundamental. Embora fale em manter o bolsa família, ameaça com auditorias, colocando em suspeita a honestidade dos pobres que a recebem sem que tenha havido qualquer menção a desvios.
Paulo Guedes, o guru econômico de Bolsonaro, não tem em mente uma política econômica alternativa à de Temer, o maior destruidor de empregos em nossa história. Sua obsessão é vender as empresas públicas por 800 bilhões de dólares, sem dedicar um único real à criação de empregos. Aliás, ele não explica o que iria fazer com o dinheiro da venda. Não seria investir para criar emprego, pois isso contrariaria suas intenções privatistas. Sua meta é dar todo o dinheiro da privatização para os especuladores com a dívida pública, e pronto.
Você pode estar empregado e talvez não perceba que sua situação econômica estaria muito melhor se a economia estivesse bombando, e não houvesse tanta concentração de renda no Brasil. Uma distribuição mais equilibrada de renda, com a economia crescendo, permitiria que alguém formado em curso superior ganhasse de 12 a 15 mil reais por mês; um técnico, de 8 a 10 mil reais; um profissional bem treinado, como um motorista de táxi, no mínimo 7 mil reais; um trabalhador sem qualificação, de 3 mil a 4 mil reais. O que impede a realização dessa escala salarial é a queda do PIB e a pressão do desemprego.
Na realidade, o alto desemprego é algo planejado no capitalismo selvagem. Ele força a competição por trabalho entre os próprios trabalhadores a fim de reduzir deliberadamente o salário. O objetivo da reforma trabalhista de Temer, apoiada entusiasticamente por Bolsonaro, foi justamente a degradação salarial e a desproteção do trabalhador, com sua escravização crescente pelo capital. Se acaso fosse eleito, Bolsonaro, com seu guru Paulo Guedes, radicalizaria as ações contra os trabalhadores, como ele mesmo anuncia descaradamente.
Ele já anunciou publicamente que pretende aproveitar muita coisa, ou seja, muitos ministros do governo Temer. E o que tem sido o governo Temer? Em três anos, ele afundou a economia em 8%, algo sem paralelo em nossa história. Com esse mergulho só os privilegiados do setor público e do setor privado conseguem segurar sua renda. É fato que no Judiciário, no Legislativo e no Executivo há inaceitáveis privilégios salariais. Entretanto, Bolsonaro não fala nisso. Fala em piorar as condições previdenciárias dos pobres.
Estou moderadamente tranqüilo. Com os indícios de virada dos últimos dias, creio que Bolsonaro não se elegerá. Ele fala muito em Deus, mas é um hipócrita. O Deus dos cristãos é o Deus do amor, não do ódio. É inconcebível a idéia de que Jesus viesse ao mundo para estimular as pessoas a se armarem e a matarem 30 mil por razões políticas. Se há alguma interferência divina nos negócios humanos, o Brasil não vai eleger um radical da extrema direita que impediria qualquer tentativa de Pacto Social regenerador das instituições.