JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
Não existe um fenômeno Bolsonaro. Existe, sim, uma situação de mal-estar difundido na sociedade, sobretudo nas classes pobres, devido à situação de depressão da economia e, principalmente, de alto desemprego e subemprego. A posição de Bolsonaro no primeiro turno é a expressão da omissão das elites dirigentes, dentre elas o PT, em face da crise social sem precedentes que está sendo experimentada pelo país desde 2015.
As elites cultas não compreendem porque a crise de desemprego passou ao largo do governo Temer e acertou em cheio o PT, a partir de 2015, quando o PT já tinha sido deposto do governo junto com Dilma. A razão é simples: as massas não distinguem as cores das elites dirigentes. O PT foi governo durante tanto tempo que o povo o associa inexoravelmente às forças que estão no poder, mesmo que em situação de oposição, como é o caso.
Temos uma taxa de desemprego da ordem de 27%, neste caso quando se considera também o subemprego. É mais de um quarto da população economicamente ativa. Um quarto da população ativa desempregada foi o número mágico que desencadeou o nazismo na Alemanha e, no caso oposto, o New Deal dos Estados Unidos. Portanto, nossa escolha não é entre Bolsonaro e Haddad. É entre o nazismo e um ambicioso programa de pleno emprego.
Amigos meus, pessimistas, acham que a situação favorável a Bolsonaro evoluiu de tal forma que se tornou irreversível. É um engano. Tudo depende de Haddad. Ele tem muito mais credibilidade que Bolsonaro para inverter o quadro a seu favor lançando um programa de credibilidade para o resgate do emprego no Brasil. Claro. Se mantiver uma campanha convencional, de promessas longínquas, será derrotado. Mas isso não está escrito.
Uma frase solta na campanha de Clinton rodou o mundo como expressão de acuidade eleitoral: “É a economia, estúpido”. Aqui não é diretamente a economia. É o desemprego. A economia entra indiretamente como fator de desemprego, mas não é, em si mesma, um fator de mobilização de massas nos estratos sociais mais baixos que não fazem associação entre depressão ou recessão econômica e sua condição individual de desempregado.
Se a linguagem econômica fosse suficiente, candidatos como Lindbergh Farias, um gigante na luta contra a degradação da economia brasileira, não teria perdido a eleição. Além disso, ele pertence ao comando difuso do Estado vindo do tempo em que o PT era poder. Isso também prejudicou o mais destacado crítico da política econômica de Temer, Roberto Requião, associado equivocamente na cabeça do povo ao sistema de poder vigente.
A pergunta que o povo se fez nessa eleição, antes de votar, foi simples: se a democracia provoca um desemprego tão grande, por que não experimentar o nazismo? Do ponto de vista prático, é quase irrespondível. Ou é respondível de uma única maneira: oferecendo ao povo, com sinceridade, um programa real de promoção do pleno emprego, ou de desemprego zero, o que está perfeitamente dentro das possibilidades do país.
O fator que favorece Haddad é que ele pode dar essa virada com credibilidade em favor de um grande programa de expansão do emprego, enquanto Bolsonaro já queimou suas caravelas entregando antecipadamente a economia a um neoliberal radical que só pensa em privatizar empresas, indiferente à questão do emprego. Eleições se mudam em 24 horas. Há tempo para Haddad convencer o povo de que fará uma política de desemprego zero. Basta sinalizar a sua assessoria: “É o desemprego, estúpido!”