13.10.18

DIÁRIO DE VIAGEM V: EDUCAÇÃO E FÁBRICAS DA COREIA DO NORTE - 7 DE SETEMBRO

LUCAS RUBIO -

No dia 7 de setembro de 2018, feriado de 'independência' no Brasil, tive a oportunidade privilegiada de conhecer o interior de várias fábricas e da escola de professores de Pyongyang. O cronograma foi o seguinte: visita ao Instituto de Formação de Professores; à Fábrica de Sapatos de Pyongyang; à Fábrica de Mochilas; à Fábrica de Cosméticos Unhasu.

Lenan Cunha e Lucas Rubio dentro da fábrica de cosméticos Unhasu, fundada na década de 1960 (fotos: TIS)
Nosso primeiro ponto de parada foi o espetacular Instituto de Formação de Professores. Eu, que atuo na área de educação, fiquei boquiaberto com a preparação que os professores coreanos recebem!

O Instituto foi formado em 1986 por incentivo do Presidente KIM IL SUNG, que também inaugurou o prédio. Bem na frente do belo prédio, recentemente reformado, há um campo de futebol para que os futuros professores se divirtam após a jornada de estudos. Veremos, a partir daqui, que em todas as fábricas e espaços de trabalho/estudo há esses lugares de lazer. Vale lembrar que ele é totalmente gratuito e provido pelo Estado.

Na entrada do Instituto, tem umas salinhas com fotografias das visitas dos Líderes ao lugar. O Instituto recebeu a visita do Marechal KIM JONG UN há poucos meses, então tinham várias fotos da inspeção dele! A gente vai ver que também nas fábricas existem lugares assim, pequenos museus sobre a própria fábrica, que mostram fotos históricas das visitas dos Líderes.

Um belíssimo campo de futebol na frente do Instituto de Formação de Professores. É usado principalmente pelos aprendizes como forma de recreação após os estudos
Esse Instituto visa formar professores que irão atuar na Educação Infantil (jardim de infância) e também nas escolas primárias. O lugar tem um extenso currículo para os aprendizes de professores, que estudam desde as matérias próprias da educação até matérias de comportamento humano. Tudo é muito tecnológico: nas salas é sempre presente um computador ou outro aparato tecnológico. Há uma sala, a que mais me impressionou, que visa simular, por meio de telas e de um software desenvolvido pelos próprios coreanos, uma sala de aula com crianças. Os bonequinhos com as crianças do programa de computador praticamente 'saltam' da tela para a sala, simulando um ambiente real de aula. O mais incrível é que os alunos do programa de computador respondem aos estímulos que você fala no microfone! Eles reconhecem 4 línguas: coreano, russo, inglês e chinês. Quando questionados, eles respondem! No momento em que estávamos visitando a sala, a Professora nos convidou para testar o software e o camarada Dermot Hudson, da Inglaterra, conversou com os alunos virtuais em inglês e eles respondem perfeitamente. Um camarada da Mongólia conversou em russo e eles também responderam! Impressionante! Nessa sala, segundo nos disseram, há também simulações de problemas, para que os futuros professores já saibam, desde a formação, como lidar com algumas questões.

Instituto de Formação de Professores de Pyongyang: sala de aula para alunos que amanhã serão professores da Educação Infantil e das escolas primárias. O uso da tecnologia na educação é visível na Coreia Popular, os futuros professores aperfeiçoam suas capacidades para serem bons mestres
Nesse Instituto também são formulados alguns materiais didáticos que são usados pelas crianças nas escolas. Há diversas salas com temáticas diferentes, como a Sala da Família, que visa ensinar aos aprendizes de professores como a presença da família na vida escolar do aluno é primordial e quais são os limites entre escola e casa. Visitei também salas totalmente 3D, com representações de barcos, animais, florestas, tudo para preparar o futuro professor a falar sobre aqueles temas com propriedade. Há também salas de prática esportiva e salas de aperfeiçoamento artístico (pintura, caligrafia e manejo tecnológico) para que os aprendizes de professores ensinem a nova geração a ter bons dotes artísticos.

É com investimento pesado na educação socialista que a Coreia do Norte hoje é detentora de poderosas tecnologias, como a balística e nuclear, além de ser uma potência científica e Território Livre do Analfabetismo, segundo a ONU.

Na saída do Instituto, tive a honra de escrever no livro de visitas as minhas impressões sobre o lugar e também marcar o nome do nosso Brasil!

Depois, foi a vez de irmos para a Fábrica de Calçados de Pyongyang. Essa foi a segunda fábrica que entrei na minha vida, foi uma oportunidade incrível! O lugar foi fundado em 1988 e é a maior fábrica de calçados da Coreia.

Linha de produção de sapatos na Coreia do Norte - tecnologia e trabalho humanizado!
A fábrica opera muito diferente de qualquer outra fábrica capitalista. A linha de produção opera numa velocidade aceitável para não sobrecarregar os operários, que trabalham em ótimas condições de ventilação e conforto. Há muita modernização e computadores durante a produção, desmentindo de vez o mito da "Coreia do Norte atrasada". A fábrica produz anualmente mais de 220 modelos diferentes e os sapatos tem o preço bem acessível. Por exemplo, na loja da fábrica, o turista pode comprar um par novo de sapatos esportivos por 4 dólares. Todos os sapatos passam por rígidos testes periódicos que visam sempre manter a qualidade da produção.

