4.10.18

AO MÁRIO, MEU AMIGO

Por MARIA LUIZA FRANCO BUSSE -

Existem dias que são os piores das nossas vidas. Este 4 de outubro é um deles. Morreu meu amigo Mário Augusto, o Jakobskind.

Ontem estivemos juntos. Ele, Elza (esposa) e eu. Como de hábito, brigamos. Disse que ele tinha que fazer pilates. Irreverente, sempre, retrucou: “não tem nada a ver comigo”. Elza me olhou de esguelha, como dizendo: “tá vendo?!?”.

Maria Luiza Franco Busse, Mário Augusto Jakobskind e Daniel Mazola (foto: TIS)
Mário foi o jornalista mais destemido que conheci e tive a felicidade de conviver. Foi ele que, sem saber, me ensinou o que é ser combativo na profissão. Eu era foca, começando, e me perguntei “quem é esse cara?” numa reunião de organização ainda no tempo da ditadura civil-militar que ele nunca deixou de lutar contra.

Ontem, mesmo, Mário e Elza chegaram atrasados no nosso compromisso porque Mário estava escrevendo artigo sobre o livro que foi proibido pelo colégio Santo Agostinho depois que os pais deram queixa dizendo que se tratava de  literatura comunista. O livro é ‘Meninos sem pátria’, história de filhos de exilados que voltam ao Brasil.

Era só a história do Brasil, que mais uma vez está sendo silenciada pela onda fascista que vem ganhando corpo nas instituições, com o Supremo com tudo.

“Não podemos silenciar” era uma das frases-de-ordem que Mário mais usava e praticava fazendo muito barulho com seus textos corajosos e sem meias palavras.

Hoje de manhã ele se foi sem dar uma pista. Elza e eu só conseguimos repetir “isso não aconteceu”. O Sílvio Tendler dizia que nós formávamos um trio-casal depois de compreender que eu não era a Elza e Elza não era eu. Ele era o meu mais querido amigo que sempre me emocionou pela energia com que se atirava no bom combate. É inesquecível a felicidade com que Mário ergueu os braços para a foto oficial de lançamento do jornal Brasil de Fato. É hilário lembrar do jeito sem-jeito-fingido com que recebeu os cumprimentos de uma garotada guerreira que o reconheceu em um dos tantos Fóruns Social Mundial que participamos juntos.

Não estou conseguindo terminar o texto porque vai me fazer acreditar que “isso aconteceu”. Mário, Mário Augusto, Mário Augusto Jakobskind, meu amigo.Se eu soubesse que você ia hoje não tinha deixado você ir embora ontem.

Em respeito à sua memória, deixo registrado que você ia votar no Haddad.

* Enviado por email / Maria Luiza Franco Busse é professora e jornalista