LUCAS RUBIO -
No dia 7 de setembro de 2018, feriado de 'independência' no Brasil, tive a oportunidade privilegiada de conhecer o interior de várias fábricas e da escola de professores de Pyongyang. O cronograma foi o seguinte: visita ao Instituto de Formação de Professores; à Fábrica de Sapatos de Pyongyang; à Fábrica de Mochilas; à Fábrica de Cosméticos Unhasu.
Lenan Cunha e Lucas Rubio dentro da fábrica de cosméticos Unhasu, fundada na década de 1960 (fotos: TIS) |
Nosso primeiro ponto de parada foi o espetacular Instituto de Formação de Professores. Eu, que atuo na área de educação, fiquei boquiaberto com a preparação que os professores coreanos recebem!
O Instituto foi formado em 1986 por incentivo do Presidente KIM IL SUNG, que também inaugurou o prédio. Bem na frente do belo prédio, recentemente reformado, há um campo de futebol para que os futuros professores se divirtam após a jornada de estudos. Veremos, a partir daqui, que em todas as fábricas e espaços de trabalho/estudo há esses lugares de lazer. Vale lembrar que ele é totalmente gratuito e provido pelo Estado.
Na entrada do Instituto, tem umas salinhas com fotografias das visitas dos Líderes ao lugar. O Instituto recebeu a visita do Marechal KIM JONG UN há poucos meses, então tinham várias fotos da inspeção dele! A gente vai ver que também nas fábricas existem lugares assim, pequenos museus sobre a própria fábrica, que mostram fotos históricas das visitas dos Líderes.
Um belíssimo campo de futebol na frente do Instituto de Formação de Professores. É usado principalmente pelos aprendizes como forma de recreação após os estudos |
Esse Instituto visa formar professores que irão atuar na Educação Infantil (jardim de infância) e também nas escolas primárias. O lugar tem um extenso currículo para os aprendizes de professores, que estudam desde as matérias próprias da educação até matérias de comportamento humano. Tudo é muito tecnológico: nas salas é sempre presente um computador ou outro aparato tecnológico. Há uma sala, a que mais me impressionou, que visa simular, por meio de telas e de um software desenvolvido pelos próprios coreanos, uma sala de aula com crianças. Os bonequinhos com as crianças do programa de computador praticamente 'saltam' da tela para a sala, simulando um ambiente real de aula. O mais incrível é que os alunos do programa de computador respondem aos estímulos que você fala no microfone! Eles reconhecem 4 línguas: coreano, russo, inglês e chinês. Quando questionados, eles respondem! No momento em que estávamos visitando a sala, a Professora nos convidou para testar o software e o camarada Dermot Hudson, da Inglaterra, conversou com os alunos virtuais em inglês e eles respondem perfeitamente. Um camarada da Mongólia conversou em russo e eles também responderam! Impressionante! Nessa sala, segundo nos disseram, há também simulações de problemas, para que os futuros professores já saibam, desde a formação, como lidar com algumas questões.
Nesse Instituto também são formulados alguns materiais didáticos que são usados pelas crianças nas escolas. Há diversas salas com temáticas diferentes, como a Sala da Família, que visa ensinar aos aprendizes de professores como a presença da família na vida escolar do aluno é primordial e quais são os limites entre escola e casa. Visitei também salas totalmente 3D, com representações de barcos, animais, florestas, tudo para preparar o futuro professor a falar sobre aqueles temas com propriedade. Há também salas de prática esportiva e salas de aperfeiçoamento artístico (pintura, caligrafia e manejo tecnológico) para que os aprendizes de professores ensinem a nova geração a ter bons dotes artísticos.
É com investimento pesado na educação socialista que a Coreia do Norte hoje é detentora de poderosas tecnologias, como a balística e nuclear, além de ser uma potência científica e Território Livre do Analfabetismo, segundo a ONU.
Na saída do Instituto, tive a honra de escrever no livro de visitas as minhas impressões sobre o lugar e também marcar o nome do nosso Brasil!
Depois, foi a vez de irmos para a Fábrica de Calçados de Pyongyang. Essa foi a segunda fábrica que entrei na minha vida, foi uma oportunidade incrível! O lugar foi fundado em 1988 e é a maior fábrica de calçados da Coreia.
Linha de produção de sapatos na Coreia do Norte - tecnologia e trabalho humanizado! |
A fábrica opera muito diferente de qualquer outra fábrica capitalista. A linha de produção opera numa velocidade aceitável para não sobrecarregar os operários, que trabalham em ótimas condições de ventilação e conforto. Há muita modernização e computadores durante a produção, desmentindo de vez o mito da "Coreia do Norte atrasada". A fábrica produz anualmente mais de 220 modelos diferentes e os sapatos tem o preço bem acessível. Por exemplo, na loja da fábrica, o turista pode comprar um par novo de sapatos esportivos por 4 dólares. Todos os sapatos passam por rígidos testes periódicos que visam sempre manter a qualidade da produção.