As máquinas são de produção nacional
No pátio dessa fábrica, há quadras esportivas, que são usadas pelos trabalhadores após o dia de trabalho. A prática de esporte nas fábricas libera o operário do estresse laboral e também previne contra enfermidades.

Fundado em 1988 é a maior fábrica de calçados da Coreia, trabalhadores satisfeitos
Depois, fomos para a Fábrica de Mochilas, um lugar muito bonito e recém construído! O prédio central da fábrica replica o modelo do Palácio das Crianças, ou seja, têm duas construções principais que formam dois braços, como os de uma mãe.

Bem na chegada, é possível ver um belo pátio com um mural retratando o Presidente KIM IL SUNG e o Dirigente KIM JONG IL. Já dentro do prédio, é possível ver várias mochilas de fabricação estrangeira que foram compradas, furando o bloqueio, para que sirvam de modelo de qualidade. Todas elas foram presenteadas pessoalmente pelo Marechal KIM JONG UN, que também visitou a fábrica muito recentemente.

Na entrada da Fábrica de Mochilas
Nessa fábrica, uma linha de produção também calma e muito tecnológica. Nas paredes, é possível ver medalhas e premiações estatais que alguns modelos de mochilas produzidas ali receberam. E você sabe quem cria os modelos? Os próprios operários! Com base nos pedidos de seus filhos, parentes ou conhecidos, que retratam suas necessidades, os operários desenham modelos próprios e apresentam como proposta para a produção. Após reunião, o modelo é aprovado ou não e, se depois de produzido, receber boas críticas, o operário ganha condecorações e reconhecimentos do governo. Esse é um modo de incentivar o espírito criativo e libertador do Socialismo Juche presente nos trabalhadores!

Nossa guia nos apontava os modelos mais usados e preferidos pelas crianças coreanas, geralmente são os que têm personagens de animações.

Linha de produção da Fábrica de Mochilas - costureiras
Vale citar algo interessante que vi nas fábricas, nessa em especial. Todos os equipamentos e locais de trabalhos individuais tinham uma plaquinha com uma medalha ilustrada. Perguntei para a guia da fábrica e ela disse que aquela era a insígnia do Movimento 26 de Julho, criada por KIM JONG IL quando ele ainda estudava. O movimento consiste em deixar o lugar de trabalho sempre muito limpo e organizado, evitando assim acidentes ou situações desconfortáveis. E os coreanos seguem isso à risca!

Outra coisa interessante é que por várias paredes das fábricas há murais com fotografias dos operários mais proeminentes - os que têm mais atuação na fábrica, que possuem mais reconhecimento por criatividade ou os que mais se esforçam. Quem disse que no socialismo ninguém se esforça, é vagabundo e não faz nada e recebe? Quem disse que no socialismo não tem competição? Pois tem sim! A competição socialista é amigável, justa e busca sempre melhorar a sociedade por meio do trabalho honesto!

Em uma sala de recreação (com intranet) para os operários usarem durante o intervalo, observei que também virei notícia no site do governo norte-coreano.
Mais fotos desse dia você vê aqui
Na fábrica de mochilas, há também um controle de qualidade - operários recolhem mochilas produzidas naquele dia e medem a qualidade das costuras, da durabilidade do material e se está tudo em seu lugar.

Nossa última parada foi a linda Fábrica de Cosméticos Unhasu! Essa fábrica, fundada na década de 1960, também contou com a ilustre visita do Marechal há poucos meses. O pátio de entrada surpreende pela beleza de monumentos - bandeiras, slogans, murais. Para entrar na fábrica, é preciso usar um equipamento pessoal de proteção para não sujar o ambiente higiênico de produção.

Lá dentro, mais uma vez vimos uma moderna linha de produção, muito computadorizada. Essa é a principal fábrica de cosméticos da Coreia e lá se produzem inúmeros tipos de produtos para cuidado pessoal, como cremes, xampus, batons, utensílios de maquiagem e produtos próprios de maquiagem. A fábrica possui uma bela loja que exibe os produtos fabricados ali, o que atraiu muito a atenção das visitantes mulheres. Há também um controle de qualidade dos produtos.

O meu quarto dia na Coreia foi uma chance única de conhecer o trabalho interno de produção em larga escala socialista. Pude ver como o Estado trata bem os operários, com linhas de produção humanas e espaços próprios de lazer e esporte, trazendo saúde física e mental aos trabalhadores. Mais que isso, foi incrível ver como as riquezas produzidas na Coreia são realmente bens sociais desfrutados por toda a sociedade!

* Lucas Rubio - Presidente do Centro de Estudos da Política Songun-Brasil, coordenador do Núcleo de Política Internacional da Tribuna da Imprensa Sindical