ANA CLARA SALLES -
Neste sábado dia 29 de setembro, o
movimento #ELENÃO contra a eleição e a política do candidato Jair Bolsonaro,
que concorre ao cargo de presidência da republica, tomou conta das ruas do
centro do Rio do Janeiro. Desde a Cinelândia até a Praça XV a população carioca
se mobilizou com a intenção de mostrar a indignação contra o fascismo crescente
na política e na realidade brasileira.
Bolsonaro é uma figura na
política que se utiliza de ideais, propostas e ações ligadas diretamente a um
governo autoritário, entreguista no sentido do imperialismo das potencias
neoliberais sobre o Brasil e sua produção, que tende a seguir moldes muito
parecidos com a ditadura militar de 1964 que trouxe para a legalidade a
tortura, censura, assassinatos, perseguições, grandes esquemas de corrupção,
desvalorização da educação pública, um modelo grotesco de fascismo.
Além dessas características
gerais de seu programa de governo que aparecem sem um fundamento concreto (já
que ele mesmo em suas aparições públicas joga a responsabilidade de suas
propostas aos seus assessores), seu preconceito e desrespeito a grupos
majoritários na sociedade assusta o que esta por vir se ele concretizar sua
vitória. A lista é grande, extremamente machista, colocando a mulher num status
de maior inferioridade em relação ao homem em vários direitos sociais e
individuais. As mulheres brasileiras se tornaram uma ala de resistência de
extrema força e importância pelo meio das urnas, graças e esse ódio tão grande
que ele destila com seu machismo. Outro ataque recorrente é em relação à
população negra e indígena, dissipando um discurso de ódio e morte a grupos
quilombolas e indígenas (a questão de demarcação de terra gera um grande
genocídio a essas culturas e pessoas). A grande homofobia em seu discurso
contra a comunidade de LGBTI defendendo a morte, a “correção ou cura” da
orientação dos indivíduos que constroem laços de afeto. Ademais a grande aversão aos direitos das
camadas mais pobres da população, como seu vice Hamilton Mourão recentemente
demonstrou em uma fala que iria retirar o direito do décimo terceiro salário
dos trabalhadores. Outra questão bastante polêmica é a pauta da legalização do
porte de armas como uma das soluções da segurança publica. A situação de uma
guerra civil não oficializada que se vive em muitos estados brasileiros, pelo
narcotráfico, as vidas das camadas mais pobres são massacradas todos os dias,
enquanto a força policial provém dessas camadas também, causando uma síntese
desumana e de sobrevivência. O porte de armas pode agravar mais ainda, pelo
fato também financeiro de armas serem caras, e apenas classes mais altas
hipoteticamente teriam acesso a isto.
Essa breve exposição do que a
população carioca e de vários estados se colocou contra mostra que a onda
fascista chegou e só anda ganhando mais poder, faltando muito pouco para a
eleição. O ato foi programado por via da rede do Facebook com o grupo “Mulheres
Unidas Contra Bolsonaro”, mais de três milhões de integrantes mulheres se
organizaram junto com outros movimentos sociais que aderiram à causa.
Quantitativamente esse ato superou muito a média dos últimos meses, já que as
maiorias das manifestações estavam sendo reprimidas pela força policial carioca
constantemente, afastando muitas camadas para juntar à luta na rua. O período
que nos encontramos de fato precisa de uma resistência muito forte e
estratégica contra o fascismo, que no caso desse ato sua aplicabilidade não foi
concreta a ponto de tomar conta do território do ato, mesmo com a grande
quantidade de pessoas. Foram avistados grupos específicos infiltrados dentro do
ato, com simbologias referentes ao nazismo, além de blusas referentes ao
próprio candidato. As tentativas de afastar esses indivíduos foram isoladas e
abafadas.
Nas ruas aos arredores a
concentração haviam pequenos grupos suspeitos, havendo até um caso de
perseguição a um grupo de manifestantes mulheres quando se retiravam.
Movimentos e coletivos também apontaram presenças estranhas que estavam sob
suspeita de infiltração. Esse ato foi uma das poucas vezes, quem sabe a ultima,
que teria uma chance de resposta popular contra essa figura fascista indo a
caminho da eleição, já que recentemente temos vários casos que não são isolados
de agressão e morte de militantes de esquerda, e lidar com esses fatores pacificamente
não parou e não vai parar os casos de morte e perseguição gerados por esse
Estado, que agora esta em perigo de nem ser democrático. Um levante da população
que realmente fosse incomodar e sair dessa aparente inércia, considerando até o
glorificado ativismo virtual que gera grande comodismo em ações mais práticas,
esse ato foi à oportunidade perfeita para aplicar alguma estratégia, mas se
desenvolveu com uma programação e marcha com uma faceta mais carnavalesca e
tendências pacifistas.
O fim foi na Praça XV com
programação cultural e um palco extenso para as apresentações com um mar de
manifestantes. A disputa eleitoral ocorrerá no dia 7 de outubro, em primeiro
turno, e no dia 28 de outubro, nos casos de segundo turno. O voto é de extrema
importância assim como os programas e históricos dos candidatos. Além do mais
essa eleição anda sofrendo ataques institucionais, como por exemplo, o
cancelamento do direito de votos de eleitores devido ao processo burocrático da
biometria, e curiosamente os títulos cancelados foram principalmente no norte e
nordeste, tendo um grande eleitorado de esquerda. Numa situação de perigo de
uma nova ditadura grita-se pela importância de lutas conjuntas nas ruas e no
voto, para manter e resistir por direitos essenciais da população.