As máquinas são de produção nacional |
No pátio dessa fábrica, há quadras esportivas, que são usadas pelos trabalhadores após o dia de trabalho. A prática de esporte nas fábricas libera o operário do estresse laboral e também previne contra enfermidades.
Fundado em 1988 é a maior fábrica de calçados da Coreia, trabalhadores satisfeitos |
Depois, fomos para a Fábrica de Mochilas, um lugar muito bonito e recém construído! O prédio central da fábrica replica o modelo do Palácio das Crianças, ou seja, têm duas construções principais que formam dois braços, como os de uma mãe.
Bem na chegada, é possível ver um belo pátio com um mural retratando o Presidente KIM IL SUNG e o Dirigente KIM JONG IL. Já dentro do prédio, é possível ver várias mochilas de fabricação estrangeira que foram compradas, furando o bloqueio, para que sirvam de modelo de qualidade. Todas elas foram presenteadas pessoalmente pelo Marechal KIM JONG UN, que também visitou a fábrica muito recentemente.
Na entrada da Fábrica de Mochilas |
Nessa fábrica, uma linha de produção também calma e muito tecnológica. Nas paredes, é possível ver medalhas e premiações estatais que alguns modelos de mochilas produzidas ali receberam. E você sabe quem cria os modelos? Os próprios operários! Com base nos pedidos de seus filhos, parentes ou conhecidos, que retratam suas necessidades, os operários desenham modelos próprios e apresentam como proposta para a produção. Após reunião, o modelo é aprovado ou não e, se depois de produzido, receber boas críticas, o operário ganha condecorações e reconhecimentos do governo. Esse é um modo de incentivar o espírito criativo e libertador do Socialismo Juche presente nos trabalhadores!
Nossa guia nos apontava os modelos mais usados e preferidos pelas crianças coreanas, geralmente são os que têm personagens de animações.
Linha de produção da Fábrica de Mochilas - costureiras |
Vale citar algo interessante que vi nas fábricas, nessa em especial. Todos os equipamentos e locais de trabalhos individuais tinham uma plaquinha com uma medalha ilustrada. Perguntei para a guia da fábrica e ela disse que aquela era a insígnia do Movimento 26 de Julho, criada por KIM JONG IL quando ele ainda estudava. O movimento consiste em deixar o lugar de trabalho sempre muito limpo e organizado, evitando assim acidentes ou situações desconfortáveis. E os coreanos seguem isso à risca!
Outra coisa interessante é que por várias paredes das fábricas há murais com fotografias dos operários mais proeminentes - os que têm mais atuação na fábrica, que possuem mais reconhecimento por criatividade ou os que mais se esforçam. Quem disse que no socialismo ninguém se esforça, é vagabundo e não faz nada e recebe? Quem disse que no socialismo não tem competição? Pois tem sim! A competição socialista é amigável, justa e busca sempre melhorar a sociedade por meio do trabalho honesto!
Em uma sala de recreação (com intranet) para os operários usarem durante o intervalo, observei que também virei notícia no site do governo norte-coreano. Mais fotos desse dia você vê aqui |
Na fábrica de mochilas, há também um controle de qualidade - operários recolhem mochilas produzidas naquele dia e medem a qualidade das costuras, da durabilidade do material e se está tudo em seu lugar.
Nossa última parada foi a linda Fábrica de Cosméticos Unhasu! Essa fábrica, fundada na década de 1960, também contou com a ilustre visita do Marechal há poucos meses. O pátio de entrada surpreende pela beleza de monumentos - bandeiras, slogans, murais. Para entrar na fábrica, é preciso usar um equipamento pessoal de proteção para não sujar o ambiente higiênico de produção.
Lá dentro, mais uma vez vimos uma moderna linha de produção, muito computadorizada. Essa é a principal fábrica de cosméticos da Coreia e lá se produzem inúmeros tipos de produtos para cuidado pessoal, como cremes, xampus, batons, utensílios de maquiagem e produtos próprios de maquiagem. A fábrica possui uma bela loja que exibe os produtos fabricados ali, o que atraiu muito a atenção das visitantes mulheres. Há também um controle de qualidade dos produtos.
O meu quarto dia na Coreia foi uma chance única de conhecer o trabalho interno de produção em larga escala socialista. Pude ver como o Estado trata bem os operários, com linhas de produção humanas e espaços próprios de lazer e esporte, trazendo saúde física e mental aos trabalhadores. Mais que isso, foi incrível ver como as riquezas produzidas na Coreia são realmente bens sociais desfrutados por toda a sociedade!
* Lucas Rubio - Presidente do Centro de Estudos da Política Songun-Brasil, coordenador do Núcleo de Política Internacional da Tribuna da Imprensa Sindical